Quatro anos atrás, eu tive uma ideia. Simples, otimista e deveras ingênua. Pensei que era capaz de escrever bem o bastante para viver disso. Na falta de um termo melhor para a arte em questão – talvez inefável insista em ser o melhor jeito de descrever o que envolve o trabalho de dar vida à pessoas, lugares, eventos e informações importantes – chamaram isso de ser jornalista. Soou tão bem quanto qualquer outra suposta boa ideia que eu já tive até então. Não era necessário mudar de cidade, dizer adeus aos amigos ou colocar meus antigos pertences à venda para aliviar o peso da mudança. Mas assim como a ideia de recomeçar como um jornalista, havia algo a se considerar na noção de que talvez fosse melhor abrir uma nova folha em branco do Word em todos os aspectos da minha vida.
Se é preciso perder tudo para realmente conseguir se encontrar, um novo CEP parece fazer sentido à equação.
Foi assim que eu cheguei à Foz do Iguaçu: sem conhecer a cidade, sem ter por onde começar e, como costuma ser nesses casos, sem nada a perder. Levou um tempo até que minha matrícula em Jornalismo se concretizasse, e um pouco mais até que entendesse o que a prática profissional exigiria de mim. Mas eu estava disposto a apanhar/aprender, e trabalho após trabalho, matéria após matéria, eu finalmente ouvi a notícia do meu coordenador – uma que, confesso, não esperava ouvir tão cedo. Cinco meses de teorias básicas, noções de pirâmides invertidas e histórico da profissão depois, eu ouvi: “Gostaria de trabalhar na televisão? O jornal laboratório da faculdade tem uma vaga aberta para pauteiro. O salário é simbólico, mas a experiência é riquíssima”, ele disse. Só não aceitei naquele mesmo momento, porque não era mais o responsável por minhas finanças – cortesia da mudança.
Um dia depois, lá estava eu: amedrontado, suando frio, nervoso ao bater na porta da redação de um telejornal pela primeira vez. Depois de duas tentativas em vão, decidi eu mesmo abrir a porta. Se era uma metáfora para a vida profissional, eu não sei, mas as palavras do meu coordenador me vieram à mente, dias depois. “Não importa qual é o seu talento, é a sua atitude que determinará se você terá um espaço no mercado ou não”. Eu não tinha talento, salvo alguns períodos bem construídos em folhas de papel e páginas do Word até então, mas eu mesmo abri aquela porta.
Algumas semanas depois, recebi parte do meu primeiro salário – e foi tão simbólico quanto me alertaram. Mesmo assim, eu estava feliz. Não comemoraria minha independência financeira tão cedo – se é que farei isso um dia – nem quitaria exemplares significativos da minha coleção de boletos, mas era um começo. E naquele dia – uma sexta-feira, diga-se de passagem – eu decidi fazer jus a uma das notícias que havia pautado naquele dia; a inauguração de uma feira noturna em um bosque da cidade. Convidei minha família para ir comigo e, em um pequeno instante de espontânea auto-realização, atingi a catarse da minha decisão. Com o dinheiro de um dos plantões que havia feito no trabalho, banquei a experiência gourmet da minha família – com três pastéis e três coca-colas.
E foi assim que, depois de quase um ano desde a minha ideia de tornar-me jornalista, eu paguei um jantar para a minha família com o meu primeiro salário de (estagiário) jornalista. O que me faz pensar, quatro anos depois, como eu não vejo a hora de conseguir fazer isso de novo – sem os parênteses, dessa vez.
Faltam 46 dias para perder os parênteses. Outra mudança está por vir. Só não sei se meu CEP estará incluso de novo.
Filho, vc a cada dia que passa se fortalece até chegar ao topo. Te amo .
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