Talvez um pouco desalinhado, confesso. Coisa que, diga-se de passagem, é a única tendência seguida globalmente em 2020. Mas é óbvio que não estamos falando do resto do mundo aqui. Claro que não. Estamos falando de mim. E, preciso admitir, estamos falando do quanto eu não sei o que fazer com essa tal liberdade.
Diagnosticada recentemente por, bom, eu mesmo, a Síndrome de “Só Pra Contrariar” é um daqueles fenômenos mais corriqueiros do que se imagina, porém perdem-se em meio a tantos outros lugares comuns. Há quem diga que confunde-se muito com o Complexo de Meter o Louco, mas há controvérsias. Até porque, se parar pra pensar, Meter o Louco envolve foco. E não estamos trabalhando com foco ultimamente.
Tudo isso só serve de pano de fundo para o meu atual estado de espírito. Algo entre a prosa de Fernando Pessoa (“Tenho em mim todos os sonhos do mundo”) e a melodia do SPC (“O que é que eu vou fazer com esse fim de tarde?”). Ambos igualmente repletos de significado, mas alheios a qualquer parâmetro em comum. Salvo agora por esse pequeno rascunho crônico.
Quando algo pelo qual você lutou tanto chega ao fim, o que resta? Ou, mais especificamente: quando se ama muito alguém, mas as peças do quebra-cabeça infinito que compõem uma vida a dois não se encaixam – ao ponto de você sequer conseguir vislumbrar a imagem inteira que seria disposta ali – para onde o amor vai? O que ele se torna? Você simplesmente começa de novo da estaca zero? Mete o Louco até que algo volte a fazer sentido?
Eu ainda não tenho as respostas para nenhum dos questionamentos que me rondam, mas passei a recompor os fragmentos de quem eu costumava ser antes de todos aqueles planos a dois se formarem em mim. Começando por uma trilha sonora mais atenta a quem eu gosto de pensar que sou. Entre todas as incoerências do mundo – pandemias inclusas – um eterno apaixonado. Por quem, eu não sei. Mas esse sempre foi o meu ponto de restauração quando tudo parece aleatório ao meu redor.
Estou reaprendendo a ser solteiro, começando pela sutil distinção de que isso nada tem a ver com estar sozinho. Partindo de playlists antigas para reencontrar o meu ritmo. Tentando vivenciar novas experiências na esperança de que os velhos padrões se rompam para sempre. E, claro, lutando contra conceitos abstratos como “para sempre”. É um processo. Tenha paciência comigo.
Ao que parece, longos olhares ao horizonte, lágrimas escondidas sob o sol, devaneios acerca do rumo que a minha vida pode tomar daqui pra frente, e clássicos musicais da minha juventude (ou o que ainda resta dela), são os planos mais concretos nos quais posso me apoiar agora. E caso você esteja se perguntando, a resposta é “não”. Nada disso envolve pagode.
Só pra contrariar, meus tons nunca saem de moda. Seja por palavras soltas que preenchem uma folha em branco, ou por um amor recém liberto por mim, na esperança de que ambos encontrássemos o que procuramos. É aí que você começa a descobrir o que realmente significa o amor: abrir mão de todos os outros sonhos do mundo pelo de outra pessoa, ou ser livre e continuar em busca do que pode fazer você feliz.
Nem que seja por um fim de tarde de cada vez.
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