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Nós quase tivemos tudo


Amor é... 

Algo a ser descoberto, definitivamente. Não é a toa que existem poemas, sonetos, contos, curtas, longas e todo qualquer outro tipo de formato possível e imaginável, dedicado a tentar defini-lo. Nenhum conseguiu, tampouco conseguiria, assim como eu jamais conseguirei. Ao menos, não de uma forma que faça sentido para você. Porque isto aqui não é sobre você. Desculpe decepcioná-la. Só você saberia dizer o que amor é – ou não é, ou o quão próximo ele realmente chega a ser de alguma outra coisa familiar a ti. Isso aqui, no entanto, é sobre mim. E o amor, bom... 

Amor são reticências.

***

Não é que seja disfuncional viver à procura de uma resposta. Só entenda que tudo é uma questão de prioridades, que só existem 24 horas em um dia. Tempo que se torna insuficiente depois que você chega a uma certa idade. Não o bastante para que faça sentido ser nostálgico e melancólico, mas o suficiente para deixar de ser inocente sobre certos conceitos. E talvez nenhum outro conceito seja mais chocantemente desconstruído ao longo do tempo do que o “para sempre”. 

Vinicius de Moraes certamente sabia disso, ou aquele soneto não estaria enraizado na minha memória até hoje. Quer dizer, só as molduras dele, pelo menos. A primeira e a última linha que, para mim, sempre parecem resumir muito bem entre si o que o amor era, é, e poderia vir a ser, em toda a sua transitividade. 

“De tudo ao meu amor serei atento… mas que seja eterno enquanto dure.” 

O que mais há para ser dito? Fez sentido para mim. Ainda faz.

***

Existe uma palavra para definir aquilo que é incapaz de ser descrito. Quando não há como ser expresso, ou um termo específico para descrever determinado objeto, concedemos a ele/ela/aquilo o conceito de “inefável”. Mas amor não é algo vazio de conceito ou significado - o que, por sua vez, justifica porque não dizemos que amor é inefável. Não mesmo. Amor é outra coisa. Mais do que isso, certo? Muito mais…

Mas o que, exatamente?

***

Dependendo de como você desenha um coração, pode parecer um pouco com linhas opostas interrompidas. Como se algo tivesse chamado a atenção no meio do caminho e elas cederam em direção àquilo. 

Talvez isso explique a necessidade de ceder em relacionamentos. Assim como explica o que acontece quando você desenha errado, ou se descuida entre os traços, ou simplesmente perde a mão. As linhas, em vez de se encontrarem, seguem cada uma seu rumo. 

Paralelas, independentes, constantes.

***

Vez por outra, na ausência de um raciocínio mais lógico, também passamos a nos perguntar o que o amor não é. Como se fosse possível chegar a uma resposta por eliminatórias. Mas sabe o que acontece quando se descarta alternativas? 

Você acaba sozinho.

***

Quanto mais pensei nisso, mais pensei que amor é mesmo o que tivemos. O que vivemos. Amor é respirar fundo uma, duas, três vezes antes de dizer algo insensível. Amor é ceder a uma noção disforme de derrota e pedir desculpas mesmo sem entender que fez algo de errado, só para que a paz volte a reinar. Amor é quando todas as músicas ecoam o seu nome. Amor é quando certas palavras doem ao serem lidas - isto quando nem necessariamente chegam perto de falar de amor. 

Amor é um nó enlaçado a dois, que aperta com a distância e afrouxa com o toque. Amor são mãos dadas no shopping. 

Amor é, inclusive, o que dissemos que havia ali aos montes, mas não o bastante para nós. O que me faz pensar que nós quase tivemos tudo, e o quão irônico é pensar que amor, entre todas as suas interpretações, deixou a desejar. Como diria Fernando Pessoa, em outro trecho atemporal: 

"A vida inteira que poderia ter sido e que não foi..."

Nós quase tivemos tudo - inclusive a resposta. Agora aqui estamos, de volta às reticências.

Amor é…


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