A promessa
em si vai além disso – ainda que acabe dando a volta e retornando aos
destilados eventualmente. Era alguma coisa sobre amor, pra variar. Sobre razões
para acreditar, momentos que façam a vida valer a pena e umas trilhas sonoras
infames para acompanhar. Porque a verdade é que, anos atrás, eu costumava ser
movido por romance, não rodízios, e amores, não álcoois. Não se tratava de
precisar de alguém para amar, mas de simplesmente ver mais sentido numa vida à
dois. Algo tão frustrante quanto inspirador na mesma proporção, com desvios de
conduta entre um ponto e outro.
Para quem
não conhece, eis o compromisso que carrego por anos: “O mundo não é mais um
lugar romântico. Algumas pessoas, no entanto, ainda são, e a elas cabe uma
promessa: não deixe o mundo vencer”.
Aconteceu
que, de lá pra cá, o mundo não só venceu inúmeras vezes, como deixar de
acreditar tornou-se mais tendência do que qualquer alternativa. Porque depois
de tantos primeiros encontros, segundas intenções e terceiros strikes, o que
resta senão os arrependimentos errados e músicas tristes? Os vinte e muitos
podem parecer rasos em retrospectiva, mas não é à toa que dizem que são eles
quem formarão o seu caráter. Ou seus traumas – depende da interpretação.
Mas ao mesmo
tempo em que eu penso no quão libertador deve ser deixar de acreditar, isso
invariavelmente me assombra. A ideia de que nada disso possa ser real:
parcerias, comprometimento, cumplicidade. E se não for, qual é a verdadeira
alternativa? Sarcasmo, olheiras e dorflex, quem sabe.
A outra
temível verdade é que mesmo quando tudo dá errado, eu continuo
irremediavelmente atraído pelos clichês. Abrir a porta do carro. Perguntar como
foi o seu dia. Levar café na cama. Escrever sobre você. Mandar rosas a você. Tudo
que possa existir antes e depois de andarmos de mãos dadas no shopping. Se a
vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo outros planos,
significa que algum norte inicial é preciso seguir. Preferencialmente na mesma
direção do que deseja alcançar. Ser solteiro é divertido, apesar de aleatório,
mas ter a quem perguntar como foi o dia são outros quinhentos. E, convenhamos,
existem vícios mais nocivos que romantismo. Ironia, por exemplo.
É por essas
e outras que apesar de toda crença que ainda exista aqui, eu vou aprender a me
conter. Tal como os deslocamentos desnecessários, é preciso saber como, quando
e onde o romantismo realmente cabe – e onde ele definitivamente não se encaixa.
Só há um problema nesse plano: esperança é algo involuntário demais para se
manter sob controle. Por isso é tão difícil, digamos, pensar em você e dizer a
mim mesmo que não mandarei rosas. Justamente quando rosas combinam tanto
contigo.
Talvez o mundo não tenha vencido. Quem diria?
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