Já deve ter acontecido com você. Ele e ela se conhecem e a atração é instantânea. Em questão de dias, deixam de ser teoria para colocar em prática todos os sonhos que guardavam para si, até descobrirem que aspiravam por uma vida em comum. Logo mãos dadas no shopping evoluem para pernas cruzadas nos lençóis, emojis de coração ao lado dos nomes de contato no celular, e uma miríade de frases que começam – e terminam – com a mais íntima de todas as conjugações: a terceira pessoa do plural, nós.
É fácil se perder em um romance. Tão suave e imperceptível de se descuidar como entrar em uma piscina aquecida sem saber exatamente se ela dá pé ou não. Entrar na vida de alguém requer essa coragem: noção o suficiente para entender que não se sabe aonde está se metendo, mas conforto o bastante para ficar à vontade nas profundezas de outra pessoa. Algo que pode ser ridiculamente apaixonante e, como via de regra, desgraçadamente não recomendável ao mesmo tempo. Isto é, depois de já ter se afogado algumas vezes.
A verdade é que não é difícil imaginar as coisas que poderíamos fazer por amor. Em se tratando de romances, as histórias se repetem nesse sentido. O mocinho deve enfrentar os mais desafiadores obstáculos para provar seus sentimentos à amada, enquanto ela o observa de longe e torce pelo seu sucesso pois cada momento de superação é uma prova certeira de que devem mesmo ficar juntos.
Parte da culpa dessa visão distorcida é da Disney, claro. Outra fração é resultado de filmes pornôs com narrativa. Mas o ponto de partida é sempre o mesmo: a jornada do herói, a ideia de que princesas existem e, no ápice dos devaneios, a crença de que “felizes para sempre” é mais do que um clichê de livros de ficção, mas algo a ser alcançado vida afora.
Apesar das histórias que ouvimos por aí – sobre casais felizes que realmente fazem esse negócio de relacionamentos dar certo – as desilusões são inevitáveis. Um dia você vai gostar de alguém, vai se encantar por alguém, vai se surpreender com o quanto está disposto a abrir mão por alguém, e vai criar uma playlist de músicas tristes para se remoer nas lembranças de alguém que trocou seu “nós” por outros. A gente nasce, cresce, se apaixona pela pessoa errada, não aprende a dizer adeus, e morre. O que acontece entre uma coisa e outra, no entanto, ainda vale ser vivido.
Claro que é exagero. Extrapolar os fatos, em se tratando de amor, não é só literariamente aceitável, mas literalmente inevitável. Amar alguém – amar de verdade – coloca à prova todas as verdades absolutas que você gosta de pensar que já decifrou da vida. Faz com que o mundo vire de cabeça pra baixo, e o pior: faz você acreditar que ele parece melhor assim.
Amor, não importa o contexto, é sempre de tirar o fôlego, acelera o coração, cria borboletas no estômago, entre tantas outras metáforas nas quais nos agarramos para tentar ao máximo aproveitar tudo aquilo que aquela pessoa nos faz sentir. Amor é o supra-sumo da existência. A hipérbole das expressões. A prova mais próxima do que Fernando Pessoa tentou dizer ao se referir a “todos os sonhos do mundo”.
E é por isso que passei a carregar comigo mais uma promessa: o que nunca farei por amor de novo. Porque depois de tantos relacionamentos – reais e imaginários – é preciso definir um manifesto concreto para seguir adiante. E diante de tudo aquilo que o amor pode ser, é preciso ser sincero consigo mesmo sobre o que estamos mesmo dispostos a fazer por ele. E é aí que mora o segredo: não se trata do que fazemos por amor, mas por quem fazemos.
Talvez você não tenha passado por isso, e eu sinto muito. Acho que todos deveriam passar por isso, pelo menos uma vez, nem que seja para sobreviver e contar a história numa mesa de bar depois – exibindo as cicatrizes com o orgulho de quem lutou bravamente pelo que acreditava e venceu uma guerra (contra o seu próprio orgulho).
Quanto a mim, fica aqui o meu juramento: o que eu nunca farei por amor de novo é ser desleal a ele ou, principalmente, a mim. E tenho dito.
Texto bastante reflexivo.
ResponderExcluirme fez pensar:o quanto às vezes, anulei à eu própria, por AMOR.
Sou quase que obrigada a comentar,que disse seu empoderado tema,e em voz alta,à mim mesma.
E agora a pergunta de eu para ti que fica é: -Ainda existe a playlist de músicas tristes?