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Pela última vez em Londrina


Este é o fim. Por bem ou por mal – ainda que, convenhamos, mal pela maior parte do tempo – 2020 está com os dias contados. Só o que resta é matar tempo, beber em horário comercial e decidir de qual lugar você pretende assistir aos fogos de Copacabana pela televisão. Esse parece ser o modus operandi padrão para qualquer noite de Ano Novo, exceto por aqueles que já fugiram para algum litoral alternativo ou, alheios a qualquer vestígio de sociabilidade, aqueles que optam por ir dormir às 23h pelo prazer de fazer piadas do tipo “estou dormindo desde o ano passado!”. Réveillon, no fundo, é como o epílogo de um livro: depois de toda a história ser escrita, desenrolada e resolvida (ou não), realmente não há mais nada a ser dito a não ser por clichês e trocadilhos de mau gosto. Enfim, a hipocrisia.


Ou talvez eu só esteja de mau humor, assim como qualquer pessoa abençoada por bom senso cuja qual optou por não publicar nenhuma retrospectiva dos melhores momentos do ano que passou – provavelmente porque ela só consistiria de um único ponto (“eu sobrevivi”). 


Independentemente de onde você esteja, ou aonde quer que vá parar quando a primeira meia-noite de 2021 soar nos relógios ao redor do mundo, não há muito o que comemorar nessa virada. O que, por sua vez, nos concede a oportunidade e o pessimismo perfeitos para finalmente colocar algumas resoluções em prática. Porque se esse é o último ano do qual queremos lembrar daqui pra frente, por que não deixar para trás também todos os “últimos” da sua agenda?


Algumas desistências sempre foram necessárias por natureza. Os rancores que nos pesam. Os arrependimentos que arrastamos pelo caminho. Os relacionamentos mal-resolvidos. Tudo aquilo que subtrai da sua paz em vez de agregar a ela deveria ser mesmo subtraído da sua vida, e o momento pode ser agora.


Para quem sempre costumava vir à Londrina nessa época do ano a passeio, é a primeira vez oficial em que vivencio o fim de um ano como morador dessa cidade desde os primórdios da minha adolescência. E mais do que nunca talvez seja a hora de colocar à prova exatamente o que eu aprendi dos 17 aos 29 para que, no mínimo, a chegada de um novo ano para o mundo e os infames 30 anos para mim não contemplem mais velhos erros. Maturidade significa entender quando é a hora de cometer erros novos. E pela última vez em Londrina, é isso que pretendo fazer.


Apague aquele contatinho do seu celular com quem não fala mais. Abandone as visitas aos stories para saber por onde ela anda. Faça listas com todas as coisas que quer fazer – os lugares que quer conhecer, os filmes que quer assistir, os quilômetros que precisa correr para finalmente perder os quilos sobressalentes do Natal retrasado – e realmente coloque tudo em prática, um dia de cada vez, Redescubra como é fácil ser a melhor versão de você, mesmo diante da pior versão possível do mundo ao seu redor. Afinal de contas, nós sobrevivemos, não é? Faça valer a pena.


Esses são os meus votos para o novo calendário que está por vir. E a melhor parte de tudo isso é ter tomado certas decisões antes mesmo de qualquer bebedeira desvairada de Réveillon. Talvez essa seja a diferença entre promessas e planos: por mais reconfortante que seja acreditar no amanhã, vez por outra vale mais a pena tomar uma atitude hoje. Quando o Ano Novo chegar, seus planos já estarão em ação. 


Entre todo o planejamento de vida que descobri ser capaz de fazer e finalmente aprender a escrever “Réveillon” sem pesquisar no Google, acho que estou mais preparado para os 30 anos do que eu pensava. Os melhores epílogos, apesar dos clichês, são aqueles que ainda te pegam de surpresa.


Tudo que faltava mesmo em 2020 era um plot twist. Tã-dã!


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