Você acreditou quando ela disse, não foi? Bom, eu acreditei. A verdade é que a pessoa errada pode fazer quase tudo que a pessoa certa faria por você. Quando olhar nos seus olhos, conseguirá transmitir verdade. Quando toca na sua pele, faz toda a química que existe entre vocês transparecer. Quando diz o seu nome, toda a melodia que você nunca reparou antes parece ganhar vida. Talvez só exista mesmo uma coisa da qual a pessoa errada não é capaz: fazer você sentir que é certo estar ao seu lado.
Em contrapartida, toda história de amor inevitavelmente envolve uma faca de dois gumes. É importante reconhecer que, vez por outra, você foi a pessoa errada na vida de alguém. E talvez até pior: você sabia disso, mas não queria abrir mão dela mesmo assim.
Mas é difícil exprimir qualquer empatia pela pessoa errada – ainda que estejamos em seu lugar nesse exato momento. Por que qual defesa há, realmente? O que justifica manter alguém ligado a você, ainda que ela não está tão feliz quanto poderia ser? O que invariavelmente nos leva a tentar responder a essas perguntas nós mesmos: estou tão feliz quanto pensei que estaria ao lado dela?
É nessas horas que me amparo em clichês, por mais famigerados que soem. Clichês nada mais são do que clássicos desgastados, mas clássicos de qualquer jeito. O que significa que suas lições ainda possuem fundamento – você só precisa estar aberto a elas. E em se tratando do que pode ser certo ou errado para alguém – ou para mim – acabei reencontrando aquela celebre frase de As Vantagens de Ser Invisível:
“Nós aceitamos o amor que acreditamos merecer.”
Algo tão profundo, enigmático e melancólico, por via de regra, tende a ser igualmente verdade. E por mais que minha ansiedade ao longo dos anos tenha me empurrado em direção a lugares desaconselháveis, situações desnecessárias e – pasme – as pessoas erradas, quem realmente me colocou nesses cenários fui eu mesmo. Por livre e espontânea vontade. Pela teoria do “vai que...” que nos move eternamente; às vezes em direção a um “felizes para sempre”, às vezes para um desfiladeiro.
E se eu dissesse que tenho medo de ser feliz para sempre? Pior ainda: e se eu dissesse que você aí também tem?
É por isso que as pessoas erradas nos atraem, conforme ecoam os clichês. Acreditamos merecer estar nos braços da pessoa errada justamente por serem o mais familiar para nós do que algo mais parecido com, digamos, felicidade. Tranquilidade. Paz. Talvez a astrologia tenha uma explicação paralela sobre meus signo e seus astros regentes, a necessidade constante de provações e o ascendente em um antigo deus do fogo e da guerra, mas por ora chega. Eu não quero brigar mais – nem comigo mesmo. Só queria aprender a aceitar o que eu realmente mereço.
Nesse exato momento em que você está lendo isso, a pessoa errada não está pensando em você – por mais que você esteja pensando nela desde o primeiro parágrafo. Ela não se importa com suas vontades, seus sonhos ou sua perspectiva de vida. Pessoas erradas, por natureza, sequer tem alguma perspectiva a longo prazo. Além, é claro, de terem a certeza de que você estará lá por elas, para o que der e vier. Prisioneiro de si mesmo, à mercê do outro. Mas algumas prisões existem apenas no nosso coração e não ao nosso redor. Não que isso torne o encarceramento mais fácil de alguma maneira.
A pessoa errada também diz “eu te amo”. Lembre-se apenas de que amor é diferente de cuidado. E ninguém deveria cuidar do seu coração melhor do que você. Caso contrário, qualquer um pode dizer “eu te amo” e fazer dele uma morada. Viver em desarmonia pode ser uma escolha, ainda que deixar de pensar naquela pessoa pareça impossível. Você decide quem permanece na sua vida ou não.
Ou, talvez, na pior das hipóteses, você realmente acredita na pessoa errada quanto ela diz que te ama porque, convenhamos, você não ama a si primeiro. E como era de se esperar, nós aceitamos o amor que acreditamos merecer. Se for errado, será errado. Ou então acredite que exista algo a mais. Alguém a mais.
A vida fica mais fácil depois que você descobre onde é o seu lugar.
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