Perspectiva. Esse é o segredo. De uns tempos pra cá, comecei a realmente pensar sobre o que certas coisas significam. Só não digo que ando em desconstrução porque, ironicamente, já destruíram o termo em si. Mas desde os pequenos e estranhos sinais comuns, até os grandes e profundos gestos, há sempre algo a mais sendo dito. Às vezes, um simbolismo silencioso. Às vezes, um amor entre as ruínas.
As pessoas dão sinais desde o começo de como são. Nós só não gostamos do que vemos logo de cara, por isso é mais fácil disfarçar como se não fossem nada demais – ou pior, como se fossem aspectos capazes de desaparecer com o tempo. Nunca é o caso. E se isso ainda não faz sentido para você, é só fazer a conta ao contrário. Quais defeitos existem mesmo em você, capazes de lentamente afastar outra pessoa? Mudá-los está mesmo ao seu alcance ou, bem como um prédio, um tijolo a menos desmoronaria toda a estrutura?
Quando não era usado em vão, desconstruir-se era mais um exercício a ser aprimorado. Se fosse possível, claro. Porque existem coisas sobre você que, bom, fazem com que você seja exatamente quem é. Livrar-se delas não é impossível, mas a que custo? Para agradar outro? E quanto a você, a mesma pessoa que até então era constituída por tudo isso, saberia viver de outra maneira?
Assim como parece simples ignorar os sinais dos outros e tomar quaisquer mudanças necessárias somente para si, é igualmente fácil deixar-se levar pela ideia de onde pensamos que gostaríamos de chegar. Como se o presente não fosse, bom, um presente tão especial assim. A grama sempre parece mais verde do outro lado – mesmo quando sequer conseguimos vê-la.
Por que ser feliz é tão difícil? Talvez perspectiva seja a resposta.
Se você é como eu, provavelmente está acostumado com o drama. A ansiedade de estar vivo e à espera de um milagre – ou talvez só algo a mais dessa vida. E vive com pressa – sempre afobado, desesperado, trêmulo. Como se não fosse haver tempo o suficiente para ser feliz nessa vida, por isso é preciso correr. À procura do que sequer costuma estar disponível. E frustrando-se a cada passo do caminho. Um ciclo de inquietações que, para a surpresa de ninguém, parece não levá-lo a lugar nenhum – mas que, definitivamente, dá a ilusão de um movimento ainda mais atrativo do que apenas aceitar estar onde se está.
No final das contas, o que há mesmo de errado com onde você está? E se estiver mesmo tão desconexo assim desse lugar, por que te surpreende tanto quando mais ninguém se fixa nele com você?
Perspectiva talvez seja mais do que o segredo, mas a salvação. A ideia contemplativa, contextualizada e caótica de que o mundo tende a continuar sem você quando sente-se decepcionado demais para seguir adiante. Não há porque levar isso para o lado pessoal – acontece com todos nós. Das desilusões aos momentos de fraqueza, todos sentimos aquela incerteza pairando ao redor, em parte sobre nós mesmos. E como é de se esperar, tudo passa a soar como uma emergência. E medidas drásticas parecem fazer sentido, até você se dar conta de que tudo não passa de mais um ensaio sobre ansiedade.
Sim, o mundo segue adiante, mas isso não significa que você ficou para trás. Você não está atrasado, ou perdendo uma competição imaginária contra todos à sua volta, ou deve se sentir indignado por algo – ou alguém – que ainda não chegou, ou sequer apareceu. As pessoas, em particular, dão sinais desde o princípio. Talvez você soubesse logo de cara que ela não apareceria, mas não queria acreditar nisso. Talvez tenha entendido imediatamente que ela não mudaria, mas a alternativa parecia interessante demais para ser vazia.
Por mais difícil que seja admitir que não sabemos às vezes onde queremos chegar, vez por outra vale mais a pena aceitar que estamos exatamente aonde deveríamos estar – sozinhos ou não. Manter-se firme, nesse caso, é ainda mais importante do que viver à espera de algo a mais. Tudo que você precisa já está aqui. E com o tempo você descobre que viver entre deslocamentos é cansativo demais. A real liberdade está em ter a escolha de ficar no seu lugar.
E quando menos se espera, quanto menos se procura, você percebe que há alguém do seu lado. Alguém que decide ficar, porque você não parou de correr em círculos e finalmente estava ali. E o que parecia ser uma emergência revela-se como apenas uma luz que se acendeu.
Enfim, a perspectiva.
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