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Os melhores dias da sua vida

Eu sei que ainda sou um recém-chegado à casa dos trinta e poucos, mas já me sinto seguro o bastante para colecionar (e propagar) algumas verdades absolutas. E antes que você se exalte, respire fundo três vezes: ninguém carrega consigo as verdades absolutas sobre a vida, o universo e tudo mais – isso você só descobre aos 42.

A questão aqui é mais atemporal: seria bom saber que os melhores dias da sua vida estão acontecendo bem diante dos seus olhos, nesse exato momento, se fosse o caso. A realidade é mais severa nesse sentido: você só os reconhecerá à distância, pelo espelho retrovisor, enquanto dias aparentemente medianos parecem repetir os mesmos padrões, problemas e pessoas.

Esse seria um jeito de pensar sobre tais dias, salvo exceção quando se decide rever suas expectativas. Ambição é uma dádiva – sem ela nem sairíamos da cama de manhã – mas percepção é o verdadeiro tesouro. Especificamente: o meio termo que você mesmo pode determinar entre a vida que sempre sonhou em ter, e a vida que pode ter aqui e agora. Um deve prevalecer sobre o outro? Não necessariamente. 

Mas o aqui e agora precisa ser atraente o suficiente para que nenhum dia soe como perdido – e é aqui que a perspectiva faz jus ao seu papel.

Não é preciso esperar chegar aos trinta e poucos para exercitar sua perspectiva de vida. Tire alguns instantes e faça isso agora: ao relembrar tudo pelo que já passou – na última semana, os últimos meses ou o último ano – e nada que lhe vier à mente provocar lágrimas de felicidade ou tristeza, esses sim devem ser considerados dias perdidos. Dias que o moveram adiante no tempo e no espaço, mas nada além disso. 

Algo bom aconteceu? Ruim, eu sei que sim. E quanto a algo inesperado? Algo que parecia impossível? Quem sabe um sonho antigo foi revisitado, enquanto outro se tornou realidade quando já o tomava como perdido. Alguém te fez sorrir na mesma proporção que arrancou lágrimas? E o mais importante: você foi o motivo do sorriso de alguém, em algum momento, entre idas e vidas, mesmo a cem lágrimas de distância?

Essas são as minhas verdades universais, atualizadas e à disposição de quem interessar possa:

- Correr atrás dos outros é cansativo. Correr atrás de si mesmo é viciante.

- Dizer “sim” quando se quer dizer “sim” e dizer “não” quando se quer dizer “não” é a simplicidade mais complicada da vida, até você aprender que ninguém nunca morreu por uma negatória.

- Você só domina plenamente o “f*da-se” com consciência e compaixão quando entende o quão “f*da” se é – e até onde está disposto a doar-se pelo outro. Nem todo mundo merece o seu sufixo.

- Somos seres incessantemente inquietos, impiedosamente neuróticos e inquestionavelmente contraditórios – e somos melhores por isso.

- Seu presente não merece ser refém do seu passado, mas ainda deve algumas satisfações ao seu futuro.

- Você só é responsável pelas expectativas do outro se as plantou em primeiro lugar.

- Não existe um plano de vida aderente a todas as realidades, mas existe uma claridade inegável ao descobrir onde é o seu lugar no mundo. O resto se encaixa.

Olhando em retrospectiva, a maturidade (ou seja lá como se classifique esse sentimento) dos trinta e poucos me faz pensar que a maioria de nós talvez não queira ser totalmente feliz ou realizado – e eu certamente estou incluso nisso. Porque a maioria de nós não saberia contemplar a finitude, ainda mais tão longe do fim. Se fosse mesmo o caso, o que faríamos depois disso? O que mais restaria para querer? 

O que faria você se levantar da cama toda manhã, se o seu eterno talvez desse último mês fosse finalmente respondido?

Toda a felicidade que você procura está a cem lágrimas de distância. A graça da vida existe no contraste, não na constância. Quanto mais perdido se está, mais se tem a almejar. A procura da felicidade sempre foi o nosso maior propulsor; sem ela, nenhum de nós saberia apreciá-la.

Foi assim que eu percebi que fui feliz esse tempo todo. Estive me divertindo por toda parte e sequer me dei conta disso. Mas esse sempre foi o segredo dos melhores dias das nossas vidas: alheios à percepção, constantes em nossa procura.

Um dos melhores dias da sua vida pode ser hoje. Já pensou nisso?


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