Você já deve ter se perguntado isso: como eu cheguei até aqui?
A resposta, bem como a leitura da pergunta, pode atribuir um ar positivo ou negativo. E não depende necessariamente de onde você está agora. É o que eu digo há anos: perspectiva muda vidas.
Se repensar em todos os momentos em que se pegou definindo algo para si mesmo, consegue traçar uma linha reta desde então até aqui e agora? Provavelmente não. Ao contrário do que os heróis nos ensinam, nenhuma jornada é linear.
Algumas tem menos em comum com a Odisseia e mais em comum com a minha cidade mesmo: cheia de rotatórias bem-intencionadas, porém mal executadas. O que explicaria a incessante sensação de que parecemos viver em círculos.
Se pensarmos de uma forma negativa, é fácil cair na armadilha da comparação. Como se todos à sua volta tivessem desvendado o enigma de quem deveriam ser, o que deveriam ser e onde deveriam estar, enquanto você ainda tenta distinguir as pistas.
Tão fácil é cair nisso, que só nos lembramos da magia da edição, dos filtros, do planejamento de imagem, da psicologia das cores, do melhor horário de postagem do conteúdo e da maldição dos algoritmos, quando de fato estamos trabalhando em algo nosso.
Até então, olhando para os outros, é como se sempre estivessem ali: plenos em sua autoridade imediata. Como um grande espetáculo de luz e som, bem-sucedido em sua missão de entreter. Envolvente e emocionante ao ponto de nos fazer parar de procurar os fios que mantém os artistas suspensos. Mas eles ainda estão lá – se você aproximar a imagem o bastante.
Se pensar na resposta de uma forma positiva – e eu fortemente te convido a optar por fazer isso – o percurso volta a ser visível. Clichês seguem vivos por um motivo: seus significados são reais. E tamanho é o clichê do quanto a jornada sempre se mostra mais importante do que o destino, que só lembramos disso no desembarque.
Mas o retrovisor esteve à vista o tempo todo. Por que não paramos para contemplar a distância percorrida, em vez de sempre mirar na estrada adiante?
Claro, nem precisa argumentar o motivo. É preciso olhar para frente se quiser seguir em frente. O problema está em seguirmos em frente por descuido e não por manobra. E entre uma curva e outra da estrada, nos perdemos de nós mesmos.
Outros cenários tomam conta, assim como novos personagens. Sonhos mudam de forma, prioridades se reorganizam e, alguns poucos anos depois, cá estamos nós. Certamente adiante, porém inquestionavelmente deslocados. Como se não tivéssemos aproveitado o bastante, e esse é o ponto.
Quem é você agora? Essa é a vida que esperava? O que te fez feliz antes ainda surte efeito? E as coisas pelas quais lutou tanto: fizeram parecer que venceu enfim? Tire um momento e pense a respeito antes de continuar. O mundo lá fora pode insistir em não parar, mas esse texto irá esperar – eu prometo.
Vez por outra, é preciso lembrar de olhar para trás e recuperar a consciência sobre o mundo que deixamos. Mais do que para pegar impulso, mas para perceber o quão longe você pode chegar. Perspectiva sempre foi o segredo mais às claras que existiu, mas treinamos nossa visão para olhar além do óbvio – e a ironia sempre fica por nossa conta.
Se repassar os últimos anos na sua memória e eles não provocarem lágrimas de alguma forma, considere-os desperdiçados. Viver é tudo aquilo que grandes autores já escreveram: um remendar-se, um desconstruir-se, um revigorar-se, um sonho impossível, uma breve experiência.
Quando recuperamos a perspectiva, mudamos a pergunta. E de “como eu cheguei aqui?”, passamos para “onde quero chegar agora?”.
Quem você quer ser amanhã? Alguém que sente que as coisas estão melhorando cada vez mais, ou alguém que ainda se sente o mesmo? Somos todos reféns das nossas escolhas, sem sequer reconhecer que cada uma delas é um presente – em dádiva e em tempo verbal.
E ao exercitar a memória, você refaz todos os passos que te trouxeram até aqui. Foi assim que chegou, mas não é assim que precisa continuar. Nós só nos esquecemos do quão longe podemos ir. Agora faça um favor a si mesmo e a alguém próximo: repasse esse lembrete.
Alguém que você conhece está questionando a si mesmo e suas escolhas nesse exato momento. Compartilhe perspectiva.
Ainda leio seus textos e continuam ótimos. Sempre almejei um destino linear. Quando não consegui, me perdi, sofri, mas aprendi muito sobre mim e a capacidade de reinventar. Sucesso, Igor.
ResponderExcluirO mais difícil é saber que partes da nossa história não são de fato nossas… temos muita influência de outros…
ResponderExcluirÉ como brincar com 2 cores de massinha de modelar, se você grudar as duas, quando separar uma terá o resquício da outra. Talvez essa seja a ironia, talvez a gente se perca tanto porque partes nossas só são encontradas em outras pessoas…