Eu preciso confessar uma coisa. Por mais arrogante que eu soe, na maior parte do tempo eu mais tento convencer a mim mesmo do que a quem ouse atentar-se aos meus pensamentos. O que nada mais é do que uma nova tentativa de me redimir diante da declaração de um falso absoluto. Se esta não é a sua primeira vez aqui, certamente leu o quão veementemente eu conheço o fim. Bom, adivinha só? Não é bem assim...
Eu achei que conhecia o fim pelas mesmas razões que me motivaram a declarar que conhecia o que vinha antes dele. Mas ao que parece você só pode se certificar de algo ao dispor de tempo e distância suficientes para enquadrá-lo. Enquanto estiver no meio de algo, apenas atravesse a tempestade. Só sabe dizer como é ver a floresta através das árvores quem já trilhou seu caminho fora dela – o que não era o meu caso até então.
Caso essa seja sua primeira vez aqui, recolha meus votos de acolhimento e boa sorte. Nada aqui fará sentido a não ser que você o atribua. Isso é algo que me deixa seguro o bastante para reforçar: escrever é o ato de dar forma a tudo aquilo que perdura em mim sem se encaixar.
Ler é o ato de interpretar as dores como sabedoria e falácias como crônicas, na esperança de que alguma delas se encaixe na sua própria realidade e realize os desejos que o próprio escritor tentou alcançar, mas falhou em alguma preposição no decorrer das palavras. Enfim, sinta-se à vontade para ser compreendido... Ou não.
Quanto a mim, é possível que eu ainda não conheça o fim, mesmo que esteja em meio à superação de um. A vida é feita de ciclos e você não os controla mesmo quando resiste às circunstâncias: essa é a lição mais recente que aprendi enquanto estava ocupado crendo veementemente – e de que outro jeito seria? – no quão insubstituível eu sou/era/seria.
Estou há seis meses na luta contra a realidade de que este será um daqueles anos em que serei obrigado a extrair algum tipo de sabedoria e amadurecer pela milésima vez.
Olhando pelo lado bom, talvez esse processo ajude a estabilizar meu inquietante desequilíbrio entre a imaturidade de quem começou a escrever um blog aos 17 anos, e os cabelos brancos de quem está na mira dos 32 ainda sem saber quem queria ser ou o que queria dizer.
Se as metáforas e a abrangência das palavras te incomodam, saiba que é proposital. A vida não foi feita para ser fácil ou inteligível, então que isso lhe sirva de treinamento.
Faça das suas palavras o seu alicerce ou se apoie nas dos outros, mesmo sabendo que seja lá qual suporte você escolha, ele irá falhar. Porque além de irônica, a vida é temporária. Os problemas são a forma que a vida encontrou de nos distrair quando arriscamos chegar perto demais do seu verdadeiro sentido – que é não ter sentido algum.
Mas durante o meu mais recente devaneio infame, eu me peguei questionando mais do que a natureza do fim, mas sobre a importância dos processos. Nada nesse mundo é fácil, é verdade, mas nada também te prepara para o quão calejado é preciso estar antes de transformar anos de transtornos e adaptações forçadas em sabedoria. O que me fez perceber que jamais conheceremos o fim pois não sobreviveremos a ele, mas ainda é possível entender como alguns ciclos se desfazem.
Insegurança é a última linha de defesa entre quem você é e quem você esperava ser, e quando ela não suprir mais as suas desculpas, a represa cede. E você recomeça pela milésima, mas dessa vez porque pode, não porque precisa.
Foi assim que eu redescobri, em meio aos destroços, o quanto eu ainda tenho a dizer. Isto é, a escrever. É assim que a insegurança acaba: não com um ponto final, mas com reticências...
Se nada disso fez sentido pra você, sinto dizer que ler novamente não irá ajudar. O mundo acaba todos os dias, e esse é um daqueles em que só quem também já acabou por hoje irá entender.
Carpe diem. Volte amanhã.
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