Bom, aqui estamos. Dez anos depois.
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Se estivesse num filme da Marvel, 2020 teria o subtítulo “ultimato” antes mesmo de estrear. Os últimos dez anos e todo o meu universo expandido fariam jus à decisão artística. Mas Kevin Feige não produz a minha vida, infelizmente. O que também explica a triste ausência de efeitos especiais e a incoerência de certos arcos dramáticos.
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Entre todos os autores e clichês possíveis, Thomas Wolfe foi o precursor do princípio de que não se pode retornar ao lar. Ao menos, não ao lar da sua infância, dos sonhos e esperanças de um homem mais jovem, e dos lugares originais do mundo como você um dia o conheceu.
Diz ele, não eu. Se perguntar a mim, a resposta seria diferente. Em algum lugar da coleção de endereços digitais que você percorreu para chegar até aqui, estará a marcação que comprova a alternativa.
Aparentemente é possível sim voltar para casa, ou eu não estaria escrevendo isto a quilômetros de distância dos meus pertences, dos meus animais de estimação, e do amor da minha vida.
E de Thomas passamos para Charles Dickens e sua magnum opus, Um Conto de Duas Cidades. Foi o que me veio à mente quando fui embora de Londrina pela primeira vez, dez anos atrás, e é só no que consigo pensar agora. Isto é, até uma pérola bíblica se impor entre minhas lembranças literárias, antecedendo e contradizendo tudo que tentaram escrever desde então.
Sinto muito, Thomas. Sinto muito, Charles. No final das contas, Jesus teve a palavra final: o bom filho a casa torna. Formado, porém pródigo.
Talvez esse fosse o natural a ser feito. Não é como se os sinais não estivessem por toda parte. Desde a nostalgia que sempre me invadiu ao adentrar os limites do meu município natal, até o deslocamento inerente que me assombrou por anos na Terra das Cataratas.
Não é nada pessoal, e certamente os ambientalistas concordarão comigo. Há um habitat natural para cada espécie. Igor selvagens, ao que parece, devem viver em liberdade num ambiente nortenho e vertical, não ao oeste do calor do inferno.
George R. R. Martin também deixou sua contribuição para minha jornada de herói: “o Norte se lembra”. E não só lembrou como se mostrou estranhamente adaptável à esse que vos fala.
Sabe quando você se sente incomodado, desajustado, e fica se ajeitando na cadeira ao escorregar acidentalmente no assento? Isto é Foz do Iguaçu. Em Londrina, pareço me mover menos do que o habitual, e o melhor: sem a sensação de que estou competindo com alguém, real ou imaginário. O assento acomoda, serve, conforta.
Para não dizer que não falei dos espinhos, a metáfora completa envolve também minha passagem por Cascavel, ou o equivalente a literalmente cair da cadeira.
Enfim, aqui estamos. O ciclo tende a se fechar, e caixas de mudança parecem ser necessárias de novo. Nesse clima, mais um autor merece ter sua citação póstuma adicionada aos registros da minha dissonância literária:
“Uh, papai chegou.” – CATRA, Mr. (2013 d.C.)
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