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Mostrando postagens de outubro, 2020

A utopia das mãos dadas no shopping

É a última vez que falaremos sobre isso, eu prometo. Mas para quem costumava dizer que precisava acreditar que funciona, acho que agora eu só preciso acreditar mesmo que ele, o amor , existe. Mesmo que sua eficácia ou durabilidade seja deveras questionável. E não é porque você se foi que o que tínhamos simplesmente acabou. Vão-se os amores, ficam os sentimentos. Esparramados no chão até que alguém crie coragem de levantar e reuni-los de novo. Na esperança de que possam ser oferecidos a outra pessoa de novo. Amor é como vinho derramado, se parar pra pensar. Você chora porque o perdeu, então respira fundo e abre outra garrafa. Não? Ok, longe demais, eu admito. Isso porque não parece existir uma metáfora melhor do que as mãos dadas no shopping . Eu repito há anos sobre o sonho, o simbolismo e a simpatia envolvidos no menor dos gestos – as mãos dadas – no mais grotesco dos cenários – qualquer conglomerado de lojas de departamento iluminadas por luz artificial fluorescente, sonorizado por ...

Mil e um motivos

Você não pode assustar alguém com seu sonho de querer ser feliz para sempre. Para quem ainda não entendeu, ressalto dois principais motivos para isso: 1) o “ nada sério ” reina em aplicativos de relacionamento e 2) com uma certa idade você descobre que “ para sempre ” dura mesmo umas duas semanas em média.  Dos conceitos que a modernidade líquida nos ajudou a construir, nada me chama tanto a atenção quanto o “ nada séri o”. Do latim “ non factusattachiatus ad ” (pesquise, vale a pena), o “ nada sério ” consiste naquilo que as pessoas dizem que querem quando tentam disfarçar o quanto gostariam mesmo de ter tudo. Só não podem admitir isso para aquele contatinho especial porque, né... Quem diria uma coisa dessas?! É nessas horas que me vejo como o pobre Ted no episódio piloto de “ How I Met Your Mother ”. Depois de um primeiro encontro questionável com Robin, Ted a leva até sua porta e começa a se distanciar até finalmente romper com todo o bom senso que ainda tinha para desenfrear es...

Adultos não existem

Crescer é inevitável. De tanto falarem sobre assumirmos as responsabilidades pelos nossos atos ou da importância de falarmos por nós mesmos, a tendência ainda é que evitemos ao máximo sermos reconhecidos por adultos por aí. Na maior das contradições, relembrando os tempos de criança onde as limitações impostas por “ gente grande ” – como ter hora para ir dormir, não falar de boca cheia e pedir desculpas mesmo quando “ não foi você quem começou ” – dependiam solenemente da equação: tempo + altura = maturidade .  Aí você finalmente cresce e descobre que não se tratava de uma equação tão simples assim. E que, convenhamos, a área de exatas não é o seu forte . Por que estou dizendo isso? Bom, talvez porque não haja dia melhor para falarmos sobre isso. Falando como alguém que acaba de receber um “ Feliz Dia das Crianças ” de uma ex-namorada zoeira, a reflexão parece pertinente. Há anos eu repito que adultos não existem – agora eu gostaria da oportunidade de defender a minha tese, com a...

O fim do começo, ou deixe ela ir

  Parece ser definitivo . O término de um ciclo. O fim de uma era. Um sol que se põe. Escolha o seu clichê favorito para ilustrar uma forma pela qual algo se encerra e o insira aqui. Mas nem todos os clichês do mundo podem atrasar o inevitável. Meus vinte e poucos anos estão acabando. E com eles lá se vão os planos que gostaria de ter colocado em prática para colher os frutos aos trinta. Maturidade é realmente como um financiamento imobiliário: ou você planeja investir nisso com antecedência, ou chega o dia em que descobre que não existe fundamento para os seus sonhos .  E assim como o fim das desculpas para ser imaturo se aproxima, também me despeço da paciência para certas convenções tão características dos vinte e poucos anos. Dos infames jogos de atração aos trágicos vácuos de conversa. Ou como um amigo descreveu tão eloquentemente: a roleta do amor, a dança da paixão, o bingo da sedução, o pega-pega do cortejo, o passa anel apaixonado, a disputa do desejo, entre outros t...