Você não pode pular para o final da sua história sem passar por ela primeiro. Por bem ou por mal, estamos todos fadados a dias insossos de chuva e frio antes de realmente encontrar o nosso lugar ao sol. Mas isso é só a teoria, claro. Na prática, eu mesmo sempre me adaptei melhor aos dias frios e nublados. Não por serem uma metáfora infame de como eu me sinto, logo teríamos muito em comum desde o nascer do dia. Não; é mais simples que isso. A verdade é que, vez por outra, eu prefiro cessar fogo da constante competição imaginária que me rege e, enfim, desacelerar e adiar novas provações até que as condições meteorológicas melhorem.
Resumindo: é o clima perfeito para colocar minha escrita, meus pensamentos e, obviamente, minha perspectiva em dia. Porque algumas coisas só são possíveis com o tempo – mesmo que seja nublado.
Quanto a história em sim, bem... Onde estávamos mesmo? Enquanto esse que voz escreve segue assombrado com o vislumbre dos 30 anos, há mais de uma década que os grandes acontecimentos da minha vida vêm sendo registrados aqui. Entre altos e baixos, idas e vindas, amores reais e ilusórios, seguimos firme já há 12 anos de exatidão – dependendo do quanto você confia no narrador (ou não).
Dito isso, e olhando em retrospectiva, é óbvio que eu nunca iria encontrar aquela que viria a dar fim em uma narrativa específica da minha vida logo nos primeiros capítulos. Algumas pessoas talvez tenham mesmo vindo a este mundo para viver uma grande história de amor: aquele que começa na infância, amadurece a ambos juntos e segue consolidado conforme as bodas do tempo o blindam, do algodão ao ouro, ate que a morte os separe. Invejável, porém indisponível para todos. E a essa altura do campeonato é claro também o quanto eu precisava superar alguns obstáculos primeiro para saber reconhecer não só a ela (quando ou se aparecesse), mas a mim também.
Enfim, aqui estamos nós: 772 publicações, 12 anos, 3 cidades e incontáveis histórias depois. E desde a primeira crônica submetida a esse mundo, eu sempre soube que a jornada seria longa. Bem como ainda levará um tempo considerável para que receba algo similar a um fim. Não é um bloqueio criativo ou o prelúdio de uma tragédia generalizada estilo Game of Thrones cuja qual estou tentando adiar ao máximo – longe disso. A verdade é que eu mesmo quero saber como termina primeiro, para saber se vale mesmo a pensa ser escrita. E como era de se esperar, para mim, só irá terminar quando a pessoa certa aparecer. Alguns clichês, embora deveras irremediáveis, são inevitáveis em se tratando de literatura.
Por ironias da vida, o mesmo impulso que me mantém seguindo em frente, parágrafo após parágrafo, é o mesmo que acaba por me fazer esquecer de olhar para trás. Logo eu que, outrora, era instigado constantemente a rever o caminho pelo qual eu trilhei na esperança de que a estrada adiante fizesse mais sentido. Nunca foi algo benéfico de fato, mas os objetos realmente pareciam menores olhando pelo retrovisor. Os amores que supostamente durariam para sempre, as amizades pelas quais eu tanto prezava, os lugares nos quais eu veementemente acreditava que pertencia. Aparentemente tudo não passou de recursos narrativos, figuração e cenários.
Algumas coisas na vida fazem você sentir como se nunca tivesse dito adeus a elas. Outras, pelo jeito, parecem nunca terem sido suas para início de conversa. A única coisa que realmente cabe a mim é o rumo da minha história. Assim como o único relacionamento, através dos anos, cujo qual passou por diversas provações, dificuldades, momentos inesperados e definitivos, e segue firme para o que der e vier, é aquele que tento manter comigo mesmo. O que, pensando bem, não justifica o meu atual medo de revisitar os capítulos antigos dessa história. Os dramas, turbulências e convalescenças de um garoto de 17 anos que, por incrível que pareça, sempre acreditou que encontraria o amor da sua vida em algum momento. Mais do que isso: acreditava que seu amor seria pertinente o bastante para justificar um grande romance.
O que eu quero mesmo dizer, entre o frio e a chuva lá fora e a inquietude e ansiedade aqui dentro, é que a história ainda não acabou. E como era no princípio e agora é sempre, você ainda não pode simplesmente avançar para a parte boa. Como tudo na vida, interlúdios acontecem por um motivo – cabe a você interpretá-los de modo que façam sentido para o grande arco narrativo sendo construído. Quais lições ainda devem ser aprendidas, eu me pergunto. Por onde ainda andarei antes de encontrar o meu lugar – ou já o encontrei e só não me dei conta disso ainda? E haveria mesmo a sorte de um amor tranquilo à minha espera? Eu não sei. Tudo que faço – tudo que sempre pude fazer – é divagar a respeito, na esperança de que eu me sinta menos inquieto. E que você, caso finalmente tenha aparecido e esteja lendo isso agora, sinta-se menos sozinha por saber que estou chegando.
Pode acontecer amanhã; nunca se sabe. O que sei é que, modéstia à parte, eu quero que você saiba por onde passei e toda a vida que antecedeu a sua chegada, para que entenda quando eu digo que estive mesmo à sua procura. Acreditando que alguns finais felizes são possíveis. Rezando silenciosamente para que cheguemos logo em casa. E que tudo que passou foi necessário de alguma forma para que o nosso reencontro – que já deve ter se manifestado em outros planos, outros títulos, outros cadernos – fizesse jus à história que me trouxe até aqui.
É nisso que eu acredito, ou não estaria escrevendo até hoje sobre amor, sobre você, e sobre a vida que, ao contrário do que Fernando Pessoa diria, poderia ter sido e realmente foi. Mas cada um tem o seu jeito de viver e registrar a sua história para a posteridade. E independente de quaisquer críticas à minha obra, ou quantos volumes foram necessários para que ela fosse completa, entre dias e frio e chuva, temperança e resiliência, eu escreveria o romance da minha vida. Tudo o que sempre precisei mesmo foi da protagonista, mas o melhor sempre resta para o final.
Enfim, seguimos na expectativa. Aguarde os próximos capítulos e não desista de mim; estamos chegando na parte boa...
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