Mudar, na falta de uma palavra melhor, é bom. Não é a toa que existem inúmeros bordões exaltando o quão necessário é estar aberto a mudanças – independentemente se ocorrem por opção ou circunstância. As variações vão do folclore popular – sobre como de nada adianta comemorar a chegada de um novo ano enquanto você ainda viver sob velhos preceitos – à MPB – sobre como é preferível ser uma metamorfose ambulante. E é isso que me assusta no fundo: o inerente, inquietante, incorrigível impulso de mudança. Porque mudar, na falta de outra palavra melhor, também é aterrorizante.
Às vezes me pego na dúvida sobre como reagir diante de comentários de amigos antigos ao se depararem com minhas fotos recentes. “Você não mudou nada!”, eles dizem, claramente querendo dizer que isso é algo bom. Mas... é mesmo bom? Ter o mesmo sorriso constrangido registrado em fotos, diante da bagunça previsível e instável por trás dele que aparentemente segue firme vencendo os testes que o tempo traz, é mesmo algo pelo qual ficar contente? Ou aliviado, na falta de uma palavra melhor.
Outro sintoma que coloca em cheque o paradoxo das mudanças e a invariável personificação da constante na vida dos outros, é o quão perdido eu pareço estar até mesmo com as palavras. É isso, ou então entramos acidentalmente na análise de outra questão: a interminável busca pelo alcance de algo satisfatório “na falta de algo melhor”. Como se as presentes palavras e, consequentemente, as atuais atitudes não fossem boas o bastante. Não que haja um meio real para mensurar isso, exceto mesmo pelos comentários de amigos em fotos e o quão aversivo é para você passar por um espelho e de fato parar para perceber o que é refletido ali.
Se nada mudou, por que não me sinto o mesmo? E se não mudar nada é bom, por que não me sinto feliz com isso? O que realmente muda com o tempo: o que sentimos em relação aos outros ou como nos vemos refletidos neles?
O que diriam sobre você se precisassem te descrever? Pergunto sobre você obviamente porque é mais fácil e porque já suponho quais seriam as respostas sobre mim. “Ele é sarcástico.” “Ele é irônico.” “Ele é engraçado.” Ou pior: “Ele é assim mesmo, mas você se acostuma.” E eu admito que sempre foi reconfortante pensar sobre isso e sentir que havia algo sobre mim que se destaca numa multidão. Só não sei mais se ocupar a referência do cara que revira os olhos para tudo e para todos é um título que pretendo continuar carregando. E se não for... o que mais há para ser? Talvez “o cara que escreveu sobre tudo” ou “o cara que sempre faz perguntas demais”. Ou pior: “o cara cuja escrita ajudou todos a viver melhor, mas que esqueceu de passar a própria vida a limpo.”
Deve ser por isso que as pessoas não vivem o bastante para escrever seus próprios epitáfios. Isso e a incerteza sobre o fim definitivo sobre como se lembrarão de você. Eu fui bom o bastante para os outros? Fui o melhor que podia ser? Ou na falta de uma palavra melhor, eu mal fui o suficiente?
Mudar, na falta de um Igor melhor, até teve seus ápices ao longo da vida – e todos os CEPs por onde passei já são um bom indicativo disso. O restante – os títulos que acumulei, as pessoas que conheci, as vezes que disse “sim” quando dizer “não” parecia ser infinitamente mais conveniente – também servem como lembretes positivos de que mudar é mais que possível: é o melhor.
O único problema com as mudanças é que, como tudo de bom na vida, elas viciam. Mais disfuncional do que recusar-se a mudar é recusar-se a optar por uma escolha entre tantas outras ao seu redor. Não é a toa que o “nada sério”, assim como o acaso, nos protege enquanto andamos distraídos.
Mudar, pensando numa palavra melhor, significa ação. Questionar menos e fazer mais. Assumir todos os riscos de uma escolha e levá-la até o fim, mesmo sem total certeza do que irá encontrar do outro lado. Por isso é aterrorizante: corremos o risco de nem nos reconhecermos mais.
Felizmente, mesmo sem perguntar se estamos prontos ou não, o tempo nos empurra adiante. Esse é o segredo das mudanças: elas vêm por opção ou circunstância. Você decide se as acompanha ou não.
Na falta de uma palavra melhor, eu serei mudança. Feliz ano novo.
Comentários
Postar um comentário