A vida é uma bagunça. Só isso já deveria ser o bastante para te reconfortar. Especialmente se você for como eu, e sente que as coisas estão constantemente fora do lugar. Se a Teoria do Caos estiver certa, não há razão para se preocupar. Não se cobre tanto pelas coisas desorganizadas ao seu redor – seja o seu quarto ou a vida em si que desenvolve fora dele. Não se preocupe: nada vai dar certo.
Claro, essa seria a saída simples. Mas não existe nada simples em nós, exceto o fato contraditório de que somos intrinsecamente insatisfeitos com tudo que nos rodeia. Começando por nós mesmos. Eternamente paranoicos com noções que variam desde perder mais uns cinco quilos até receber rios de dinheiro por um trabalho bem feito.
Mudaram as estações, mas nada mudou. Aplique o conceito de uma raça que vive com saudades do calor no auge do inverno e que, na mesma intensidade, sofre no verão com a ausência dos dias frios de céu azul. Existe uma explicação psicanalítica mais aprofundada, graças à Freud, para dar embasamento à nossa insatisfação, mas prefiro não entrar em detalhes agora. Ironicamente, talvez nem isso satisfaça a sua curiosidade no momento.
Não pense que venho por meio de mais um devaneio infame trazer a chave para a sua inconstância. Longe disso: ando preocupado demais tentando desvendar a minha. Mas depois de quase 30 anos, alguns conceitos tendem a se tornar mais claros do que outros. Assim como alguns devaneios também passam a ser mais infames do que outros. Um deles – escrever – é e sempre será válido graças ao equilíbrio que invariavelmente é capaz de me proporcionar. Outros, como viver à procura de um eterno “algo a mais”, nem tanto.
O inventário em si também é simples de ser feito. Basta relacionar aí na sua cabeça mesmo: quais são as melhores coisas da vida para você hoje? E, indo um pouco além, o que realmente separa você delas agora? Pode ser simples em tese, mas um tanto árduo em execução.
Primeiro é preciso saber identificar o que te faz feliz. Traçar uma rota entre o ponto A e o B é indiscutivelmente mais objetivo. Mas antes você precisa definir bem algumas coisas. Nada demais, realmente. Só onde realmente quer chegar, o que quer que haja lá, e com quem gostaria de dividir esse espaço. O resto, aí sim, é pura conjectura.
Se em mais ou menos 30 anos você ainda não sabe o que te faz feliz, talvez seja preciso elaborar um plano mais detalhado do que meros devaneios mentais. Eu sei que os dias parecem infinitos, caso você tenha a sorte de viver entediado entre as crises do mundo afora, mas é interessante lembrar o quão limitado você é. Não em capacidade, mas em tempo. Seus dias, assim como os meus, são limitados. Sendo bem otimista aqui, creio que nem você nem eu estamos morrendo – ao menos não dramaticamente – nesse exato momento. Mas há, em algum lugar do paraíso, uma ampulheta com nosso nome empurrando grãos de areia para baixo.
A vida é sim uma bagunça. Ajuda pensar nisso quando cair em paranoias do tipo “todas as decisões que já tomei até hoje foram as erradas.” Não existe “certo” ou “errado” no caos; apenas direcionamentos. Até onde podemos chegar com eles é a incógnita, mas isso não torna a equação menos real. É, sim, uma bagunça, mas cada bagunça acabará se desdobrando de um jeito. A sua pode ser totalmente diferente da minha, mas admitir que nenhum de nós realmente sabe o que está fazendo já é deveras acolhedor em si. O resto, bom... O resto a gente dá um jeito. Faz o que pode. É feliz no que escolhe.
De uns dias pra cá passei a relacionar quais são as melhores coisas da vida para mim, e recomendo que você faça o mesmo. Ajuda, no mínimo, a clarear algumas coisas como, por exemplo, onde quero chegar e quem quero encontrar lá. Quando digo que a vida é uma bagunça, talvez a Teoria do Caos possa confundir um pouco as coisas. Sua vida não é bagunçada como o universo, mas é tão bagunçada quanto o seu quarto. E como é de se esperar nesse caso, tem coisas que só você é capaz de encontrar nessa zona toda.
Não significa que deva colocar tudo em ordem só para mostrar aos outros o quão centrado você é (ou espera ser). Só significa que, em meio ao caos, isso ainda faça sentido para você. Mais que isso, na verdade. Que te faça feliz, enquanto dure.
Quanto aos conceitos revistos, um deles foi crucial para definir o que me faz mesmo feliz. A noção de que, mesmo entre as ruínas, regidos pelo caos e pelo inferno que existe em cada um, nós podemos ter tudo sim. Porque delírios de grandeza me fazem feliz também.
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Trilha Sonora de Março (2021) – Disponível no Spotify
01. Sitting, Waiting, Wishing – Jack Johnson
02. Feel Good Inc. – Gorillaz
03. There’s Always Something There to Remind Me – Lou Johnson
04. Piece of My Heart – Janis Joplin
05. Riptide – Vance Joy
06. For All We Know – Nat King Cole
07. We’re All Alone – Rita Coolidge
08. You Can’t Hurry Love – Phil Collins
09. The Best Things in Life Are Free – Robert Morse
10. Glad You Came (Acoustic Version) – Alex G
11. It’s Time – Glee
12. Let Me Entertain You – Robbie Williams
13. The Space Between – Dave Matthews Band
14. Somewhere Only We Know – Lily Allen
15. 100 Tears Away – Vonda Shepard
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