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Mostrando postagens de março, 2018

O outono do amor

Eu sempre considerei o outono como o ensaio geral para o inverno. É a época de transição entre o fim temporário das peles expostas ao sol fins de tarde na beira de um bar, e o começo do nosso reencontro com os cobertores que passam meses guardados em cima do guarda-roupa e as blusas que hibernam enterradas dentro dele. E de todos os cafés e taças de vinho que acompanham a estação mais impiedosa do ano. Mas que, pelo menos, compensa por fazer durar mais os perfumes e embelezar um pouco mais a cidade com aquele tom levemente melancólico e nostálgico que só o ar ridiculamente rarefeito consegue produzir. É durante esta época transicional, em que as folhas das árvores caem para que possam florescer ainda mais belas na primavera seguinte, que as pessoas podem se inspirar a realizar algumas mudanças em suas vidas também. E para alguns poucos sortudos em especial, esta pode ser a hora de dar um tempo com os bares e as madrugadas em claro para passar mais tempo dentro de casa e debaixo ...

Próxima

Eu estou procurando por um “ talvez ”. E pra quem passou os últimos meses intercalando entre reclamar sobre o passado, evitar o futuro, e beber por ambos, isso pode ser considerado um avanço. Mas o tempo – sempre o tempo – tem seu jeito de nos empurrar adiante, independente de estarmos prontos para seguir em frente ou não. A regra é clara: nós iremos. Você só precisa de tempo para se adequar, bom... Ao tempo. Eventualmente tudo volta ao seu lugar. A poeira abaixa, e aos poucos a estrada volta a ser visível. Eu já escrevi sobre sentir que estava voltando ao normal, já divaguei sobre os meus clichês favoritos, e já enrolei sobre como é melhor esperar por algo real do que esconder-se atrás de alguém imaginário. Eu tive um relacionamento. Foi bom por um tempo, até deixar de ser. Ela foi embora, e eu sofri por um tempo. O mundo não parou por causa disso, e aqui estamos.  Próxima? *** Minha inabilidade de abrir mão das coisas e das pessoas é ironicamente proporcional ...

Os momentos definitivos

Eu nunca tive medo de passar o resto da minha vida sozinho. Mas o medo que a gente sente aos 17 reverbera bem mais fundo dez anos depois. Aos 17, eu tinha uma vida inteira pela frente. Pessoas que ainda iria conhecer, relacionamentos nos quais acabaria por me envolver, lugares que viria a conhecer, e experiências que invariavelmente juntaria, fossem elas boas ou ruins. Aos 17, a vida te promete tudo. Dez anos depois, você descobre que “ tudo ” é algo mais que relativo – é inalcançável. Sempre fui, e arrisco dizer que sempre serei alguém faltante. E para quem está perpetuamente à procura de algo mais, “ tudo ” sempre será menos que o suficiente.  Por isso, aos 17, eu não tinha medo de passar o resto da minha vida sozinho. O que eu temia mesmo era passar o resto da minha vida com a pessoa errada. Por isso a cada nova paixão, um mundo se abria diante dos meus olhos. Um mundo de possibilidades, sonhos e felicidade – tudo tão abrangente e abstrato na mesma proporção, que eu seq...

Agonia e ex-tase

Nós terminamos. Não era isso que você queria quando decidiu sair da minha vida? Bom, aqui estamos nós, querida. Separados. Exilados. Finitos. Não conseguimos ser felizes juntos, ao que parece, e não há mais o que fazer a não ser aprender a lidar com isto. Mesmo firmando todas aquelas promessas durante as nossas primeiras conversas, sobre não desistir, não render-se e não desaparecer, alguns compromissos parecem tomar uma forma séria demais, pesada demais, para serem levados adiante. Pelo menos foi assim que eu escolhi entender, para a minha própria paz de espírito. Algo deu errado ao longo do caminho, e você não conseguiu mais me acompanhar. Talvez eu tenha apressado as coisas, ou intensificado demais alguns sentimentos que estavam só começando a conhecer a luz do dia. Eu não sei. E talvez eu nunca descubra qual foi o motivo exato que provocou a sua partida. Mas tem algo que você precisa entender, meu bem: não deixe as minhas palavras te enganarem. Sim, eu ainda passo noites se...

É aqui que eu te deixo

Eu mudei. Os primeiros dias não foram fáceis. Tudo parecia estranho, estrangeiro, esotérico. Aos poucos assimilei o mundo ao meu redor, e a realidade de que ele não era mais o mesmo. Em um tempo invariavelmente paralelo, passei a assimilar também o fato de que as coisas jamais seriam como antes.  Esta parecia ser a proposta da vez: respirar fundo, seguir adiante, e reconstruir. Começando por tentar tornar o desconhecido familiar, passando pelos eventuais descaminhos que a gente toma até entender exatamente como podemos nos sentir à vontade de novo, até a vida enfim voltar algo semelhante à… vida. E só pra constar: não, eu não estou falando do apartamento. Até porque em menos de duas semanas, já fui capaz de restaurar o mínimo de ordem necessária para que a minha rotina possa continuar se materializando, todos os dias. Um joelho ralado pode doer bem menos que um coração partido, mas não é nada comparado aos dias off line, sem instalações hidráulicas e sem superfícies pa...