Tenho uma admiração infinita por histórias tragicômicas, personagens enigmáticos e situações inusitadas. Tanto é que baseio minha própria vida nesses preceitos, mesmo que acidentalmente. A questão é que, quanto mais distópica a realidade, mais atraente ela se torna para o público. Especialmente se o público é inexistente num primeiro momento, pelo visto. Mas depois de superar a minha tradicional inveja da ascensão alheia, e de ser bombardeado pelas inúmeras inserções do rapaz na grade da Globo, eu finalmente parei para admirar o sucesso do case de Gabriel Smaniotto: o cantor cuja performance solitária jamais estará sozinha de novo, se depender da família tradicional sertaneja.
A metáfora é escancarada. Do pior espaço possível da feira, no interior do Paraná, num domingo à noite, diante de arquibancadas vazias (salvas exceções de seus pais) Smaniotto personificou a principal regra do showbiz: o show tem que continuar. Seus maiores fãs estavam ali: pai, mãe, ele mesmo. Se não fizesse justiça a quem o apoiou até ali, ou a si por arriscar estar sob um holofote em praça pública, de nada adiantaria a presença de uma plateia alvoroçada. A lição é eterna: dê o seu melhor, independente da audiência. É o que disseram, por exemplo, para justificar a retirada dos likes do Instagram, e foi o tom que Smaniotto optou para cantar. Detesto sertanejo, mas sou fã de todo e qualquer espetáculo de resiliência.
Certa vez ouvi uma frase icônica de uma das minhas inspirações literárias – Natália Klein, autora do fantástico blog “Adorável Psicose” e protagonista da sua subsequente adaptação para a televisão; ambas em hiato, porém ambas superiores a muita coisa que preciso encarar em minhas linhas do tempo. Em uma de suas crônicas, mesmo em se tratando de relacionamentos e a principal regra dos mesmos (“a fila anda”), Klein foi enfática: “Quando o público não reage, chega a hora em que o artista cansa”. Uma filosofia que aderi por anos, aplicando-a em diversos processos seletivos interpessoais até finalmente encontrar uma que não só reagiu, como fechou o edital e disse “sim” quando a pedi em casamento.
Claro, toda resiliência tem seu limite – há uma linha tênue entre persistência e teimosia que, devo frisar, não é dividida por um contrato com a Globo. A máxima elevada por Smaniotto é a mesma celebrada por Klein: todo compromisso deve ser respeitado, seja em relacionamentos, seja com o público – por mais seleto e familiar que seja.
Convenhamos: Smaniotto atualizou as definições de perseverança. Todos já estivemos em seu lugar, por mais que os nossos palcos e feiras variem. Seja ao dar ou não o seu melhor no trabalho, ou no quanto você se esforça para demonstrar o quanto ele/a é importante pra você, ou simplesmente até onde você mesmo está disposto a ir em nome do seu sucesso – independente de quantas pessoas te aplaudem. É motivacional, é acústico, é fantástico. E só depende de você.
Por isso faço questão de registrar minha admiração por Smaniotto, mesmo que não comungue do mesmo estilo musical – exceto por minhas performances ao som de “Evidências” nas festas de fim de ano da firma. Não sei se levaria o show adiante, assim como já abandonei empreitadas anteriores devido à falta de fãs. Assim como, reconheço, deixei este espaço de lado por um tempo, preso na ideia de que ninguém estaria lendo. Mentira, quase ninguém: oi, mãe!
Um artista deve se apresentar ou um artista deve ser aclamado? Se uma árvore cai na floresta, sem ninguém por perto para ouvir, significa que ela não faz barulho? Entre interlúdios musicais e questionamentos emocionais, há sempre uma corrente filosófica nos afinando. Quem decide se seus acordes irão existir ou não, é você. Só farão barulho se você os orquestrar. Uma boa regra que invariavelmente tenho desapontado com o passar dos meses, em meio a tal vida adulta. Mas ao julgar pelo sucesso de Smaniotto e a determinação de sua nova dinda, Marília Mendonça, talvez os bons ventos finalmente tenham encontrado seu caminho rumo ao Oeste do Paraná.
Situado entre três Países, duas fronteiras e uma multitude de culturas, pontos turísticos e maravilhas naturais, alguma coisa há de dar certo para um escritor. Nem que seja mais histórias para contar além das minhas.
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