Aparentemente, eu tenho a mesma maturidade de uma rede social rejeitada. Talvez um pouco superior a do Orkut, depois dele ter sido banido do Tinder por pensarem que ele era um fake, mas ainda tínhamos algo em comum. “Eu estava no meio de conversas com pessoas, fazendo novas amizades”, disse o turco – algo similar ao que eu estava pensando, antes de me deparar com o resultado do concurso.
Contrariando todas as expectativas possíveis, após uma leitura atenta do edital preliminar, tive um dos meus maiores medos realizados: eu não sou inteligente o suficiente para passar em um concurso público. Ao menos, não de primeira, evidentemente. Foi o suficiente para tomar a atitude mais imaturamente sensata de todas: colocar-me de castigo ao desativar todas as minhas redes sociais.
Bom, quase todas. Em um mundo cada vez mais caótico, tem sido reconfortante encontrar refúgio no Twitter.
Apesar dos pesares, o ano de 2019 tem sido útil para vencer certos medos. Passando pelo trauma de infância que tive com o Chucky, até as neuroses mais adultas como, por exemplo, ser incapaz de me sustentar financeiramente ao auge dos meus vinte e poucos anos.
Nos últimos dias, duas coisas tornaram-se vívidas: um filme trash de terror dos anos 80 tem a exata qualidade que você imagina para ser demasiadamente marcante, e em nenhuma circunstância – atual ou passada – a realidade de ser plenamente sustentável aos 28 é considerada normal.
O mundo é composto por dois grupos: nós e a Kylie Jenner. A prova disso é uma pesquisa no Google, sob as palavras-chave “Kylie Jenner se sente mal”, que não encontrou resultados. Minhas recém-reativadas redes sociais, no entanto, parecem ter a única função de fuzilar minha auto estima a cada café da manhã vegano e horizonte parnasiano que surgem pela barra de rolagem.
No entanto, aprendi algo ainda mais importante sobre mim nesses últimos dias. Especialmente depois de ter meu Instagram roubado, após rejeitá-lo tão veementemente em prol da vida real. Focando em idas à cafeterias chiques e praticando exercícios matinais alheio à necessidade constante de registrar meus movimentos pelos stories.
Aconteceu que, ao tentar verificar se meu perfil estava mesmo desativado, ele tornou-se inacessível por uma invasão remota não identificada. E lá se foram seis anos de fotos, comentários e likes infames. Mas ao parar pra pensar sobre o real significado dessa “perda”, o essencial tornou-se visível aos olhos: eu não perdi nada.
Pelo contrário, havia mais memórias vazias do que relevantes enquadradas naquele feed, ao considerar o volume de publicações: foram 1.419 fotos divulgadas sobre minha vidinha infame, desde 2013 – ano em que obtive um celular compatível com o aplicativo.
As únicas coisas que eu perdi essa semana foram meu medo de bonecos animatronicos dublados por atores no papel de serial killers, publicações de fotos com ex-amigos e lugares onde não frequento mais, e a possibilidade de um cadastro reserva para uma vaga em Curitiba. Nada que não possa ser desligado, dispensado ou desmistificado. As definições de medo foram, enfim, atualizadas.
Depois das péssimas críticas sobre o novo filme do Chucky, a ocultação dos likes no Instagram e minha inscrição em um novo concurso, só fico com a sensação de que um recomeço não só parece necessário, como recomendado por todas as plataformas ao meu redor. Como bônus, o universo fez a maior limpa de todas à minha rede, cortando contatos antigos, indesejáveis e publicitários, disponibilizando uma imagem que nunca havia visto antes no feed:
Melhor do que uma notificação em forma de coração, é reencontrar a paz interior no seu próprio peito.
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