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Quarenta e três dias, ou memórias póstumas de 2018



Tem sido cansativo. De todas as sensações que poderiam ficar marcadas em mim sobre este ano, talvez nada supere o cansaço. A sensação constante de que é necessário superar um obstáculo após o outro, mês a mês, até o mundo acabar. Há quem diga que ser adulto é isso – driblar os boletos de segunda à sexta, recuperar o fôlego nos finais de semana, e fingir demência sobre tudo em recessos e feriados estendidos. Eu não sei. Quanto mais os anos passam, mais tudo parece novidade pra mim. Ou passageiro. Mas em algum momento, você acaba por se perguntar quem é passageiro de fato: você ou as dificuldades. Dificuldades existem desde que o mundo é mundo. Eu causo desordem há meros 27 anos.

Sei lá. Com tudo que acontece com a gente... Seja lá o que esteja acontecendo contigo, mas que não deve ser muito diferente de mim. Por mais que a gente goste de pensar que nossos sacrifícios diários sejam únicos e especiais. Independente de quem for ou aonde esteja, a ironia é a mesma para todos: a luta é diretamente proporcional à facilidade que a gente tem de se perder por aí. E esquecer de quem nós somos, ou o que queremos. O que estamos aqui, e para onde vamos. Por que estamos fazendo isso? E em qual momento da vida você descobre que é isso que deveria estar fazendo?

Ou então: em qual momento da vida você descobre que é isso que gostaria de fazer para sempre?

Uma breve retrospectiva de 2018, mesmo sem contabilizar os últimos capítulos ainda por vir, passa a sensação de que escrevo sobre as mesmas coisas há meses. Anos até, se eu consultar meu histórico. Escrevendo sobre as pessoas que partiram, as mudanças que surgiram, os amores inesperados, as simples complicações, a complicada simplicidade de viver a dois...

Por mais que nada disso faça sentido – se é que fez algum dia – eu ainda gosto de me colocar à mercê de uma folha em branco e ser surpreendido pelas palavras que a preenchem. Por exemplo, eu não sabia que escreveria isso. Não sabia que chegaria até aqui. Ainda que eu sonhe com a noção de ser objetivo e mensurável, o inefável sempre foi mais irresistível.

Ainda me submeto aos meus próprios clichês por sentir que sequer me livrei deles em algum momento. Sobre os exercícios de desconstrução que vivenciei este ano – emocionalmente, profissionalmente, imobiliariamente – eu espero que haja um motivo maior que justifique todos. Espero, sinceramente, que eu tenha aprendido algo, mesmo que ainda não tenha noção disto.

Estou cansado. Perdido, em alguns momentos. Assustado constantemente, mas invariavelmente otimista quanto os próximos capítulos. Das coisas que ainda tenho certeza – as coisas nas quais continuarei me amparando até o mundo acabar novamente: eu gosto desta cidade. Eu me inspiro pelo meu trabalho, ainda que certos arrependimentos me mantenham acordado à noite. Eu tenho uma vaga noção do que gostaria de ser quando crescer, ou ao menos para os próximos cinco anos. Eu gostaria de ser uma pessoa melhor, que bebe menos, corre mais, agradece e respira fundo devido à rinite e não ao medo. E por fim, mas não menos importante, eu a amo. A próxima que tornou-se a última.

Ainda temos 43 dias pela frente até que o último brinde de 2018 nos leve, esperançosamente, dessa pra melhor. Eu não sei se terei mais alguma coisa a dizer até lá, ou se tentarei ocupar o tempo restante com algo que valha a pena salvar este ano. Ainda há espaço em branco nesta folha em particular, eu sei. Seja lá o que aconteça, nos vemos do outro lado. Respire fundo.

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