Eu aprendi uma palavra nova através de uma amiga minha que estava passando por algum momento de crise ou desespero silencioso que eu não pude compreender muito bem quando perguntei a ela o que estava acontecendo. A resposta foi a mesma que acredito que todos nós usamos quando não queremos dar muitos detalhes para não arriscar terminar de estragar um dia que já está cinza demais para nós. Com uma fraqueza em suas palavras e talvez algumas lágrimas aprisionadas em seus olhos, ela disse: "É uma longa história".
Eu posso não saber muito sobre relacionamentos, e em parte me culpo por isto – depois de vinte anos, talvez eu devesse ter um pouco mais de experiência, ou de preferência cicatrizes reais de guerra que não envolvessem apenas amores não correspondidos – mas ouvir aquela resposta me fez imediatamente pensar que por trás daquelas palavras havia dor, confusão e desorientação... Atributos que só poderiam estar acompanhando uma coisa: amor. E foi por isso que, sem nem mesmo ouvir os detalhes, eu apenas confortei minha amiga da única maneira que eu podia: eu a entendi.
Algum tempo depois, eu me lembrei daquela palavra e o que ela significava, e ainda mais, o que ela significava para minha amiga naquele dia. O significado era simples e claro: é algo que não pode ser expresso verbalmente, como um evento divino com tamanha perfeição que era quase impossível descrevê-lo. Eu costumava pensar que isso se chamava insight, mas não. Insight é quando a gente percebe a grandeza ou decadência das coisas que a gente pensa e faz às vezes. Voltando à minha amiga e a sua palavra, foi exatamente a ela para quem corri quando o significado tornou-se claro para mim. E ela entendeu. Era amor, ainda.
Minha história era longa também. Era sobre uma garota por quem eu me apaixonei, mas em vês de me comportar como um homem normal, maturo e civilizado, eu optei por me comportar... Bom, como eu mesmo. E ao deixar meu ciúme criar fantasias faltas e dar ouvidos a rumores que também não tinham tanto fundamento assim, eu empurrei meu amor – e a garota – para longe por muito tempo. Por sorte, minha amiga sempre esteve por perto para me apoiar durante os momentos de fraqueza que tive enquanto ainda permitia a incoerência me guiar, até chegar a um ponto em que era preciso confrontar o que eu havia feito, ou brigar com o resto do mundo por ela. Foi aí que eu percebi que não precisava brigar com mais ninguém; só com ela. E das palavras trocadas, as coisas pareceram finalmente voltar um pouco ao normal. Só não voltou, porque a palavra nova tomou conta de mim.
Ela sentiu a minha falta também, e mesmo depois de tanto tempo sem nos falarmos eu ainda conseguia enxergar nela claramente coisas que pessoas que ainda eram próximas a ela não conseguiam, como a defesa que ela usou contra mim durante as minhas primeiras palavras, a fraqueza que ela sentiu quando eu lhe contei toda a verdade e o motivo do meu descaso até então, e as lágrimas que ela não deixou escorrerem por seu rosto, provavelmente porque alguém a veria chorando e ela teria que dizer que o motivo era eu. Tudo aquilo só me fez pensar que ela poderia me amar também, mas talvez ainda não estivesse pronta.
Eu saí por aí, cresci, amadureci e ainda conseguia enxergar a verdade nela como poucos conseguiam, mas assim como concordamos que sumir da vida do outro por um tempo foi preciso, talvez ainda levaria um pouco mais de tempo para ela perceber que eu poderia fazê-la mais feliz do que ela imagina. O problema foi que, durante esse tempo, quem percebeu que talvez não estivesse apto para dar conta dos sentimentos e das loucuras de outra pessoa fui eu mesmo. Apesar disso, ela... Por ela, quem sabe, eu conseguiria. Mas hoje, agora, depois de tudo que aconteceu, não sei dizer ao certo.
E se me perguntarem o que eu sinto por ela agora, ou por qualquer outra por sinal, eu teria que dizer: inefável. Do mesmo jeito que a minha amiga sentiu, e me ensinou.
Ao som de: We All Fall in Love Sometimes – Jeff Buckley.
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