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O homem do futuro

Não é que envelhecer me incomode. Eu só pensei que teria mais tempo. E ao contrário das pessoas sensatas, que se chocam com a finalidade da vida ao se depararem com problemas reais – como a Reforma da Previdência e a (falta de) perspectiva de uma aposentadoria – eu me choco com distrações aleatórias – como um aplicativo que te deixa velho. Enfim, cada pessoa sofre de um jeito.

A questão aqui não é exatamente sobre os próximos cinco anos, ou os últimos cinco anos. Claramente já passei por ambas as fases. Apesar da constante falta de planejamento coerente e um incorrigível instinto de improviso em situações de crise, esta é a palavra-chave desta vez. Uma que, inclusive, é mais presente em meus devaneios do que eu esperava. Bastou uma breve pesquisa para relembrar o quanto já sofri em meio aos vinte e poucos anos, ao fim da faculdade, em uma fase agoniante do trabalho, ou entre o paraíso e o parnasianismo da vida a dois

Crises são fascinantes, entreveros à parte. Mas assim como a história, só valem a pena ser refletidas na pós-produção. No calor do momento, só o que resta é aguentar firme e sobreviver. Literalmente, em se tratando de envelhecer, quando as inseguranças vem à tona na mesma frequência que as fadigas. Embora a falta de fôlego não me surpreenda mais – um oferecimento: Neosoro – o medo de que os anos passem por mim sem terem sua promessa cumprida é o que mais me assusta. 

Há anos eu repito a mim mesmo: 

“O mundo não é mais um lugar romântico. Algumas pessoas, no entanto, ainda são, e a elas cabe uma promessa: não deixe o mundo vencer.”


O que a sensação constante de derrota e o medo de envelhecer sem ter vivido o bastante tem em comum? Uma variação da famosa crise dos vinte e poucos anos, no ápice do seu clichê juvenil, somado a uma série de neuroses particulares de um autor insistente em sonhar adiante. Acreditando que é possível sim encontrar amor, prosa e poesia entre as ruínas, desde que consiga bancar viver entre elas. Em termos literais: acredito que seja possível sim viver da literatura, mesmo que na forma de jornalismo diário, para pagar as minhas contas e financiar as minhas crônicas pessoais.

Anos atrás eu cheguei à conclusão de que os 17 anos são para comprar a prazo quem queremos ser. Aos 25, a conta chega. E próximo aos 28 (e invariavelmente aos 30, de acordo com a margem de erro do IBOPE), o caixa da vida me informou que estou devendo. Não a ninguém em particular – figurativamente falando, obviamente – mas a mim mesmo.


Exceto pelos dias de mau humor, trabalhar não me incomoda. Pelo contrário: trabalhar faz com que eu me sinta vivo. Contribuir para uma causa, especialmente em se tratando de um produto feito por palavras escolhidas por mim, só reforça o que acredito há anos, desde que cheguei até aqui. É possível sim mudar de vida, deixar diplomas, apartamentos e uma vida familiar para trás, pela chance de alcançar uma paixão real em um mundo desconhecido. E colonizá-lo à sua maneira, como todo bom pioneiro que existe em cada ser egocêntrico, para deixar esta fração do mundo em que vivo, cada vez mais com a minha cara. 

Por isso trabalhar até morrer, embora aterrorizante em todos os outros sentidos, não faça com que eu me desespere aqui e agora. Claro que é uma fantasia, mas eu fico feliz por tê-la, pelo simples fato de ainda ser capaz de sonhar com realidades tão abstratas. O que me assombrou mesmo foi o arrependimento que vi em mim mesmo, naquela maldita foto de velho. Um arrependimento futuro refletido por um jovem – sim, sou jovem – no presente. E já que estamos falando de rascunhos passados, lembro-me bem de uma promessa sobre comprometer-me somente aos arrependimentos certos.

Relembrar é viver, mas sejamos próativos em nome do presente. Começando por apagar esse maldito aplicativo, seguido por sonhos de uma vida em regime CLT.


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