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Mostrando postagens de junho, 2013

Agonia e ex-tase

            Duas coisas que definitivamente não combinam : carência e tempo livre. Porque a combustão desses dois fatores só pode gerar uma das duas possibilidades: ou você acaba pensando em coisas que deveria esquecer, ou acaba fazendo coisas que você imediatamente vai se arrepender. E ambas as alternativas geralmente envolvem o mesmo alvo: a ex-namorada, ou a ex-ficante, ou a paixão platônica que você carrega consigo no bolso há anos, ou o reascender de qualquer outro relacionamento interditado da sua vida que, por um instante, você decide esquecer que foi interditado por medidas de segurança ou bom senso e resolve dar uma relembrada pelos velhos tempos. Ou pela falta de coisa melhor pra fazer.             Se acabou, acabou por um motivo. Por um motivo maior do que vocês, maior do que as risadas que vocês compartilhavam, maior do que o prazer que os lábios dela te traziam. Pode parecer grosso – ou existencial, depende do cliente – da minha parte, mas é realmente tão simples assim

Algo novo

   Com nada para fazer a não ser investigar a profundidade do meu tédio existencial, eu decidi fazer o que qualquer homem normal faz quando fica sozinho em casa. Eu pedi uma pizza, claro. Na verdade eu tenho o que fazer e muito, por sinal. TCC, relatório de estágio, roupa pra passar. Pelo menos a barba anda em dia. Mas as coisas que nós temos que fazer e a urgência delas tendem a ser diretamente proporcionais ao trabalho e a chatice que elas acarretam. O que nos leva a fazer qualquer coisa, como pedir pizza e fingir que nada disso é com a gente.    Eu gosto de ter o que fazer, e isso só perde para o prazer de ter muito o que fazer e resolver procrastinar em vês de produzir resultados. Ultimamente eu tentei me ocupar o máximo que pude para evitar cair no abismo que o meu tédio existencial costuma produzir, e é tudo muito útil e indispensável em teoria, mas na prática não passou de projetos e promessas vazias; coisa que eu também sou muito bom de fabricar.    Na minha lista de afa

O melhor amigo

   18 anos atrás, eu conheci alguém. Eu jamais lembrarei o lugar ou o momento exato em que eu estava, ou até mesmo o que eu estava fazendo. Talvez você se lembre, sua memória sempre foi mais apurada do que a minha. Eu sempre me lembro das datas, mas não exatamente do que aconteceu. Você sempre se lembra de cada detalhe, desde os inúteis até os mais memoráveis, mas não consegue recordar em que dia do mês nós estamos. Exceto por hoje, claro.    Mas nós nos conhecemos e nos tornamos amigos com base em absolutamente nenhum critério realmente – nós estudávamos juntos na mesma sala, tínhamos a mesma idade e a mesma altura, e provavelmente em algum ponto eu fiz algo estúpido ou engraçado – ou quem sabe os dois, porque minhas tragédias sempre foram naturalmente cômicas – e você deu risada. E provavelmente pensou que poderia rir muito mais se continuasse andando comigo. E era legal ter alguém rindo das minhas piadas mais estúpidas, ou dos meus erros mais estúpidos, porém cômicos. Mas tal

Consciente coletivo

   Eu fui pra rua. Confesso que não sou a pessoa mais ativista que já existiu, ou até mesmo a mais bem informada em... Bom, qualquer coisa. Não conheço muito sobre política, mas até aí é proposital. Por incrível que pareça, não gosto de discutir nada que leve a muita polêmica, porque meu coquetel pessoal de egocentrismo e instinto de autodestruição sempre supera minha capacidade de ser humilde e aceitar a opinião de outro ser humano. Mas apesar de tudo isso eu fui pra rua sim. Porque existe algo de errado com este país e eu não concordo. Pronto, é isso. Não vou questionar mais os motivos de mais ninguém sobre ter ido para as ruas se ninguém invocar justificativas para os meus.    O protesto durou cerca de três horas e foi desde o calçadão de Cascavel até a prefeitura, e depois voltamos à Catedral porque disseram-me que, em termos de passeatas e manifestações, o point é ali mesmo. Choveu incansavelmente durante todo o percurso, o que diminuiu o número de participantes, mas quem foi

O grupo de apoio

   A maioria das pessoas tem amigos , festas e confraternizações normais, e eu admiro muito isso. Mas o que eu admiro muito mais mesmo é o que eu e meus amigos temos. Temos festas sim, regadas a muita cerveja e com direito à degustação de vodkas diferentes, e até nos arriscamos em letais partidas de jogos de tabuleiro apostando doses de tequila e o que restou da nossa reputação. E quase sempre sobrevivemos, salvo alguns danos aos nossos egos e piadas recorrentes que nascem depois que a ressaca do dia seguinte passa, mas logo estamos prontos para o próximo fim de semana. E temos confraternizações como qualquer outro bando de amigos próximos. Nossos aniversários não passam em branco – quer dizer, quase todos; não é minha culpa se o Luis nasceu em Janeiro ou se o Chuck só se lembrou do dele na véspera quando já tínhamos outros planos. E quanto às datas comemorativas, como a vez em que eu consegui sair e ficar bêbado sem voltar a pé pra casa da balada, ou mais recentemente o churrasco

O efeito Scherzinger III

   Todo mundo quer um amor pra vida toda. Quer dizer, aqui e agora falo apenas por mim e absolutamente todas as pessoas que já conheci até hoje. Ainda não conheci muita gente para garantir os direitos autorais de uma nova regra vigente social. Enquanto isso, continuo com minha mera e infame afirmação que eu, você e todos ao nosso redor estão cansados de saber e sonhar um pouco a cada dia nem que seja nos últimos instantes da sua rotina corrida e intransigente, quando você finalmente deita a cabeça no travesseiro e pensa: “ Finalmente consegui voltar pra minha cama... Mas seria bom ter mais alguém aqui. Quem sabe a fulana... ” Todo homem sonha com uma Fulana. Talvez não com a mesma fulana duas noites seguidas, mas definitivamente com uma Fulana pra vida toda. Quer dizer, depois de provar uma Ciclana e uma Beltrana, nem que seja só para ter certeza de que a Fulana é mesmo a mulher certa.    Com mulheres não é muito diferente. Sonham com o príncipe Fulano, da província de Fulânia,

Como salvar uma vida

   Ela me fazia sorrir. De tudo é disso que eu mais me lembro. Ela me ensinou a sorrir de novo, quando eu já estava acostumado a aparecer sempre com a mesma cara fechada e aparentemente séria em todas as fotos por aí. Ela me fez questionar mais as coisas. Me fez pensar em tudo que eu costumava dizer e fazer para as pessoas e para mim mesmo, e o que tudo aquilo realmente significava. Me fez perceber que eu falava muito e fazia muito sem pensar em nada antes, ou que eu poderia me tornar um prisioneiro das minhas próprias palavras e atitudes se eu não começasse a me segurar um pouco e, por que não?, cuidar de mim um pouco mais. Ela disse que eu poderia baixar a guarda e relaxar porque ela cuidaria de mim. Eu nunca pensei que seria mais fácil sair por aí sorrindo de novo do que simplesmente baixar a guarda. Anos de decepções podem ser facilmente disfarçados com um pouco de otimismo nos lábios, mas confiar em outra pessoa sem me preocupar em ter um plano B guardado no bolso já é outra h

Reabilitação caseira

    Duas semanas atrás, eu voltei para casa. Pra falar bem a verdade eu nem sei mais qual dessas cidades é a minha casa – a que eu nasci, a que eu cresci ou a que eu amadureci, mas para fins geográficos mais apropriados vamos chamá-las de Cambé, Londrina e Cascavel, respectivamente. Cambé é onde a mãe e a vó moram. É lá que meu antigo quarto fica, que está sempre ao meu dispor quando eu consigo tirar alguns dias de folga da vida em Cascavel para revirar tudo do avesso de novo. Para desarrumar os lençóis da cama, tirar a velha rede do armário para pendurar os ganchos nada confiáveis das paredes, carregar a televisão do quarto da mãe e o aparelho de DVD da sala para a minha antiga escrivaninha (berço dos meus primeiros trabalhos como autor, cartunista, colorista e estudante vagal de ensino médio), encostar a porta que nunca fecha por causa do peso-de-porta-feito-de-pano-da-década-de-oitenta que vovó sempre deixa ao dispor para evitar que a porta bata por causa do vento quando a janela

Redução de danos

   Todo desastre iminente na minha vida sempre começa comigo procurando um amigo para confessar secretamente a seguinte declaração infame, porém fatal: “ Então, eu conheci alguém... ”. Daí em diante é uma lenta, porém derradeira ladeira abaixo rumo à tragédia, vergonha alheia e mil e um argumentos para tentar defender o raciocínio pobre que me levou a percorrer este caminho mesmo sabendo que iria chegar ao mesmo lugar: sentado em um bar com um ar de sabedoria melancólica – só que sem a sabedoria, claro – cercado pelos meus amigos, alguns melhores do que eu e outros nem tanto, que tentam colocar seu repúdio de lado para pelo menos tentar entender o que me fez apertar meu botão de autodestruição mais uma vez. E pedimos uma segunda rodada que sempre serve como anestesia para me preparar para a chuva de “ Até quando você vai continuar com isso? ” e “ Você precisa mudar ” que cai sobre mim sem dó. Enfim, chegamos à terceira rodada, onde todos recompõe sua postura e voltam aos seus lugare

O retorno do recalcado

    Às vezes eu estou errado. Eu tenho algumas habilidades com leitura e escrita, resolução de problemas e pragmatismo suficiente para julgar certas situações como necessárias ou não, mas às vezes eu estou errado. O que quero dizer com isso, então? Talvez tenha a ver com o fato de que cerca de poucos dias atrás, eu finalmente me deparei com o limite da minha arrogância latente e percebi exatamente o quanto é difícil para mim pedir ajuda, ou admitir que cheguei ao máximo que podia, ou simplesmente que – por incrível que pareça – às vezes eu estou errado.    Eu não acredito em inconsciente, ou qualquer outra forma de justificativa psicossomática para os meus recentes transtornos de personalidade que me levaram a dizer coisas sem pensar, a estipular princípios baseados em coisas que não acredito, e a tomar atitudes que não tem muito a ver com a pessoa que eu sempre acreditei que fosse. E quando essas crises batem forte demais e meu reflexo no espelho deixa de parecer comigo e toma a