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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Pela última vez em Londrina

Este é o fim. Por bem ou por mal – ainda que, convenhamos, mal pela maior parte do tempo – 2020 está com os dias contados. Só o que resta é matar tempo, beber em horário comercial e decidir de qual lugar você pretende assistir aos fogos de Copacabana pela televisão. Esse parece ser o modus operandi padrão para qualquer noite de Ano Novo, exceto por aqueles que já fugiram para algum litoral alternativo ou, alheios a qualquer vestígio de sociabilidade, aqueles que optam por ir dormir às 23h pelo prazer de fazer piadas do tipo “ estou dormindo desde o ano passado!” . Réveillon, no fundo, é como o epílogo de um livro: depois de toda a história ser escrita, desenrolada e resolvida (ou não), realmente não há mais nada a ser dito a não ser por clichês e trocadilhos de mau gosto. Enfim, a hipocrisia. Ou talvez eu só esteja de mau humor, assim como qualquer pessoa abençoada por bom senso cuja qual optou por não publicar nenhuma retrospectiva dos melhores momentos do ano que passou – provavelme

O homem do saco, ou Razões para acreditar

Quando éramos crianças eu disse à minha irmã que Papai Noel e o Homem do Saco eram a mesma pessoa , com uma lógica invertida àquela que diziam nos contos por aí. Em vez de trazer presentes para as crianças, o Homem do Saco os traz para os adultos e, aproveitando a viagem e o saco vazio, levava de volta as crianças malcriadas para dar aos pais um pouco de paz no fim de ano. Foi o bastante pra deixar minha irmã apavorada diante de qualquer figura do bom velhinho por anos, bem como a natural aversão a shoppings em dezembro. Me arrependo de ter dito isso? É claro. Ainda acho engraçado? Tremendamente. Maturidade só te leva até certo ponto – dali em diante, seremos mesmo quem somos para sempre. Apesar dos transtornos, tanto minha irmã quanto aparentemente todos que conheço se deixam levar pelas festividades de dezembro. As campanhas publicitárias é que o digam; depois de outros feriados enraizados em sentimentos profundos como culpa (Dia das Mães) e arrependimento (Páscoa), talvez o Natal se

Até que enfim profundos

  A pessoa certa não existe. Sendo assim este texto já poderia terminar, mas antes gostaria de desenvolver meus argumentos. Nem que seja para evitar reverter minha opinião na apelação – do resto do mundo, nesse caso, quando algo ou alguma coisa se disfarçar de sinal de que estou errado. Mas assim como ninguém em sã consciência explica um relacionamento, nada justifica definir alguém como a pessoa certa. O tal amor da sua vida, como eu sempre costumava dizer. Seguindo a lógica, essa figura mitológica só se revelaria no seu último suspiro, certo? Você sente uma pontada no peito, exclama “ era ela! ” e morre. Mas eu posso estar errado.   Tampouco produtivo é passar o tempo questionando sobre quem viria a ser a pessoa certa. Como se a vida não passasse de um filme de suspense onde, no final das contas, há um casamento no lugar de um homicídio. Há até quem diga que tais acontecimentos são mais sinônimos do que parecem.   Depois de anos à procura de algo que nunca encontrei, é fácil

O princípio da incerteza

Dez anos antes de conhecer aquela que seria sua futura esposa, Werner Heisenberg formulou aquela que seria sua magnum opus : o princípio da incerteza . Há quem defenda – com fundamentada razão – que Heisenberg estava mesmo querendo reforçar o quão precisas as partículas subatômicas devem ser para que se possa determinar seus movimentos exatos ao teorizar sua mais famosa hipótese. Mas se o passado cro-magnon e o futuro pós-revolução industrial servirem de alguma análise posterior, eu afirmaria algo diferente: ele fez o que fez por uma mulher . Por nenhuma razão além do que parece ser óbvio: nenhum homem se dedicaria tanto ao estudo das menores partículas existentes que compõem o vasto universo ao seu redor se não quisesse deixar sua própria marca nele – e, quem sabe, impressionar uma colega em alguma festa durante seus anos dourados em Munique. O que faz pensar sobre as minhas próprias certezas – ou, sendo mais preciso e sincero nesse caso, a falta delas. Exatamente quantas certezas al

O infinito (enquanto dure)

  Qualquer um que já teve seu coração partido sabe disso: tempo é o melhor remédio . Claro, como via de regra, o conceito de tempo é relativo. Assim como duas pessoas jamais sentirão a mesma dor na mesma proporção, essas mesmas pessoas tampouco irão vivenciar a passagem dos dias igualmente.   Já faz um ano desde que voltei para Londrina. Há quem diga que 2020 voou, bem como há (grande maioria, eu presumo) quem diga que não vê a hora de que dezembro acabe, natais e réveillons à parte. Como se virar a folha do calendário apagasse tudo de ruim que passou e uma página em branco novinha se apresentasse para nós – pronta para absorver novos desastres.   Voltando aos corações partidos – algo que, se você não tiver tanto juízo, irá mesmo acontecer – eis o verdadeiro segredo do tempo: assim como qualquer remédio, é a dosagem que importa. Pouco tempo pode não ser o bastante para curar feridas. Tempo demais, por outro lado, pode causar amnésia, perda de memória recente, entre outras seque