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Mostrando postagens de julho, 2019

A glorificação da mediocridade

As duas piores coisas no mundo são: depender dos outros e ficar sozinho. Não necessariamente nessa sequência, mas a ordem dos fatores não altera o indulto. São situações que nos prendem igualmente em uma espécie de agonia constante, vulgarmente chamada de “ espera ”. Quando não estamos esperando por alguém que faça o favor de nos responder no WhatsApp, é a espera que antecipa o click do ícone do aplicativo na tela do celular, sem saber se realmente haverá alguma notificação lá.  Costumavam dizer que ser adulto era como se perder da mãe no supermercado, só que para sempre. A verdade é que ser adulto se parece muito mais com uma instabilidade das redes, que derruba todos os meios de comunicação do ar, mas que você nem percebeu porque não estava falando com ninguém mesmo. Não é a toa que meus professores sempre frisaram muito a noção de que talento sempre perderá diante de alguém com habilidades sociais mais afinadas. De nada adianta ser bom em algo, enquanto se é péssimo com os o

Promessa é dívida

Quando digo que o mundo não é mais um lugar romântico, minha ideia inicial sempre tendeu a focar apenas no romance de fato, ao longo da vida. Sobre encontrar alguém com quem pudesse contar, na alegria e na tristeza. Alguém para dividir as derrotas, as conquistas, as promoções no supermercado e as parcelas do cartão de crédito. E, realmente, eu ainda considero importante a noção de que a vida foi feita para ser aproveitada a dois. Sozinho, além de faltar assunto, também complicaria certas logísticas – como guardar seu lugar no cinema para ir buscar a carteira que esqueceu no balcão da pipoca. E três, invariavelmente, é demais.  A essência por trás desse plano é o que realmente importa. O mundo não é mais um lugar romântico e, vez por outra, ele há de tomar o que resta da sua paixão pela vida. Às vezes, o trabalho com o qual você sempre sonhou, desaponta. Às vezes, a cidade cuja qual você escolheu para viver, crescer e – digamos – conhecer mais sobre determinadas regiões de fronteir

O princípio da inércia

Acho que a coisa mais importante a ser considerada de toda experiência é a iniciativa por trás dela. O que separa a felicidade da contemplação é a equação simples, embora fundamental, do clichê “tentativa e erro”. Não necessariamente envolvendo o movimento constrangedor de “o não eu já tenho” e seguir em busca da humilhação. Às vezes, ao chamar uma garota pra sair, ela diga “ sim ”. Ou, ao submeter-se a um processo seletivo, há a chance de que o próximo assalariado do Brasil seja você. Mais vezes do que eu gostaria de admitir, fui adepto ao extremo “ ou não ”. As coisas podem dar certo, ou não . Se podem não dar certo, não vale a pena tentar. Seja bem vinda, inércia.  Pra quem não lembra, inércia é um conceito da Física moderna, referente ao movimento – ou melhor, falta dele – sob um determinado objeto. Outro clichê facilmente adaptável para a vida íntima: “ um corpo em repouso tende a continuar em repouso ”. É a mesma sensação de conseguir resolver mil e um problemas em um só dia

A múltipla escolha

Não existe , ao menos nas minhas pesquisas, um nome ou estudo acerca do suposto medo de ser burro. O que, por sua vez, só contribui para minha mais recente neurose. Como se minha ansiedade, paranoia e insônia precisassem mesmo de companhia para discutir, enquanto tento estudar (ou decorar) os 78 incisos existentes da Constituição Federal. Não obstante, estudar para um concurso público também contribuir para desbloquear duas habilidades, desconhecida até então: a facilidade para guardar mnemônicas, e a dissociação das mesmas às matérias que deveriam ajudar a relembrar. “L.I.M.P.E.”, por sua vez, pode servir para te lembrar dos cinco princípios da Administração Pública, ou da faxina iminente do fim de semana. Tudo isso para admitir que, diante da tentativa de uma hipotética mudança de vida, eu sempre tive medo de ser burro demais para o serviço público. Não que os exemplos da vida real não operassem como belíssimos exemplares do quão distorcida é a minha visão do funcionalismo púb

A ética do carma

A vida é um crediário. Não necessariamente um das Casas Bahia, como cantavam os Mamonas Assassinas . Tem mais a ver com a filosofia da logística – a ideia de que toda ação no universo provoca uma reação, mesmo que esta ecoe longe de você. É a mesma premissa citada em grandes slogans através da história, dependendo da sua crença. Talvez seja originada por um provérbio bíblico, ou quem sabe por um fenômeno da natureza (o tal efeito borboleta). Eu não sei. Mas se eu precisasse arriscar, em se tratando do emprego do fundamento universal sobre “ aqui se faz, aqui se paga ”, o melhor deles poderia ser este aqui: Enfim, cada um com sua conta em aberto. Ao longo da vida, os dividendos vão se acumulando, dependendo de como você gasta sua energia por aí. Há quem defenda que é dando que se recebe, quanto quem semeia vento colhe tempestade, entre outras figuras de linguagem equipadas com o mesmo efeito. O questionamento em si é o mesmo: tudo que vai, aparentemente volta. É o que me veio

A eterna quinta série

Por mais evoluídos e maduros que gostamos de pensar que somos, há sempre um passo em falso a ser dado na estrada rumo à estabilidade emocional. Como se certos aspectos da vida fossem desenhados especificamente para trazer à tona o pior de nós. Como no caso dos torcedores de um determinado time, que agrediram dois indivíduos por estarem simplesmente torcendo pela equipe adversária . Apesar de errado, não é incomum para o contexto – ou falo aqui apenas por mim, ao tornar-me a pior pessoa possível em se tratando de competições, reais ou imaginárias . O agravante do caso em si, é que as vítimas foram uma mulher e uma criança. A verdade é que, em se tratando de qualquer disputa, seja ideológica, profissional ou arbitrária, todos eventualmente somos reduzidos aos nossos piores impulsos. Cabe a nós decidirmos se sucumbiremos a eles ou não. Agiremos como adultos dotados de inteligência emocional e cabeça fria, ou como crianças irracionais e passionais? Ou, no final das contas, não passam

O índice de indeterminação do sujeito

Viver é o que acontece quando se está ocupado chorando em público por sentir que não está vivendo direito. Ao menos, foi o que me veio à mente enquanto me aprofundava numa maratona de estudos sobre conceitos gerais da Língua Portuguesa, até me deparar com um conceito curioso. Nas entranhas da análise gramatical das palavras, escondido de todos os outros termos que possuem sentido e justificativa para existirem em uma oração, existe uma partícula microscópica e assombrada. Alheia a interlocutores e seus respectivos significantes, um termo que carrega consigo todas as possibilidades do mundo, e nenhuma delas ao mesmo tempo. O índice de indeterminação do sujeito (IIS): “ se ”. Ironicamente, foi um “se” que me levou a relembrar tal conceito. Visto outrora no auge do meu Ensino Médio, entre apostilas preparatórias para o vestibular e provas de recuperação aplicadas em dezembro – depois de ter falhado em avaliações anteriores onde foi solicitado que eu identificasse a natureza do “se” e

O show deve continuar

Tenho uma admiração infinita por histórias tragicômicas, personagens enigmáticos e situações inusitadas. Tanto é que baseio minha própria vida nesses preceitos, mesmo que acidentalmente. A questão é que, quanto mais distópica a realidade, mais atraente ela se torna para o público. Especialmente se o público é inexistente num primeiro momento, pelo visto. Mas depois de superar a minha tradicional inveja da ascensão alheia, e de ser bombardeado pelas inúmeras inserções do rapaz na grade da Globo, eu finalmente parei para admirar o sucesso do case de Gabriel Smaniotto : o cantor cuja performance solitária jamais estará sozinha de novo, se depender da família tradicional sertaneja . A metáfora é escancarada. Do pior espaço possível da feira, no interior do Paraná, num domingo à noite, diante de arquibancadas vazias (salvas exceções de seus pais) Smaniotto personificou a principal regra do showbiz: o show tem que continuar. Seus maiores fãs estavam ali: pai, mãe, ele mesmo. Se não fiz

O universo expandido

Entre todos os universos estendidos ganhando atenção por aí, um deles – o mais importante, alguns até diriam – parece estar ficando pra trás nas pesquisas. O mesmo ano que começou com questionamentos sobre como a ordem seria restaurada depois do estralar de dedos do Thanos, e o que irá terminar com mais uma revelação na nova trilogia milionária da família Skywalker , também é o mesmo ano que marca um fato histórico real: os 50 anos da chegada do homem à lua . E de 1969 em diante, um passo gigantesco para a humanidade foi dada – as reclamações estratosféricas do tipo: “ Conseguimos colocar um homem na lua, mas não conseguem fazer um café decente nessa empresa?! ”. Como se o exagero metafórico não fosse o bastante, é óbvio que a humanidade eventualmente sucumbiria à necessidade de dar um passo maior ainda: colonizar marte . O que invariavelmente me fez pensar sobre toda essa motivação em nome da conquista de novos planetas, sendo que mal estamos cuidando direito do nosso, aqui e ag

A canção ainda é a mesma

Marília Mendonça e eu temos muito em comum. O que imediatamente eterniza-se como mais uma frase que jamais pensei que escreveria – em parceria com os sucessos “ nunca amarei de novo ” e “ Foz do Iguaçu será bom para morar ”. No entanto, por mais assombrosas que as nossas lembranças se tornem ao longo da vida, não posso negar que, em um determinado momento, foi preciso admitir certas coisas que aprendi com o sertanejo universitário . O que invariavelmente nos trouxe aqui – Marília e eu – juntos e shallow now . Primeiro, uma constatação óbvia: meu conhecimento sobre Marília é diretamente proporcional ao dela sobre mim. Movemos por círculos diferentes, é fato – ela viaja pelo país enquanto eu sequer tenho forças pra ir até o centro da cidade. Mas somos invariavelmente congênitos em se tratando da nossa arte, remuneração à parte. Mesmo sem conhecê-la bem, seu trabalho ecoa o suficiente para chegar até a mim. Vez por outra, na música que toca ao fundo no bar ou, em piores instâncias,

A rede antissocial

Fotos costumavam ser verdadeiros artefatos. Ao menos, durante a minha infância e adolescência, era assim que eu as considerava. Em um mundo recém aberto às tecnologias de captura e compartilhamento de imagem, onde câmeras digitais e álbuns do Orkut com limite de 12 imagens por pasta, a habilidade de retratar algo era tão importante quanto optar por qual imagem divulgar ao mundo. Não era uma operação fácil, difundida num piscar de olhos ou ao alcance da ponta dos dedos como é hoje. Em compensação, se Bauman estivesse vivo, certamente passaria seus dias gritando “ eu avisei! ” para todo e qualquer traço de modernidade líquida que cruzasse seu caminho. Demorou muito para que eu tivesse uma câmera digital pra chamar de mim. Às vezes ainda demorava um pouco mais para que eu reencontrasse o cabo USB para passar as fotos ao computador, já que ele vivia perdido pelo quarto. Até então, os rolês da época viviam em torno da pessoa mais bem agraciada pelo capitalismo para tirar fotos da turm

O homem do futuro

Não é que envelhecer me incomode. Eu só pensei que teria mais tempo. E ao contrário das pessoas sensatas, que se chocam com a finalidade da vida ao se depararem com problemas reais – como a Reforma da Previdência e a (falta de) perspectiva de uma aposentadoria – eu me choco com distrações aleatórias – como um aplicativo que te deixa velho . Enfim, cada pessoa sofre de um jeito. A questão aqui não é exatamente sobre os próximos cinco anos , ou os últimos cinco anos . Claramente já passei por ambas as fases. Apesar da constante falta de planejamento coerente e um incorrigível instinto de improviso em situações de crise, esta é a palavra-chave desta vez. Uma que, inclusive, é mais presente em meus devaneios do que eu esperava. Bastou uma breve pesquisa para relembrar o quanto já sofri em meio aos vinte e poucos anos , ao fim da faculdade , em uma fase agoniante do trabalho , ou entre o paraíso e o parnasianismo da vida a dois .  Crises são fascinantes, entreveros à parte. Mas assim

Pequenas vitórias do dia a dia

Duas coisas me vieram à mente quando me dispus a enfrentar uma pista de caminhada de novo. E ao invariavelmente ceder à necessidade de correr em vez de andar a passos relaxados, apropriados para quem não fazia isso há um tempo considerável. A primeira coisa é que, ironicamente, esta não era a primeira vez em que o sentimento de competição me acompanhou. Bastasse alguém passar correndo por mim, para que eu imediatamente desse a largada à minha insensatez fora de forma. Porque é assim que eu vejo – e aparentemente sempre vi – a vida: como uma competição a ser conquistada, com marcas a serem ultrapassadas, limites a serem vencidos, e linhas de chegada que pareciam viver mudando de lugar.  Esta era a minha realidade: estar sempre correndo, custe o que custasse, com todo o fôlego que havia em mim, porque retroceder seria um ultraje e desacelerar, um sinal de desistência.  A segunda coisa foi inédita – ao menos, em termos escritos. Em meio à corrida, ou a competição imaginaria que traç