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Mostrando postagens de novembro, 2020

Eu não mandarei rosas

Promessa é dívida. Comigo mesmo, no caso. Isso porque, anos atrás, eu tomei uma decisão. Foi o tipo de coisa que se faz aos vinte e poucos com todo o otimismo do mundo, sem considerar por um segundo que, diante dos vinte e muitos, você não só já descumpriu a promessa mil vezes, como o peso na consciência por isso só aumenta. Por outro lado, talvez seja esse o peso que te afunda na balança e não os lanches aleatórios da madrugada ou a dieta líquida na qual você se mantém firme: cerveja no calor, vinho no inverno, vodka entre eles.   A promessa em si vai além disso – ainda que acabe dando a volta e retornando aos destilados eventualmente. Era alguma coisa sobre amor , pra variar. Sobre razões para acreditar, momentos que façam a vida valer a pena e umas trilhas sonoras infames para acompanhar. Porque a verdade é que, anos atrás, eu costumava ser movido por romance, não rodízios, e amores, não álcoois. Não se tratava de precisar de alguém para amar, mas de simplesmente ver mais senti

Os estranhos lugares comuns

Algumas coisas na vida são necessárias. E não estou falando de apenas das burocracias inevitáveis – como imprimir a 2ª via daquele boleto que venceu e não é pago mais na lotérica, ou justificar seu voto em uma eleição municipal para evitar escolher o pior entre dois males. Mais do que isso, tem coisas pelas quais todos nós precisamos passar, creio eu. Apaixonar-se de verdade , por exemplo, é uma delas. Quem sabe seja até a principal. Lavoisier é lembrado por afirmar que nada na natureza se cria; tudo se transforma. Publicitários posteriores a ele fizeram um trabalho de rebranding e passaram a mensagem adiante um pouco diferente: nada se cria, tudo se copia. Por esses parâmetros, dificilmente teremos momentos originais na vida, salvo as variáveis que realmente existem sob nosso controle. Como, digamos, com quem vivenciar esses momentos. Ver o sol nascer. Um jantar romântico à luz de velas. Ser reconhecido pelo seu trabalho. Ensinar seu filho a andar pela primeira vez. Ter seu coraçã

O que eu nunca farei por amor de novo

Já deve ter acontecido com você. Ele e ela se conhecem e a atração é instantânea. Em questão de dias, deixam de ser teoria para colocar em prática todos os sonhos que guardavam para si, até descobrirem que aspiravam por uma vida em comum. Logo mãos dadas no shopping evoluem para pernas cruzadas nos lençóis, emojis de coração ao lado dos nomes de contato no celular, e uma miríade de frases que começam – e terminam – com a mais íntima de todas as conjugações: a terceira pessoa do plural, nós . É fácil se perder em um romance. Tão suave e imperceptível de se descuidar como entrar em uma piscina aquecida sem saber exatamente se ela dá pé ou não. Entrar na vida de alguém requer essa coragem: noção o suficiente para entender que não se sabe aonde está se metendo, mas conforto o bastante para ficar à vontade nas profundezas de outra pessoa. Algo que pode ser ridiculamente apaixonante e, como via de regra, desgraçadamente não recomendável ao mesmo tempo. Isto é, depois de já ter se afogado

Os momentos definitivos

2020 foi um ano de corações partidos, carteiras assinadas e muitas, mas muitas corridas de Uber. Mas entre os destroços, também foi um ano de certo aprendizado – ainda que obrigatório – quando o mundo ameaçou terminar e nos forçou a repensar alguns conceitos. Dos deslocamentos desnecessários ao quão nada sério é dizer que procura “nada sério” em um aplicativo de relacionamento.  E é nesse clima de retrospectiva que me proponho a revisitar tais conceitos. Porque como se tudo que já passou tão fosse o bastante, esse também foi o ano que me empurrou rumo à reta final dos vinte e tantos anos . O que pode não significar muito para outras pessoas, mas trata-se de um marco deveras sério para mim.  Porque a menos de um ano, se tudo der certo, chegarei aos 30 . Uma idade que sequer imaginei possível e, agora, precisa ser minimamente fundamentada para não arriscar cair em outros conceitos infames – como imaturo, despreparado, inconsequente e desorganizado. Não que eu tivesse uma ideia clara de

Os arrependimentos certos

Você nunca saberá exatamente qual diferença aquele lugar, aquela pessoa ou aquela experiência fará na sua vida. Não sem explorá-los, conhecê-los, incorporá-los. O que me faz pensar sobre a necessidade gritante que eu sinto para carregar comigo os arrependimentos certos . Não me leve a mal, mas há algo a ser dito sobre os caminhos que não tomamos por aí. Ou a máxima eternizada por Fernando Pessoa : a vida inteira que poderia ter sido e não foi . Seria inspirador se não fosse trágico. Oportunidades que vem e se vão do nosso alcance por nossa livre e espontânea vontade. Salvo outros extremismos, nada nem ninguém permanece na sua vida sem o seu parecer .  Vez por outras, convenhamos, é necessário deixar ela ir . Mas de vez em quando, vale mais a pena abrir espaço para que ela consiga ficar . Arrependimentos, por sua natureza, parecem negativos. Como se algo ou alguém tivesse passado por nós de maneira tão efêmera que apegar-se a eles teria sido em vão. Então os deixamos ir, restando apenas

O deslocamento

Se há uma lição a ser aprendida em 2020, talvez tenha algo a ver com o conceito de deslocamentos. Mais especificamente, a reflexão acerca do que te move para lá e pra cá e, ironicamente, o que acontece quando, digamos, uma organização mundial voltada à saúde da raça humana decreta que é proibido ir para lá e pra cá. Faz você repensar por onde andava (ou não andava) e, quem sabe, para onde pretende ir de agora em diante quando as coisas voltarem a algo remotamente parecido com o “ normal ”. Agora tire a ameaça biológica iminente da equação. Em se tratando de, digamos, relacionamentos, não é mais uma questão do que te move, mas quem te move . Ou então: por quem vale a pena se deslocar . A primeira vez que pensei nisso foi entre uma das várias idas e vindas de Uber pela cidade afora. Olhando para fora com um ar de videoclipe triste, percebi o quanto estava me movimentando mais hoje em dia, comparado a qualquer outra época da minha vida. O que mudou, de fato, para me fazer desbravar tant