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Bandeira branca II

A verdade é que eu ainda sou um otimista, mas pelas razões erradas. Um otimista por achar que você ainda vai voltar; que você ainda vai perceber que tivemos o amor certo na hora errada, e que ainda é uma questão de amanhãs para que a hora certa tome conta. Um otimista que carrega uma dor imensa, que parou de latejar de tanto ter sido empurrada para dentro da pele, afundada no coração, a ponto de mais ninguém percebê-la. Um otimista que vive na base de fantasias, de encontrar você de novo - e ao mesmo tempo sentir calafrios só de pensar em ver seu rosto na minha frente; o que eu diria? O que você diria? Afinal, depois de tudo aquilo, o que sobrou para ser dito?

Um otimista extremamente machucado, de maneiras indescritíveis. Um homem quebrado, agora dono de um coração soliário que paira solto no mundo onde as pessoas já não conseguem mais se prenderem a ele. Um homem e um coração quebrados. E mesmo depois de todo esse tempo, mesmo quando desisti de sair e andar por aí na esperança de que o destino - ou qualquer outra força mais realista - te colocasse no meu caminho, eu ainda consigo ver o estrago. A essa altura já não falo mais de dor, mas da sensação estranha que é não ser capaz de sentir mais nada. E além disto, medo de sentir alguma coisa de novo. Medo das pessoas, de cumprimentar estranhos, de deixar que qualquer outra chege tão fundo na minha alma como você chegou – só para me destruir de dentro pra fora.

Espero que esteja satisfeita, mas acho que ainda não está. Você nunca sentiu nada, e não começaria agora. Eu te amo, eu te odeio, eu sinto a sua falta. Mas não o bastante para te chamar de volta, isso eu garanto. Eu admito a dor, mas não a redenção. Como eu disse antes, tornou-se mais saudável sentir sua falta do que ter você ao meu lado. Acho que isto mostra exatamente como você quase acabou comigo e como ainda estou juntando os pedaços.

É engraçado ouvir pelos outros que você até mesmo ainda pergunta como eu estou - como se você não soubesse. Ou é por que ainda espera ouvir de mim? Acha que vou levantar bandeira branca, desistir, e chorar para te ver de novo? Talvez antes, não agora. Devo te agradecer por isto; você me fez capaz de não admitir derrota. Eu vou afundar com este navio, me parece o mais apropriado a se fazer. Agora, faça a nós dois um favor; pare de perguntar como eu estou.

Mas se quer mesmo saber... Estou cada dia mais distante de você, e mais perto de ser feliz.


Música de Hoje: White Flag – Dido.

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