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Igor, o incorrigível

Bem vindos ao funeral; o Igor está morrendo. E eu não sei quanto a vocês mas isso me assusta profundamente, afinal, eu costumava ser ele. Às vezes eu me pergunto se nasci para ser complexado, agoniado, já que me sinto tão confortável com a melancolia. Mas isto não é sobre mim; é sobre prestar as últimas homenagens ao Igor, o garoto sonhador e apaixonado pela vida, um bom amigo e, acima de tudo, o incorrigível. Deixou este mundo para trás por não ser capaz de suportá-lo, e encontrou seu fim quando seu coração – seu bem mais precioso – o traiu ao atingir seu limite; deu amor até onde podia, mas infelizmente seu amor não era ilimitado como pensava ser. Desgastou-se, feriu-se até entregar-se à sua última complicação.

“Eram exatamente 23:00 numa quinta-feira morna quando aconteceu. Algumas lágrimas ainda escorreram por meu rosto como símbolo do meu luto. De repente todas as crises, todos os dramas, todos os momentos de agonia e extase pareciam memórias distantes. Memórias distantes de um passado tão inesquecível que chegava a doer, em forma de saudade e arrependimento por frases não ditas, atos não realizados, e do amor que poderia ter sido e não foi. Ainda sinto uma dor física, o peso da esperança, da crença inacabável de que algo mais ia acontecer. Estava claro, dado tudo que aconteceu, que não era você e que se você está aí, feliz com seu amor e batalhando pra ter a vida que sempre sonhou eu também tenho direito, mesmo que por enquanto ainda seja só eu, num apartamento vazio, consumido pelo passado e obcecado pelo futuro. Sejamos honestos, se fosse pra ser já teria sido. Eu não estaria aqui passando noites sem dormir pensando em você, e você não estaria aí sem minha companhia no caminho da sua casa. É verdade, eu nunca vou te esquecer. Mas em ves de arrastar nossas lembranças comigo ao dormir e acordar para um novo dia, eu nunca realmente seguirei em frente como você fez. E depois de tudo, está na hora de eu ser feliz também. Com ou sem você.

Aqui jaz o grande romantico e eterno otimista, que suspirava por esperança, e que morreu esperando. E às 23:09, eu já não sentia mais nada.”

Aqui jaz o coração de Igor Costa Moresca.

Ao som de: Back in Black – Amy Winehouse.

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