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À prova de balas

É um fato comprovado que, à partir do momento em que estamos soltos no mundo, estamos fadados a nos machucar. Por isso tentamos precaver acidentes e proteger nossa segurança com avisos, luvas, capacetes, óculos; tudo para preservar nosso bem estar físico. Mas e quanto ao nosso bem estar emocional? Não existe nenhum panfleto que nos alerte sobre como evitar danos ao nosso ego, ou ferimentos em nossas crenças, ou cicatrizes em nossos corações. E ao adentrar uma nova relação, como podemos abrir mão das estatísticas que claramente mostram que todos são capazes de nos ferir? Mesmo envolvidos nos braços de outra pessoa, estamos mesmo seguros? Exatamente o quão perigoso é manter um coração aberto?

E então nos abrimos novamente para as pessoas, agora com a pele mais grossa e com maior noção sobre o perigo. Mas às vezes delimitamos as pessoas, mostrando até onde podem chegar conosco enquanto permanecemos escondidos dentro de nós mesmos, tomados pelos traumas e decididos a nunca mais permitir que outros nos causem mal. Sem ações não há consequências, não há perigo. Mas também há aqueles que dizem que viver com medo na verdade não é viver.

Afastar as pessoas é como ferir a si próprio de dentro pra fora, sem considerar que às vezes outros podem ter o remédio para nossa dor. O melhor que podemos fazer é aprender a conviver com os riscos, e com o fato de que nossos corações infelizmente não são à prova de balas.

Ao som de: Bulletproof – La Roux.

Comentários

  1. É, essa armadura que teimamos vestir talvez não seja, afinal de contas, tão defensiva assim. A pergunta que fica é "quanto podemos deixar nos machucar?

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