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E daí?

O lado ruim de ser dramático é acreditar cegamente que tudo na vida acontece por um motivo. É crer que não existem apenas coincidências e que o destino está sempre atuando por trás de tudo, e tanto as coisas boas quanto as ruins apenas fazem parte das várias viradas que deixam a peça de teatro que nós chamamos de vida cada vez mais instigante.

Por isso é tão difícil para nós engolir o fato de que às vezes não existe um motivo; o que aconteceu, aconteceu, e ponto final. Procuramos explicar cada evento como um novo capítulo da nossa história que estava para ocorrer, e cada surpresa como uma reviravolta no enredo com a qual aprendemos a conviver pois é o foi predestinado para nós; estava escrito nas estrelas e coisas do tipo. Mas é sempre um problema quando buscamos significados escondidos e nos deparamos com um beco sem saída; no caso, as ocasiões em que devemos simplesmente ligar o "foda-se" e ficarmos em paz.

Por que é tão difícil simplesmente nos deixar levar pela vida, sem se preocupar com decifrar sinais ou decodificar situações? Devemos deixar todo o nosso senso de romantismo e aceitar que não existe algo superior como destino que secretamente guia nossas vidas e pavimenta nossos caminhos? E se esta for a resposta, como sabemos em quais ocasiões podemos apenas observar, encolher os ombros, e dizer "e daí?"?

Ultimamente eu vivo pela filosofia "nunca se sabe"; você vive, esperando pelo melhor e lidando com tudo o que a vida atira para você - seja aleatóriamente, ou seja consequências de como agimos no mundo. E não importa quem partiu sem coração, ou o quanto você se decepcionou, é sempre bom ter amigos para tomar nossas dores e encará-las com um simples "e daí?". É aí que percebemos, no auge do nosso senso dramático, que mesmo quando a vida não realiza nossas fantasias, sempre encontramos um meio de sobreviver.

A vida não foi feita para ser entendida, ou para atribuir um sentido a tudo; o segredo é sempre continuar respirando. O que será, será; e se não for, e daí?

Ao som de: So What – P!nk.

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