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A.A.: Apaixonados anônimos

Olá... Meu nome é Igor, e eu me apaixono muito rápido. Tudo começou quando eu tinha 14 anos e uma garota que até então eu só havia visto de longe conversou comigo por uns dez minutos - foi o bastante para que eu sonhasse acordado com a música que tocaria durante nossa primeira dança, na nossa recepção de casamento. Ao longo dos anos senti que o problema - que eu sequer julgava ser um problema - agravou-se; de repente estava tendo fantasias tão surreais que me causavam dores no estômado, crises irracionais de ciumes, e o pior de tudo, lágrimas inexplicáveis por amores inexistentes.

Mas mantive minha compostura, assim como meu orgulho, e sempre arranjava desculpas desfarçadas de argumentos semi-convincentes para justificar meu comportamento - o que na verdade também não passava de mais uma paranóia em ação, de uma alma perturbada numa busca desesperada e alucinada por alguém para amar, mesmo sem nunca desconfiar do fato que estava claro para todos menos para mim; eu era jovem demais para saber amar alguém, especialmente a mim mesmo.

Anos depois, cheguei ao fundo do poço quando meus olhos inchados de lágrimas derramadas sem sentido, noites mal-dormidas sem motivo, e sonhos destruídos sem noção me levaram a tentar procurar por amor no mundo real, somente para ser derrubado de novo e de novo e de novo, até não aguentar mais e tentar levantar bandeira branca, desistir de tudo isso e me encolher em minha irracionalidade sutilmente, encoberta de ilusões e todas aquelas paixões que poderiam ter sido muito, muito mais, mas não foram.

Eu nunca tive vergonha de querer alguém para amar porque eu a tive uma vez, e foi tudo para mim. Mas pensando bem, talvez eu não tive realmente. Não me condene por querer amar alguém, não é como se minha vida fosse vazia sem uma mulher. É só... meio vazia. Mas estou disposto a mudar, a procurar ajuda e me refazer, se é o que tanto me dizem que precisa ser feito. Amor verdadeiro... Ah, como seria bom, mas não é para todos, especialmente neste mundo.

De todas as drogas, nenhuma é tão potente, destrutiva e sedutora como o amor. Logo, para se recuperar, porque não utilizar os mesmos passos de reabilitação de qualquer outro dependente químico, já que meu problema não passa de apenas química não correspondida por outra pessoa. Doze passos para sobreviver ao amor não correspondido. Estou a caminho da recuperação; se conseguir manter uma planta viva, então adotarei um animal. E se os dois sobreviverem quem sabe, daqui alguns anos, eu não me atrevo a me juntar à sociedade de novo.

Me dê a serenidade para aceitar os amores que não posso modificar, coragem para abrir mão daqueles que posso, e a sabedoria para distinguir quem está dando mole, e quem está apenas sendo legal. Amém.

Ao som de: Lovestruck - Duffy.

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