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Sexo e a cidade

Baseado em provavelmente muitas histórias reais. Era uma vez uma garota que acabara de se mudar para a cidade. Ela era linda, inteligente, audaciosa, tudo isso e muito mais no auge dos seus 16 anos. A garota logo fez amizades, e como era de se esperar, logo atraiu olhares de outros garotos também. Um dos garotos decidiu se apresentar e aproveitar a oportunidade para também apresentar a cidade a ela - uma desculpa esfarrapada apenas para ficar sozinho com ela. Em questão de dias, logo apresentaram seus lábios um para o outro, suas mãos passaram a entrelaçar-se quando caminhavam, e seus olhares cruzavam-se quando se despediam. Era perfeito; era amor e a garota achava que as coisas não poderiam ficar melhores. Realmente, não ficaram.

Um dia o garoto não quis andar de mãos dadas, não olhou duas vezes ao se despedir, e não respondeu à nenhuma das mensagens que a garota enviou. Curiosa, ela decidiu ir até a casa dele para descobrir o que estava acontecendo, e descobriu que não era alguma coisa, era alguém - outra mulher, com as mãos juntas às dele, e de olhos fechados enquanto se beijavam. A garota correu de volta para casa e chorou por dias até perder o fôlego, e conforme as lágrimas secavam, perdia também as esperanças de que aquilo que achava que existia entre eles era mesmo amor. As amigas da garota decidiram animá-la e mudaram seu visual para levá-la a uma festa, onde ela chamou a atenção de outro garoto.

Decidida a não se apegar a ele somente para se perder em lágrimas de novo, ela tomou a iniciativa de mostrar que estava interessada, e antes mesmo que pudesse se dar conta estavam se beijando, se tocando, se despindo até chegarem à casa dele, onde a garota descobriu que, enquanto não podia ter certeza de que amor existia, sexo era algo definitivamente muito mais palpável. No entanto, na manhã seguinte, ao deparar-se com suas roupas pelo chão e o garoto ao seu lado, a garota só conseguia pensar no outro garoto, no que ele pensaria dela ao descobrir o que tinha acontecido, e logo suas lágrimas voltaram - mas jamais deixaram seus olhos até que ela tivesse deixado aquela cama e a lembrança do que houve aquela noite entre eles para trás.

Bem vindos à era da falta de inocência; ninguém mais tem amores para recordar, e ninguém acredita que pode ser feliz para sempre com alguém. Pelo contrário; agora temos casos que tentamos esquecer o mais rápido possível com pessoas cujos nomes nem fazemos questão de aprender. A era do amor se foi. Isto é, não para alguns. Talvez eu esteja afrente do meu tempo ou apenas seja resultado da maturidade que vem com a idade, mas ao contrário da minha geração, eu não procuro por sexo fácil todas as noites; eu procuro por um amor para a vida toda, e sou incansavelmente ridicularizado, criticado e questionado por isto. Como é que nos metemos nessa bagunça de querer saber apenas de meteção? Devemos nos entregar a uma vida de relacionamentos casuais, instantâneos e, porque não dizer, temporários, ou ainda é possível acreditar que, no meio disso tudo, ainda existem jovens dispostos a acreditar que coisas boas podem vir para aqueles que esperarem por tudo o que sonham? Se sexo for mesmo mais importante, é possível ter sexo sem amor?

Chegamos a um ponto em que as pessoas não tentam mais se envolver em relacionamentos para eventualmente se envolverem debaixo de lençóis; a moda agora é tentar transformar sexo em relacionamentos com ainda mais sexo, e talvez um pouco de intimidade se não puder ser totalmente evitada. O que me parece de tudo isto é apenas uma grande expressão de medo colocado em prática sob o disfarce de nossos instintos mais primais; como se o nosso passado cro-magnon não tivesse ficado para trás e as pessoas não tivessem evoluido a ponto de sentirem emoções mais profundas umas pelas outras - em ves de tentarem se sentir mais profundos um dentro do outro.

Sexo até hoje continua sendo um dos tópicos mais fechados para discussão, exceto quando é debatido por pessoas a respeito de outras pessoas e com quem elas andam transando. Sexo perdeu parte do seu significado a medida que deixou de ser a maior maneira de expressar amor entre duas pessoas e passou a ser tratado como esporte, onde os jogadores se vestem com seus mais belos uniformes e mais sedutores argumentos, visando encurralar o oponente contra a parede e tomá-la para si, apenas para que ele ou ela seja mais um em uma longa lista de amantes e comparações em rodas de conversa. Talvez para algumas pessoas, mas não para mim. Eu ainda acredito que sexo é importante demais para se ter com qualquer uma, porque senão o que significará quando eu decidir tê-lo com a mulher que eu escolher para dividir minha cama pelo resto da minha vida?

Cascavel é uma cidade sexualmente ativa, assim como seus moradores. Sexo está por toda parte; pelas esquinas sendo negociado, pelos bares sendo caçado, e pelas cabeças das pessoas sendo imaginado. Mas apesar de pensar muito em sexo, penso muito mais em sua importância e o quanto afetará não só minha vida mas também meu coração; como se fosse somente meu pênis e a vagina de alguma qualquer que estivessem envolvidos. Talvez eu ainda passe minhas noites sozinho por um tempo, mas intimidade não é algo que se consegue através de esquemas para um final de semana - nada contra os galinhas e vagabundas; quer dizer, só um pouco. Por mais fácil que seja encontrar sexo na cidade, o que sempre me atraiu muito mais são as coisas difíceis; neste caso, sexo com amor e, de preferência, acompanhado por uma vida a dois.

Ao som de: More, More, More - Andrea True Connection.

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