Eu sou uma pessoa honesta, pelo menos não vivo com base em convenções sociais sem importância nem tento disfarçar as coisas que fazem de mim quem eu sou, desde o desnecessário até o que me faz parecer ridículo. Porque às vezes a verdade é ridícula e quase inacreditável, talvez ainda mais do que as mentiras que contamos para acobertá-la. Só que a verdade sobre nós e nossas vidas está mesmo nas coisas que não dizemos em voz alta, mas que confessamos um ao outro em baixo tom, ou até mesmo virtualmente pois não temos coragem de encarar a reação do outro sobre a nossa realidade. E nada pode traduzir tão verdadeiramente quem nós somos como as coisas que dizemos e fazemos quando estamos sozinhos, pois é quando nos sentimos livres o bastante para não nos sentirmos inibidos com nós mesmos.
Meus amigos dizem que sou terrívelmente verdadeiro, e por isso sempre pedem minha opinião quando querem ouvir a verdade que já não confiam para ouvir de outras pessoas. Somos ensinados que mentir é errado e devemos sempre contar a verdade, mas e quando a verdade de nada servirá a não ser causar dor a alguém? Assim as pequenas mentiras tomam conta das nossas vidas sem percebermos, até algo grande acontecer que faz nosso mundo ser invadido por pessoas estranhas ou pior, pelo mundo real lá fora. E dentre as várias irregularidades que levam o mundo adiante, as mentiras infelizmente estão logo na base de todos as nossas organizações. A terrível verdade é que, sem as mentiras, o caos provavelmente tomaria conta.
Imagine saber exatamente o que as pessoas pensam de nós, ou então que soubessem o que achamos deles? Imagine um mundo onde as realidades feias são escancaradas em plena luz do dia em vez de serem sussuradas aos ouvidos daqueles que julgamos que podemos confiar para guardar nossas verdades. Para alguns pode não ser nada demais, afinal sentimos que viver conforme o que é verdadeiro é o certo a se fazer, mas para outros isto pode significar ter que enfrentar seu pior medo e passar a vivenciar todas as suas inseguranças. Nunca estamos tão vulneráveis quando estamos baixando nossa guarda para deixar que outras pessoas se integrem ao nosso mundo e descubram do que realmente somos feitos, e a verdade é que não podemos permitir que todos tenham esse tipo de confiança. Porque alguns entre nós podem ver isto como uma oportunidade de nos destruir de dentro para fora, e às vezes não são nem aqueles que são verdadeiros quanto à sua falsidade, mas aqueles que se disfarçam para ganhar a chave do nosso coração.
Em um mundo onde não é possível ser totalmente verdadeiro, todos nós ainda procuramos ter um pouco de segurança para nos proteger do mundo real, onde algumas pessoas simplesmente não se importam conosco. Então procuramos segurança através de alguém que nos abrace na hora de dormir, ou ao tentar dominar nossos medos, ou se arriscando ao fazer a coisa certa e, na pior das hipóteses, contar a verdade. Mas onde há segurança sempre há perigo, e um passo em falso pode fazer com que enfrentemos um grande desafio: descobrir quais são nossos verdadeiros amigos, e quais irão nos deixar ao descobrirem a verdade sobre nós.
Ao som de: Rolling in the Deep – Adele.
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