O tempo passou, e mais rápido do que eu esperava. Como foi que as escolhas que fiz para mim acabaram me levando para rumos totalmente diferentes? Como foi que meus ideais e crenças nos quais eu acreditava tão cegamente desapareceram da noite para o dia? Como foi que a vida que eu sonhei para mim acabou se tornando muito mais do que eu podia imaginar? E quanto a esse homem no espelho, como ele se tornou alguém que agora eu mal consigo reconhecer? Porque o homem que eu via no espelho todos os dias, o homem que eu fui, definitivamente não vivia deste jeito. Aliás, ele não vivia.
Eu não sei explicar exatamente como fiz isso, mas de algum modo parece que todas as minhas angústias e frustrações e sonhos impossíveis que eu costumava carregar tão vigorosamente comigo ficaram para trás, assim como muitos rostos conhecidos que hoje passam reto por mim. E com todo o espaço vazio que se formou, a vida preencheu e deu a luz a uma nova pessoa que na verdade ainda parece o mesmo, mas que anda se mostrando tão diferente que causa surpresas a todos ao seu redor assim como a si mesmo, e nem mesmo está à procura de um grande significado para tudo isso ou alguém idealizada em sua mente para compartilhar suas novas experiências.
Para quem antes costumava ter uma visão tão ridiculamente ilusória sobre coisas como a vida, o amor ou a felicidade – assim como o modo que deveriam acontecer – nada disso realmente fará sentido se eu tentar entender. Eu apenas saí e vivi, e resolvi não voltar atrás para refletir se estou fazendo a coisa certa. Depois de anos tentando viver fazendo apenas as coisas que pareciam certas, só o que eu posso dizer é que eu definitivamente deveria ter errado mais. Porque aqueles anos que vivi com o que parecia ser uma consciência limpa já não se comparam com esta sensação excitante de que estou saindo por aí errando, tropeçando e o principal, vivendo. Quem diria que é tão mais fácil ser feliz do que não se permitir ser?
Então por que eu não fiz isso antes? Era porque eu acreditava desesperadamente que as coisas só poderiam acontecer de um jeito e que qualquer outra forma fora do padrão significava qualquer outra coisa menos felicidade? E quanto a todo aquele idealismo; o que aconteceu com todos aqueles sonhos e frases feitas sobre esperar pelo amor da sua vida em vês de correr o temível risco de pelo menos se divertir enquanto espera? Mas a pior parte mesmo é que eu não me sinto infiel à pessoa que costumava ser; apenas me sinto mal por não ter tentado isto antes. Felizmente este foi o ano em que decidi tentar desafiar minha gravidade com coisas novas que surpreenderiam não só a todos mas principalmente a mim, e acho que é isto que consegui fazer.
Estou diferente, mas continuo igual. Meus amigos ainda me reconhecem e adoram o fato de que eu estou rindo em vês de reclamar quando passamos cada vez mais tempo juntos. Minha família ainda não consegue lidar com o fato de que devem me ligar mais cedo aos finais de semana pois não estarei em casa mais tarde. E eu, bom, eu ainda não consigo definir bem quem é esta pessoa que continua escrevendo, desenhando, caminhando, cantando, conversando e vivendo um dia de cada vez sem se preocupar com o que o amanhã possa trazer, pois como tenho dito há anos, eu vou adorar o amanhã.
É, o tempo passou. Meus erros de julgamento, minhas oportunidades perdidas e minhas teorias mal-formuladas sobre a vida também ficaram para trás, e servem somente para definir quem eu fui ontem. Mas agora eu finalmente abri mão do ontem para me aventurar em descobrir quem sou hoje, e confesso que ainda não tenho as palavras certas para colocar no papel. Tudo que posso dizer é que estou feliz e estou me divertindo. Não serei mais definido por um coração partido. Talvez, no fim das contas, seja só o que importa. E, ironicamente, é a mensagem que existe em quase todas as canções sertanejas.
Meu nome é Igor Costa Moresca. É, aquele que você conheceu ontem. Gostaria de sair comigo hoje?
Ao som de: Yesterday – Leona Lewis.
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