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Você e eu

A verdade é que eu sempre vou sentir a sua falta, independente do que aconteceu no fim ou tudo que te levou pra longe de mim. Quer dizer, tudo que nunca te trouxe para perto, e que eu nunca vou entender completamente. Por que não eu? Se quem secava suas lágrimas era eu, quem ficava do seu lado até você se sentir melhor era eu, e quem saiu da sua vida apenas para tentar descobrir se isto faria diferença para você, fui eu. E eu fiz diferença, não adianta negar porque eu vi nos seus olhos, até mesmo quando não estava olhando para mim. Sabe como eu sei? Porque mesmo sentindo muito mais do que você, eu também senti. E o oposto de amor não é o ódio, é a indiferença. Então se eu sinto algum ressentimento por você, ou você por mim, isto quer dizer que no mínimo ainda estamos conectados e eu ainda tenho a chance de acertar as coisas. Se eu quisesse. Quer dizer, se você me quisesse.

Eu não poderia me esquecer de você mesmo se eu tentasse. Porque parte da minha história foi escrita do seu lado, e parte de mim foi você quem construiu. E você vai sempre se lembrar de mim mesmo sem me ver, porque por um instante não havia ninguém que você queria ver tanto quanto eu, nem que fosse só para te dizer as coisas clichês que você mesma já sabia, mas que precisava ouvir de mim. Mas apesar de tudo isso, eu nunca vou entender... Por que não eu? O que te fez pensar que eu não poderia te fazer feliz para sempre, em vês de só durante os momentos em que você chorou e precisou do meu ombro? Eu nem vi você chorar de verdade; você não deixou. Essas lágrimas que você diz que derramou, eu simplesmente preciso acreditar que rolaram pelos seus lindos olhos, e talvez seja só o que eu consiga acreditar agora; todo o resto parece falso, desgastado e desperdiçado com você. Não me leve a mal, mas homens rejeitados tentem a se tornar mais grosseiros, e corações partidos por alguém tendem a se esfriar em sua presença.

Eu teria sido fiel, e você sabe disso. Parte de tudo que eu poderia ter sido, eu provei enquanto ainda estava correndo atrás de você, e me contentando com os pequenos acenos que você jogava em minha direção enquanto passava reto por mim. E eu ficava feliz, acredita? Pelo menos havia olhado para mim, e era só o que importava enquanto outros olhares de pena e desaprovação tentavam me cobrir. Mas eu ainda acreditava em você; nada mais importava. Apesar da amargura das mentiras no fim, os sorrisos que você provocou em mim foram sempre verdadeiros. Talvez eu estivesse mais feliz no escuro, sem questionar nada e sem tentar alcançar nada a mais do que tínhamos; uma amizade desequilibrada, inconstante e complicada – construída com todo o meu desequilíbrio e a sua inconstância. Não é a toa que ficou complicado.

Eu ainda vou gostar de você por um tempo, e tentar colocar em palavras todos os sentimentos que ainda moram em mim e se recusam a deixar meu coração, especialmente quando você aparece na minha frente de novo, e passamos um pelo outro como estranhos que nunca se conheceram e nem nunca se falaram. Quem sabe é assim que tenha que ser; afinal, quando nos conhecemos pela primeira vez, nunca realmente tentamos nos conhecer. E quando tentamos, deu no que deu. E o pensamento que tive desde a primeira vez que te vi acabou se tornando verdade; você definitivamente era demais para mim, e iria acabar comigo se eu tentasse me aproximar e tentasse transformar eu e você em "nós". Mas "nós" nunca acontecemos; pelo menos é o que vamos fingir que é verdade de agora em diante. E você e eu vamos continuar sendo você e eu, mas bem longe um do outro. Como já era no começo.

Ao som de: Yoü and I – Lady Gaga.

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