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Gordo e feliz

86 quilos de puro Igor. 86 quilos são o que carrego comigo todo dia pra lá e pra cá, e mesmo sabendo que é um número superior e, por sua vez, rejeitado por meu IMC, ainda assim não consigo me sentir tão mal por estar tão carinhosamente "acima do peso". Para algumas pessoas, comer é apenas mais uma atividade cotidiana para qual é preciso dar atenção, mas para os gordos de respeito de plantão - como eu, você e a porcentagem média brasileira que carrega consigo mais pneus do que aqueles que já vem embutidos no carro - nós sabemos que comer trata-se de um ritual milenar cujo qual deve ser tratado como tal; com respeito, cuidado e devoção. Por isso nossas refeições são fartas, nossas ceias são longas e, por sua vez, nossa distância das balanças é grande; celebrar nossa tão amada fome tem um preço, e nossos quadris, bochechas e bundas pagam caro por ele.

Apesar de não me sentir tão incomodado pelo meu grande eu, meus colegas fazem questão de não me deixar esquecer o quanto a mais de espaço eu tomo em um recinto. E soltam indiretas-diretas sobre meus almoços generosos, promoções de academia e incentivos para que eu volte a caminhar. Honestamente, não fico um dia sem cobrar de mim mesmo que deveria voltar a realizar minhas caminhadas matinais, mas a tentação de comer antes de dormir e acordar só meia hora antes de ir trabalhar é provocante demais para resistir. E depois que meus primos me visitaram nas férias, ainda ganhei um grande e belo lembrete para pendurar na parede que celebra bem meu novo e confortável estilo de vida: um quadro do Homer Simpson só de cueca em pé sobre um letreiro que diz, "Fat and Happy." Particularmente falando, eu gosto de pensar que é apenas uma foto minha ampliada que imortalizou minha nova filosofia: "Gordo e feliz."

Gula provavelmente é o pecado mais gostoso de todos, e sem dúvida é o mais praticado. Acho que todos que eu conheço consideram-se um pouco acima do peso, mas enquanto alguns correm para a academia ou então fazem promessas sem fim sobre "começar a malhar amanhã", os outros reconhecem o excesso de gostosura mas convivem em harmonia com seus quilos extras. Tudo bem, atividade física é importante, mas ainda conseguimos ver nossos próprios pés, não é? E se a coisa ficar séria mesmo, partimos para o regime... Começando amanhã, claro.

Comer é uma dádiva, e a cada fome somos agraciados com uma nova oportunidade de agradecer aos céus pela nossa modesta saúde e nos perder em nossa gordice através de festivais de açúcar, gordura trans e outras delícias que fazem a nossa alegria de viver e não ter vergonha de nossos culotes. E nossa alimentação torna-se cada vez mais variada de acordo com as mentes imaginativas de meus colegas "inchados"; misturamos doce com salgado, criamos novas experiências culinárias, enquanto celebramos e repetimos as mais tradicionais como ceias de natal, páscoa, até o sagrado almoço em família aos domingos e os churrasquinhos fervorosos aos feriados. Somos brasileiros, orgulhosos, visionários e, acima de tudo, gordos e felizes. Amém.

Ao som de: Sharp Dressed Man – ZZ Top.

Comentários

  1. esse eu tenho q comentar né??
    haha é ótimo q vc pense assim.. q se sinta bem e feliz do jeito q é.
    pior coisa é ter q aguentar pessoas q estão sempre se preocupando com a vida dos outros.. querendo dizer oq os outros devem fazer e como devem ser. kkk
    eu sei pq eu ja passei e ainda passo por isso.. Agora menos.. já q meu estomago novo não aguenta muita coisa e tbm deixei de gostar de muitas comidaas q antes amava kkk
    enfim.. fiz isso pra mim.. pq eu nao era como vc, nao me sentia bem cmg msm e ainda nao sinto..
    mas eu chego lá! hahah
    sucesso Igor! :D

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  2. Texto incrivelmente bem escrito Igor!Praticamente um manual de auto ajuda: como ser feliz em 2, eu e a minha barriga!
    Quem sabe amanhã não comece um regime... mas até que o sol de amanhã nascer eu vou comendo...Parabens pelos otimos textos! Eles tem realmente muito conteudo e densidade

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