A vida fica mais fácil de se levar quando a gente sabe o que quer dela, porque quando a gente não sabe... Por isso eu decidi que preciso dar uma atenção especial a esses vinte anos; é hora de definir algumas coisas que estavam pairando no ar. Foi aí que eu percebi alguns talentos que não me deixam mais ser tão modesto quanto antes, alguns gostos que simplesmente preciso admitir por mais chato que me faça parecer, e alguns medos que ainda me dominam mesmo depois de todos esses anos. E com isso em mente eu me voltei para alguns projetos mais introspectivos, como a construção de um novo lar e o conserto de um velho eu, e a aceitação das minhas próprias escolhas, mesmo que no fim mostrem ser mais infelizes do que pareciam.
As caminhadas ao nascer do sol voltaram a incorporar minha rotina, assim como o exercício de transcrever sentimentos que rondam soltos em minha alma para tentar entendê-los melhor – e quem sabe ajudar outras pessoas a pelo menos se sentirem menos sozinhas, porque este cara aqui costuma ter certas crises e neuroses que pelo visto mais gente por aí tem, mas não admite em voz alta - assim como a criação de novas telas e imagens que dão vida à uma série de obras de arte que refletem não só o meu dom com cores e contrastes, mas que também me servem para presentear outros ao meu redor com presentes únicos para que sempre se lembrem de mim quando verem aquele quadro na parede.
Só que durante o meu projeto, eu também tive que enfrentar partes mais obscuras de mim que até então pareciam assustadoras demais para revelar à luz do dia, como essa ansiedade louca e inexplicável de querer um final feliz sendo que minha história ainda está apenas no começo, e ainda há muito para ser escrito pela frente. Esse medo de ficar sozinho, de acordar um dia e descobrir que ninguém mais quer nada sério com ninguém e o mundo voltou-se para uma micareta gigante e sem fim, onde não há mais espaço para alguém com um coração como o meu. Eu sei que isso não vai acontecer, que "ninguém" na verdade implica muita gente e relacionamentos como nós os conhecemos nunca realmente deixarão de existir – mas é difícil demais aceitar o fato de que a "hora certa" não chegou ainda.
Mas tudo de bom e ruim, e inclusive o mediano, que existe em mim só serviu pra me mostrar uma verdade que estava mais enterrada em mim do que as raízes da minha paranóia: eu não sei o que eu quero. Eu digo que quero um relacionamento sério, mas depois digo que não sei se daria conta. Aí me deparo com casos, flertes e lances de uma noite e uma olhada só, e exclamo que não é nada disso que eu quero também, porque meu coração não admite nada que não seja verdadeiro e que não tenha um futuro adiante para seguir. Então, Igor, o que você quer afinal? Não sei. Tudo que me resta é continuar caminhando, desenhando, rindo, conversando, cantando, dançando, errando e acertando por aí, até que toda essa nova bagunça que se formou dentro de mim cesse e me mostre o que fazer.
Enquanto isso, acho que vou fazer o que eu quiser agora; o que me faz feliz e nada mais do que isso. Vou continuar a lidar com as minhas escolhas, com a minha arte, com o meu coração, e simplesmente aprender a esperar para ver o que acontece. Parece tudo muito simples, se não fosse tão complicado. Por isso eu preciso de um projeto, um plano e muita, mas muita esperança para seguir daqui em frente. Felizmente, eu não estou sozinho. Tem muita gente perdida, como eu, que me segue, e sou muito grato por isso. Uma hora ou outra, um de nós vai encontrar a resposta. Só espero que não demore mais vinte anos.
Ao som de: Heroes – David Bowie.
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