Estou desesperado por uma mudança. Por um rosto novo ou um lugar inédito e distante, de preferência. Talvez eu possa me contentar com uma rotina mais animada, ou com o som contagiante de risadas que fazem a gente perder o fôlego. Qualquer coisa, na verdade, que faça com que eu me sinta vivo e que esse dia não foi em vão. Qualquer coisa que prove que ter levantado da cama hoje de manhã fez mesmo diferença.
Estou ansioso mesmo para sair por aí de novo despreocupado, sem querer saber de hora pra voltar ou até mesmo de direção certa para ir. Estou agitado por dentro, só esperando para fazer uma idiotice típica da minha pessoa que apesar de tudo me fará rir. Estou louco por um porre, por uma noite de loucuras sem compromisso, e acho que nem faço questão de aprender o seu nome. Infelizmente, a pessoa que me impede de realmente sair por aí e fazer alguma coisa para me tirar desse tédio, dessa mesmice, dessa tal vida, é o cara que mora ali naquele espelho, e que me encara todos os dias com a mesma expressão de frustração e vontade de sentir toda aquela alegria, toda aquela paixão, toda aquela emoção de novo. Eu mesmo. E nem meu reflexo me deixa mais mentir.
O Igor no espelho sabe que tudo isso só depende de mim, então o que eu estou esperando? A hora certa? O lugar certo? A pessoa certa? Talvez eu viveria melhor se não passasse tanto tempo tentando discernir o certo e o errado o tempo todo. Honestamente, nós precisamos das coisas erradas de vez em quando. Precisamos cometer um erro até mesmo quando sabemos que é um erro. Eu, pelo menos, só aprendo de verdade depois de cometer o mesmo erro pelo menos umas duas vezes, sabe. Bom, o Igor no espelho sabe.
Por isso ele me olha assim, com desgosto e pena e uma vontade enorme de gritar. Mas ele sabe que ninguém vai escutar, ou mesmo que ouça não vão se importar tanto assim, então pra que erguer a voz? Eu não gosto disso. De viver dias iguais baseados nas mesmas coisas nos mesmos lugares com as mesmas pessoas. Eu achei que gostava e por isso me mantive assim, mas eu não agüento mais. A verdade é que eu não sei o que eu quero, mas acho que estou começando a entender do que é que eu preciso, e eu sei que o Caio me entenderia quando eu digo que tudo que eu gostaria agora para ser mesmo feliz é um porre e um novo amor. Não necessariamente nessa ordem.
Essa vontade louca de mudar só cria vida mesmo quando a gente resolve que a hora certa chegou. Quando a gente percebe que tudo começa mesmo com aquele rosto no espelho, que é parecido com o nosso, mas que parece ter muito mais profundidade do que a gente ao longo do dia. E é isso que eu vou fazer. E sabe o que foi que eu vi no espelho antes de dormir? Um Igor um pouco melhor do que aquele que acordou hoje, e com um pouco mais de esperança para começar uma mudança nesse reflexo.
Ao som de: Man in the Mirror – Michael Jackson.
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