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Temporadas de amor

Chega uma hora na vida de um homem em que ele percebe algo que nunca pensou que sentiria um dia. Uma hora em que ele olha para trás, para todos os relacionamentos que já teve e que pensou que seriam eternos – que todos aqueles sentimentos jamais terminariam ou esfriariam em seu coração – e então, em um dia qualquer, ele percebe que tudo passou. Que tudo terminou, sem ele mesmo sentir que deixou de sentir tudo aquilo. E para mim – logo eu, que tenho essa mania de me apaixonar e desapaixonar tanto – foi um momento muito estranho, perceber que nesses meros vinte anos de vida, e depois de inúmeras desilusões e desenganos, eu na verdade nunca amei ninguém. E nem cheguei perto também.

Apesar dos apesares, eu tenho uma visão sobre o amor sobre a qual eu nunca abri mão; nem mesmo durante as minhas crises de fé e esperança, que geralmente aconteciam enquanto eu estava ocupado sofrendo por alguém. Porque para mim, amor é a única coisa no mundo que não tem fim – não pode ter. Amor não acaba; amor se dá, se recebe, e se renova a cada gesto em que realizamos para o outro para provar que nos importamos. Amor não acaba; só aumenta à medida que você e eu não medimos esforços ou distância um pelo outro. Amor é aquela coisa que te faz correr atrás mesmo quando você sente que não deveria, mas ainda assim te faz querer tentar. Amor é aquele instinto de que o outro está sentindo a sua falta tanto quanto você. Amor é muita coisa, na verdade; tanto é, que não tem fim. E quando eu digo que nunca amei ninguém, é porque tudo aquilo que já senti antes nessa vida passou sem eu nem perceber, ou acabou da noite pro dia mesmo.

Eu não digo isso com tristeza; digo com maturidade. Talvez seja a maturidade que vem com a idade, depois de anos de drama e tragédia que só serviram para criar tempestades em copos d'água durante esse tempo todo. Sabe, amor também não é algo que a gente sente sozinho, assim, do nada, e continua dentro da gente. Amor nasce do que você e eu temos, do que você e eu criamos e tudo mais que parte disso. Amor é compartilhado, é construído, é conjunto. Não existe amor sem você e eu; no máximo, existe uma paixão avassaladora e uma série de outros sentimentos que fazem mal à minha saúde, que me deixam sofrendo sem motivo enquanto você continua vivendo por aí, achando que meus sorrisos são verdadeiros e que eu estou bem mesmo se a gente nem se fala mais. O nome disso é desejo; amor é outra coisa.

Amor é mesmo aquela coisa que por quase três anos eu tento descrever aqui; é aquela mulher que eu ainda procuro e espero encontrar no meio de todo esse caos e perdição que eu chamo de vida, e que faça valer todo o meu esforço e todas as lágrimas que eu nem consigo mais chorar, porque a vida me ensinou que não dá pra ficar sofrendo por outra pessoa sem que ela pelo menos não esteja sofrendo por você também. Amor pode ser muita coisa, mas sempre tem coerência – até quando não parece que tem. Mas sabe aqueles momentos em que algo acontece que te deixa pensando, "Por que isso aconteceu?". No amor, bom, quer dizer, depois que você encontra, você percebe todos os porquês que pareciam não ter motivo, e todas as respostas que ficaram pairando no ar. Acho que de tudo, é isso que eu espero pro ano que vem. Pelo menos uma faísca disso tudo, só para que eu continue acreditando.

É. Chegou a hora na vida desse homem aqui em que ele precisa se olhar no espelho e dizer: "Acorda pra vida. Pára de ficar pensando nela, porque ela já nem lembra mais da sua cara. E se amor fosse isso mesmo, você já tinha desistido faz tempo." Eu não estou mais procurando nem me desesperando, mas ainda penso nisso todos os dias e continuo acreditando baixinho, para não perder o costume. Quem diria, hein Igor? Logo você que vivia gritando por aí que estava apaixonado, nunca realmente amou ninguém? Pois é. Então o que foi tudo aquilo, afinal? Talvez tenham sido apenas temporadas de amor, que vieram e se foram assim como as estações do ano. Mas tem um ano novo chegando, e quem sabe não seja dessa vez em que as coisas se acertem?

Não me leve a mal; foi muito bom viver até agora através de temporadas de amor, mas acho que agora eu preciso de algo um pouco mais... Constante.

Ao som de: Seasons of Love – Rent.

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