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O melhor ano de nossas vidas

Na primeira madrugada de 2013, intercalando entre abraços, estouros de fogos de artifícios e copos de uísque e champanhe, eu recebi uma mensagem de texto que imediatamente tomei como tema para aproveitar as 365 oportunidades que estavam diante de mim. Não foi nada muito longo ou profundo, nem mesmo escrito corretamente, mas foi o bastante para que eu decidisse fazer desta vida, algo mais do que ela havia sido até então. Não que as coisas estivessem ruins ou monótonas, mas nunca se pode ter paixão demais pela vida, não é? “Feliz 2013, cara. Este vai ser o melhor ano das nossas vidas.” E o insight foi imediato; “Quer saber? Vai mesmo!” Encaminhei a mensagem para outros amigos, e repassei a filosofia para quem estava comigo ali na hora em forma de um abraço. E assim 2013 começou, repleto de toda a esperança, promessas e expectativas que só uma noite de ano-novo estrondosamente iluminada pode provocar.
E por alguns dias, meses até, o tema permaneceu. Claro que nem todos os dias foram os melhores das nossas vidas; entre desenganos, decepções e distrações, o ano estava lentamente atingindo sua cota de altos e baixos com perigoso equilíbrio, mas definitivamente não houve um dia chato sequer em que eu não passasse ao menos alguns minutos para lembrar da noite de ano novo e daquela esperança afrodisíaca com a qual eu havia decidido conviver até Dezembro e quem sabe, até além. Isto é, até ontem.
Depois de alguns contratempos – como o beijo que desmascarou o relacionamento que se tornou mais doloroso do que todos desde 1991, a odisseia de uma nova empreitada coorporativa que encontrou mais percalços do que se era esperado, encontros e desencontros (ênfase em desencontros) com a mais errada de todas as mulheres erradas para mim, a união com a mais certa de todas as mulheres certas para mim (só para descobrir, eventualmente, que não, não era...) e a agonia e o êxtase que surgiram através do mundo quando eu admiti que, apesar dos apesares, nós funcionaríamos melhor se continuássemos apenas você e eu, separados e demasiadamente sadios, e a decadência de um sonho empresarial que levou a uma espiral decadente de todos os outros sonhos que eu ainda tinha guardado no bolso e no coração, veio o fatídico 21 de Maio de 2013. Também conhecido como O dia em que nada aconteceu. O dia em que o tédio existencial, ou a preguiça, ou a tristeza, ou qualquer outro sentimento pessimista ou solitário assumiu o controle. Ou, O dia em que o melhor ano de nossas vidas deixou de ser...
Eu não desisti, mas estou consideravelmente pessimista em relação ao que fazer daqui em diante. Primeiro eu pensei em simplesmente fingir que está tudo bem e continuar em frente, mas isto durou só uns dez minutos até eu perceber que não tem nada de simples em mim a não ser pela capacidade de reconhecer a complexa síntese de neuroses e formação reativa de calamidade e caos interpessoal que, em termos legais e para propósitos de preenchimento de formulários e reconhecimento social, chama-se Igor. Em seguida eu decidi que, já que não sabia o que fazer, melhor fazer o que não queria, mas que precisava ser feito: relatórios de estágio, embasamento teórico de TCC, limpar o quarto, fazer a barba... Mas, e depois? De nada adiantou a não ser servir de embasamento teórico para o TCC e os relatórios dos outros, e para deixar de ser um “des-colírio” para os olhos dos outros com a minha tradicional cara de mendigo que eu tanto tento cultivar porque me traz conforto suficiente para expressar minha natureza sarcástica com segurança de que meu ar de despreocupado e desleixado providenciaria moral o bastante para manter minhas ironias vivas e iconicamente pertinentes.
Mas apesar de tudo que aconteceu ou não, nenhum dia foi chato ou desnecessário. Eu acordei, preparei meu cappuccino matinal, saí para trabalhar pelas ruas agora rotineiras de uma atualmente fria Cascavel (ou ocasionalmente calorosa, depende do humor da cidade, que oscila tanto quanto o meu), e reencontrei as pessoas que fazem parte da minha vida hoje, conheci outros rostos que também se adequaram aos meus padrões insanos de sociedade alternativa e comentários consideravelmente inoportunos (porém, hilários), visitei meus lugares favoritos, outros nem tão essenciais e alguns inexplorados até então, e transformei algumas das 365 oportunidades que recebi no meu ano-novo em algo bom, às vezes diferente, talvez nem sempre hilário, mas definitivamente importante para fazer jus à promessa de que este seria o melhor ano de nossas vidas.
Foi um ano de paixão sim. E de risos e gargalhadas que criavam lágrimas. De novos e velhos amigos, de mundos antigos e inexplorados, de visitar cidades-natais e capitais emocionantes. De relacionamentos reais e imaginários, de beijos apaixonados, bêbados e roubados. De dar as mãos, abraçar e prometer coisas “para sempre”. De se arrepender, pedir desculpas, prometer fazer melhor da próxima vez e terminar enquanto ainda nos importamos um com o outro. De comemorar toda e qualquer vitória, de não deixar nenhuma derrota ofuscar o melhor de você ou alguém com quem você se importa. De brindes, discursos e declarações de amor e mudança. De surpresas, descobertas e momentos essenciais de ridículo e, acima de tudo, felicidade.
Foi o melhor ano das nossas vidas, sim. Como dissemos que seria no ano-novo e como, apesar de um 21 de Maio ou outro em nosso caminho, jamais nos falhou ou nos fez pensar em desistir e sentar para esperar outro ano melhor começar. Este é o ano novo, e a hora de continuar fazendo jus a ele é agora. Afinal, ainda estamos só em Maio e veja só até onde chegamos. Não sonhe que acabou. Nem todo dia é ano-novo, mas nem todo dia é 21 de Maio. O resto a gente inventa, e se der medo, vai com medo mesmo. Se fizer rir, que nos faça chorar de rir. Se só fizer chorar, que seja por dez minutos ou só um dia. Mas se nos fizer feliz, que seja até Dezembro. Ou, quem sabe, até mais além.


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