Pular para o conteúdo principal

Pequenas esperanças


            Eu estou esperando. Esperando por uma explicação, por uma desculpa, por um sinal de coerência. Estou esperando por uma mudança. Esperando para acordar um dia e me olhar no espelho e realmente sentir que os anos fizeram alguma coisa em mim além de deixar cicatrizes, rugas de expressão, bolsas debaixo dos olhos e saudade. Estou esperando para ver você de novo. É, isso mesmo. Estou esperando por você, mesmo sabendo que você não vai chegar.
            Às vezes parece que tudo que eu faço dessa vida é esperar. Por uma carona, por um conselho, por um abraço, por um milagre... E eu sou bom em esperar. Essa é a pior parte. Porque quando se é bom em esperar, as pessoas que são boas em se atrasar ficam bem mais tranquilas consigo mesmas. E se atrasam ainda mais, isso quando aparecem. Estou esperando por algumas pessoas até agora e não, eu não tenho um bom motivo para estar aqui fora no frio ainda por mais óbvio que seja que você não virá até mim. Mas eu espero. Senão por você, espero por alguém.
            Há anos que eu espero por alguém. Por alguém que me explique porque nada deu certo antes. Por alguém que me diga que eu posso sentar e descansar, porque ela chegou. Por alguém que me diga que a espera acabou. Que aqui estamos, juntos finalmente. Estou esperando por amor, justamente agora em que percebi que esse tipo de coisa boa só acontece quando estamos ocupados com outros compromissos, independente se são importantes ou não. A não ser que você esteja esperando pela pessoa errada. Esperando que da noite pro dia ela se torne certa. Esperando que da noite pro dia ela decida ficar com você. Esse é o problema em ter grandes esperanças: quando se espera por tudo, você pode acabar sem nada.
            É por isso que eu estou tentando reaprender a viver, começando pelo que eu espero disso tudo. Das pessoas, das coisas, da vida em si. Espero sinceridade. Espero respeito. Espero cumplicidade, reciprocidade. Espero até um pouco de reconhecimento, porque cansei de emprestar vida demais para quem sequer percebe que eu existo. Espero aceitar meus erros e tentar crescer com eles. Espero aceitar a mim mesmo, porque apesar dos apesares este é o rosto que eu verei no espelho pelo resto da minha vida, com rugas, marcas, espinhas, olhos cansados e tudo mais que ali reflete.
            Confesso que ainda espero por você, mesmo sabendo que você não vai chegar. De todas as esperanças, esta é definitivamente a que eu mais preciso abandonar, e a mais difícil de se abrir mão. Porque não é de hoje que eu estou esperando, e por mais distorcida que seja a sua presença na minha vida, quando alguém está com você por tanto tempo é difícil deixar de esperar por qualquer coisa. Mas de vez em quando eu ainda me pego esperando, por mais que eu queira seguir em frente sem ninguém. Por mais que eu gostaria de não precisar de nada nem ninguém, e de acreditar que eu poderia acertar todas sozinho, eu mesmo me prendo. Por mais que aqueles que gostam de se atrasar ainda se aproveitam da minha paciência, da minha compaixão e do meu companheirismo, eles só continuam chegando atrasados porque eu ainda estou ali esperando.
            Felizmente ou infelizmente, toda essa espera me fez perceber que nem tudo na vida vale a pena o tempo perdido. Mas pra alguns poucos eu ainda faço questão, porque ao relembrar sobre exatamente o quanto tempo eu esperei por essas pessoas, alguns minutos a mais de atraso não são nada. E quanto a você, que eu venho esperando há quase uma vida, eu decidi não me preocupar mais. Acredito que você está vindo o mais rápido que pode, e que se não chegou ainda é porque ainda não está na hora. Ainda existem algumas lições que eu preciso continuar esperando para aprender, antes de encontrar você e gritar aos céus que a espera acabou.
            Não é bom criar expectativas, mas apesar do coração partido e todo o cansaço que desgasta a minha alma, eu ainda gosto de me dar ao luxo de ter pequenas esperanças. Ou eu continuo a esperar por algo a mais desta vida, ou eu morro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha melancolia existencial.            

A girafa e o chacal

Melhor do que os ensinamentos propostos por pensadores contemporâneos são as metáforas que eles usam para garantir que o que querem dizer seja mesmo absorvido. Não é à toa que, ao conceituar a importância da empatia dentro dos processos de comunicação não violenta, Marshall Rosenberg destacou as figuras da girafa e do chacal . Somos animais com tendências ambivalentes – logo, nada mais coerente do que sermos tratados como tal.  De acordo com Marshall, as girafas possuem o maior coração entre todos os mamíferos terrestre. O tamanho faz jus à sua força, superior 43 vezes a de um ser humano, necessária para bombear sangue por toda a extensão do seu pescoço até a cabeça. Como se sua visão privilegiada do horizonte não fosse evidente o suficiente, o animal é duplamente abençoado pela figura de linguagem: seu olhar é tão profundo quanto seus sentimentos.  Enquanto isso, o chacal opera primordialmente pelos impulsos violentos, julgando constantemente cada aspecto do ambiente ao seu re

Wile E.: o gênio, o mito, o coiote

Aí todo mundo no Facebook mudou o avatar para a imagem de algum desenho e eu não consegui achar mais ninguém, mas depois de um tempo eu resolvi brincar também. O clima de celebração do dia das crianças invadiu as redes sociais de tal maneira que todos nós acabamos tendo vários flashbacks com os desenhos de nossos colegas, dos programas que costumávamos assistir anos atrás quando éramos crianças e decorar o nome dos 150 pokemons era nosso único dever. E para ficar mais interativo, cada um mudou a imagem para um desenho com qual mais se identifica, e quando a minha vez chegou, não tive dúvidas para escolher nenhum outro senão meu ídolo de ontem, de hoje, e de sempre: o senhor Wile E. Coiote. Criado em 1948 como mais um integrante da família Looney Tunes, Wile foi imortalizado pelo apelido e pela fama de fracassado em sua meta de vida: pegar o Papa Léguas. Através de seu suposto intelecto superior e um acesso ilimitado ao arsenal de arapucas fornecidas pela companhia ACME, Wile tento