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A volta do que não foi


Demorou alguns dias, mas eu finalmente cheguei a uma conclusão sobre o meu atual estado de espírito: encurralado. Agora, porque eu me sinto assim, são outros quinhentos. Resultado de outras histórias que, sinceramente, pouco interessam agora. Porque o ano mal começou e eu tenho muito pela frente e, honrando a tradição e o meu título de pentacampeão estadual de me enrolar em confusões, ainda há muitos erros a serem cometidos nesta vida. Portanto não tenha pressa, Igor. Esta história vai ser longa. E quem sabe este não é o ano em que eu finalmente crie coragem de emoldurar todas esses contos e desencontros em um só livro? Talvez acabe se tornando uma mistura de Minutos de Sabedoria com As Crônicas de Nárnia, com um toque de O Iluminado. Assim, pra dar um gosto de surrealismo e neuroticismo, mas com uma moral significativa no final.
   Recentemente chegou à minha atenção algo sobre o qual eu havia perdido completamente a noção: eu posso fazer o que quiser desta vida. Inclusive nada, ok? Mas já faz algumas semanas que nada anda rolando por aqui, e eu acho que cansei. É. Acho que já estou pronto para levantar da cama e procurar um rumo de novo. Uma outra rotina sobre a qual eu possa reclamar constantemente, mas que invariavelmente também sirva para me inspirar sobre outras coisas. E uso “coisas” aqui contra o meu senso interno de censura, visto que me lembro muito bem das minhas aulas de redação do terceiro ano do colegial, de quando nossa professora foi muito clara ao declarar o uso do termo “coisa” como um atestado de vocabulário pobre. E frisou muito sobre a importância de dar significados a essas coisas, visto que estamos diante de um mundo tão repleto, tão vasto e tão imenso, que simplesmente não é possível render as nossas vontades ou os nossos sonhos a um mero substantivo tão abstrato. Vale ressaltar que talvez tenha sido daí que nasceu a minha necessidade incansável de procurar atribuir valores e significados para tudo e todos os fragmentos que compõe a constelação de erros e acertos aleatórios da minha vida. Mas aí é outra história, para outro capítulo.
   Sobre me sentir encurralado, acho que isso já deu. Porque demorei tanto para encontrar uma saída... Bom, eu culpo o feriado prolongado, os dias de chuvas intermináveis e meu recém-descoberto vício por descobrir o que mais acontece com Walter White em Breaking Bad. Mas já estou quase no fim da série e a chuva lá fora parece ter cessado; ou seja, está na hora de encontrar um caminho. Um caminho que não necessariamente precisa incluir a graduação que eu concluí, a cidade em que eu moro, ou até mesmo este país que, cá entre nós, parece estar ruindo como um castelo de cartas ultimamente. OBS. Baixar a primeira temporada de House of Cards.
   O que eu quero dizer exatamente é que não, eu não pretendo cruzar a fronteira para começar uma vida nova como curandeiro da fé nas cordilheiras do Chile. Ainda não. Antes disso, eu quero continuar aqui por mais um tempo, cercado por essas ruas que há tempos já deixaram de ser desconhecidas, e com as pessoas que – apesar de terem me deixado sozinho aqui, na apoteose de um insight, em pleno feriadão – eu gosto de compartilhar as minhas conquistas. Até porque, eu prevejo muito esforço para nos reunirmos para conversar no alto da cordilheira dos Andes. E tenho minhas dúvidas sobre a possibilidade de haver uma sacada por lá para sentar e beber.

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