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O dia que não terminou


Então... Onde eu estava?

Ah, sim: Cascavel, Paraná. Um ano e meio atrás.

Muita coisa mudou desde então. Na última vez em que escrevi aqui, eu estava prestes a receber meus amigos em casa para a nossa festa de despedida do meu apartamento. O lar onde morei por cinco anos, onde amadureci mais do que gostaria de admitir que havia sido possível, e onde vivenciei alguns dos momentos mais marcantes da minha vida. Foi o lugar em que eu mais chorei pelas vitórias e derrotas com as quais me deparei por aí, por mérito próprio. Depois de inúmeras entrevistas de emprego, dias ruins no escritório, problemas de relacionamentos, discussões com amigos por bobeiras e desentendimentos... E tudo mais que servisse de catalisador para me motivar a me sentar em uma das cadeiras da sacada por horas e horas, com alguma bebida em uma mão, e o por do sol refletindo nos meus olhos.

Mas aquela noite. Ah, aquela noite... Essa sim foi inesquecível. Amigos que conheci durante meus anos em Cascavel se reuniram em casa para uma última festa. A despedida de todas as fotos que tiramos sentados no sofá com aquele papel de parede que eu sempre odiei ao fundo, mas que sempre foi essencial para eternizarmos os nossos momentos em família. O adeus a todos os jantares que compartilhamos naquela mesa da cozinha, com uma das partes do tampão quebrada devido a um incidente envolvendo uma panela com carvão de arguile que foi esquecida em cima do vidro, o que sempre nos obrigava a sentarmos consideravelmente perto uns dos outros se quiséssemos que todos coubessem ali. E por fim, uma última visão da sacada do apartamento, onde fomos do céu ao inferno, e do inferno ao céu inúmeras vezes ao ponto de considerar aquele pequeno espaço que parece ter sido especialmente criado para dois – alguém que precisasse conversar e alguém para ouvir – como um verdadeiro santuário.

Eu fui feliz em Cascavel. Claro que fui. E ainda sou, todas as vezes que volto para visitar. Mas o motivo da minha partida parecia ser bem claro para mim. Apesar das pessoas incríveis com quem eu tinha a sorte de dividir a minha vida, a vida em particular que estava sendo dividida não era a que eu queria. Era só a que eu consegui ter, entre trancos e barrancos ao longo do tempo. Entre dificuldades e oportunidades que agarrei por falta de coragem de ir atrás dos meus sonhos de verdade. E quando eu finalmente criei a coragem, descobri que precisaria abrir mão desta vida – e da proximidade de todos que já haviam me ajudado a chegar até ali. Algo que já não parecia mais tão impensável para mim.

Afinal de contas, eu já havia feito isso antes. Anos atrás, em uma escolha parecida, que me levou de Londrina para Cascavel em primeiro lugar.

O que eu quero dizer com tudo isso é que – pasme – as coisas mudam. As coisas e as pessoas. Mas pelo que parece, a única constante parece ser os sonhos que construímos para nós mesmos. No meu caso, foi o sonho de ser jornalista que me levou a mudar de cidade para cidade, até enfim encontrar a primeira oportunidade de tornar este sonho uma realidade. Eu só não sabia que iria parar aqui, no calor de Foz do Iguaçu, me sentindo mais sensato do que pensei que poderia ser. E cá entre nós: sensatez é chata.

Mas foi no meio da minha lucidez que reencontrei a esperança que vivia em mim. A esperança que me trouxe até aqui, na forma de uma filosofia que repeti por anos para me ajudar a continuar seguindo adiante. Dentre tantas crenças que carreguei comigo – como a noção de que não importava o que acontecesse, nós ficaríamos bem – esta foi a primeira e talvez a mais importante de todas. Durante os dias que pareciam intermináveis e as noites em que só fui capaz de pegar no sono depois de muito choro por saudade, era isso que eu repetia para mim mesmo: você vai adorar o amanhã, Igor.

E é por isso que estamos de volta, escrevendo por aqui. A vida me trouxe mais longe do que eu esperava, e me deixou mais diferente do que eu consigo reconhecer às vezes. Eu não gosto de ser a pessoa inquieta, estressada e ranzinza na qual me tornei de uns tempos pra cá. Mais do que nunca agora, eu preciso de esperança para me manter feliz. O segredo para não se tornar insatisfeito com seus próprios sonhos, está em aprender a equilibrar-se neles quando os alcança. E quando um dia de trabalho for difícil, ou um relacionamento relevar ser menos importante para a outra pessoa do que para mim, eu quero que haja algo no qual possa me apoiar quando deitar minha cabeça no travesseiro à noite.

Os dias em que saí de casa, de Londrina e de Cascavel, são momentos que revivo a cada dificuldade que enfrento, cada desilusão que encontro e cada vitória que conquisto. É um lembrete constante de tudo que abri mão para ir atrás do que pensava que queria, e é por isso que eles devem valer a pena. Nada foi em vão, e jamais será.

“O mundo não é mais um lugar romântico. Algumas pessoas, no entanto, ainda são, e a elas cabe uma promessa. Não deixe o mundo vencer.”

Para você que ainda não conhecia esta parte da história, siga adiante comigo.

Nós ficaremos bem.

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