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Não sei porque você se foi...

É claro que eu sinto a sua falta. Você sabe disso, porque eu nunca fui bom em disfarçar o meu amor pela vida afora. E eu sei que você sente a minha. Senão o que mais justificaria estarmos aqui? Conversando indiretamente? Pensando seriamente em como seria bom deixar o orgulho de lado para te desejar um bom dia mais uma vez. Mas eu não posso fazer isso. Ou não devo? Eu não sei. As coisas andam tão confusas desde que você se foi. E por mais que eu soubesse que ficariam assim, eu ainda tive esperanças. A mesma esperança que me motivou a cumprimentar você pela primeira vez.

Ninguém começa nada imaginando em quando ou como irá terminar. Foi assim que eu encontrei você: esperando inocentemente pelo melhor. Mas parte de mim – aquela que eu comentei contigo, cheia de traumas, cicatrizes e medo – permanece invariavelmente alerta aos sinais de que o fim está sempre próximo. A cada resposta impensada, cada movimento brusco, cada olhar desencantado. Eu não te avisei que as pessoas sempre vão embora? Não te disse que havia algo de errado comigo? Mas você disse que era só coisa da minha cabeça, que eu devia relaxar, e que tudo ficaria bem.

Bom... As coisas não estão bem, querida.

***

É como se um vazio imenso existisse em mim agora. E que só aumenta com cada coisa que eu precisava desabafar, mas que de nada adiantaria ser dito se não fosse a você. Começando pela pergunta que me mantém acordado à noite, virando de um lado pro outro em constante indignação: por que você sumiu?

O que te fez ir embora? Foi alguma coisa que eu disse? Algo que eu fiz? Ou então, algo que lhe fazia falta, e que você automaticamente presumiu que eu não seria capaz de proporcionar? Parece mais irônico do que triste; sentir que algo lhe faz tanta falta em alguém, ao ponto de preferir fazer falta para ela também. E por mais que eu seja obrigado a dizer que entendo esse tipo de movimento, eu... Não entendo. Até mesmo quando quem partiu fui eu.

Mas você disse que seria diferente. Disse que eu podia confiar. Prometeu que estaria aqui.

***

Algumas perdas doem mais do que outras. Quando as pessoas se vão por causas naturais, a indignação eventualmente cede seu lugar à aceitação. Somos seres naturais dotados de uma vida finita em um mundo inconstante. A partida é a única certeza. A imutável definição que tomará conta de nós mais cedo ou mais tarde. Mas quando as pessoas partem só para longe de nós, e ainda permanecem no mesmo mundo que a gente, é como se eu morresse de novo e de novo e de novo a cada encontro inesperado na rua. Revivendo o choque e a desilusão de que você está por aí, livre, sendo mais feliz do que pensou que poderia ser ao meu lado. E é um direito que a gente tem, sem dúvida. Desapegar-se de algo ou alguém que já não combina mais com a gente, para seguir um caminho por conta própria pode ser mais saudável do que passar uma vida inteira acorrentado a um compromisso com outra pessoa que simplesmente não nos entende. Ou pior; uma pessoa que simplesmente não se importa se estamos ali ou não.

Eu só queria que você tivesse sido sincera. Tão sincera quanto eu tentei ser ao entregar as minhas dúvidas, meus sonhos e todo o meu amor em suas mãos. Entendendo que você queria recebê-los. Confiando que você ia cuidar da gente também.

Por que você teve que ir embora?!

Eu fico constantemente assustado com o quão rápido nós passamos da mais profunda intimidade a nada. Deixando toda a cumplicidade, as piadas bobas, o gosto do seu beijo, o toque suave da sua pele, o cheio apaixonante do seu perfume, se perderem em reticências que nunca levarão a uma explicação.

Você só sumiu. Da noite pro dia. E não a nada que eu possa fazer senão superar. Aceitar. E encontrar em mim de algum jeito, fôlego e forças para tentar mais uma vez com outra pessoa. E eventualmente eu conseguirei fazer isso. É claro que conseguirei. Eu mesmo me assusto com o otimismo e a esperança que ainda vivem em mim.

Mas existem dias como esse. Em que eu preciso parar e confessar o quanto eu honestamente, loucamente e profundamente gostava de você.

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