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O soneto da mensagem instantânea


Tarde chuvosa, céu cinza, edredom.
Sábado à noite, clima ameno, vinho tinto.
Sofá, preguiça, televisão.
Acolhimento, segurança, conforto.
Felicidade nas pequenas coisas, em tempos nublados, só porque sim.
Sem motivos, sem pressão, sem explicações.
Conversa, risada, olhares.
Eu, você... É. Isso.
Neste verso, só eu e você.

Talvez o que complique as coisas seja querer sempre algo a mais do que isto.
Ou uma razão para isto.
Ou se concentrar no que não está ali no momento, do que no momento que está ali.
Ou, ou, ou...

Ou nada.
Pare com isto.
É sempre assim.
Tudo ou nada.
Mais do que tudo.
Mais do que o agora.
O que aconteceu com a simplicidade?
O que aconteceu com a gente?
Quando foi que deixou de ser divertido?
Por que não responde?!

O céu estava fechado e agora se abriu.
Manhã seguinte. Louça suja na pia. Claridade.
Preguiça de fazer o café, de levantar da cama, de viver de novo.
Fragilidade, vista embaçada, dores nas costas.
E aos poucos foi deixando de ser simples, prático, aconchegante.
E virou rotina, trabalho, canseira.
Estresse, nervoso, pressa.
Tédio, dúvida, impaciência.
Tanto faz, mas isso não.
Nem isso.
Nem isso!
Quer saber?
Deixa quieto.
Por que?
Porque sim.
Porque nada!
Porque esqueça!
Tchau.
Tchau!

Oi.
Oi.
Desculpa?
Desculpo.
Vem cá.
Tudo bem.
Passou?
Passou.
E agora?
Abre um vinho.
Chove lá fora.
Escute a chuva.
Feche os olhos.
Me dê a mão.
Um brinde.
Saúde!
Saúde.
Te amo.
Te amo!

Domingo à noite, fadiga, insegurança.
Me abrace, me beije, me queira.
Me segure, me proteja, me escute.
Me ajude a não estragar tudo, a não cometer um erro, a não desistir.
Tudo bem.
Tudo bem?
Tudo bem.

Boa noite.

Até a próxima.

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