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O fim do começo, ou deixe ela ir


 

Parece ser definitivo. O término de um ciclo. O fim de uma era. Um sol que se põe. Escolha o seu clichê favorito para ilustrar uma forma pela qual algo se encerra e o insira aqui. Mas nem todos os clichês do mundo podem atrasar o inevitável. Meus vinte e poucos anos estão acabando. E com eles lá se vão os planos que gostaria de ter colocado em prática para colher os frutos aos trinta. Maturidade é realmente como um financiamento imobiliário: ou você planeja investir nisso com antecedência, ou chega o dia em que descobre que não existe fundamento para os seus sonhos


E assim como o fim das desculpas para ser imaturo se aproxima, também me despeço da paciência para certas convenções tão características dos vinte e poucos anos. Dos infames jogos de atração aos trágicos vácuos de conversa. Ou como um amigo descreveu tão eloquentemente: a roleta do amor, a dança da paixão, o bingo da sedução, o pega-pega do cortejo, o passa anel apaixonado, a disputa do desejo, entre outros títulos mirabolantes. 


Todos simbólicos da eterna luta que você trava consigo mesmo para expressar o bastante para manter aquele alguém interessado, mas não a ponto de admitir que está tão interessado quanto – ou pior, mais do que ele(a). Por que, Deus, por que?!


O bom de atingir algum nível de maturidade é a capacidade de finalmente olhar para trás e questionar-se em termos de “o que diabos você esteve fazendo todos esses anos?”. “Ela não te procura, não te responde, não te fez uma pergunta, não te disse o que estava fazendo nas últimas duas semanas desde a última vez em que tentou procurá-la... Por que diabos ela estaria interessada?”. 


Dizem que os opostos se atraem. Meu palpite é que são as mesmas pessoas que empurram portas onde se está escrito “puxe”. Somos atraídos por contradições. Intoxicados por contravenções. Viciados em proibições. Iludidos pelo inalcançável, acreditando que seja sempre mais interessante do que está diante de nós. “Está inalcançável por um motivo!”, concluiríamos. 


Claro. Porque geralmente o que está indisponível é mesmo por um motivo intrínseco à sua existência nesse mundo. Outro benefício da maturidade: você se põe no seu lugar. Nem que seja para descobrir o quão imenso é o universo ao seu redor, e que ao contrário de tudo aquilo que você acreditava, a lua não entrou em Sagitário só pra te ajudar a criar coragem a mandar mensagem pra morena. 


Sabe o que também costuma estar inalcançável por um motivo? Veneno.


Talvez eu só esteja cansado. Impaciente com os vácuos e desconfortável com o calor. Ou talvez sejam as chamadas dores de crescimento que, bem como os dentes do siso que eu inexplicavelmente acreditava que não tinha porque era um ser mais evoluído (sério), finalmente vieram à tona. Não por bem, mas para o bem. Algumas bagagens não precisam mais ser arrastadas ao longo dos anos, entre cidades, ocupando espaço em ônibus. E algumas crenças injustificáveis, assim como a maioria das minhas roupas, não me servem mais. Mudar, na falta de uma necessidade mais aparente, é viável agora.


É isso que me motiva a compartilhar algumas lições das quais tento me lembrar todos os dias. Além da promessa de não deixar o mundo vencer o romantismo que ainda vive em mim e a utopia das mãos dadas no shopping, há uma verdadeira odisseia nessa ponte. Por isso anote para não esquecer: tudo acaba. Tenha prioridades. Vá com calma. Valorize as pequenas vitórias do dia a dia. E acima de tudo: deixe ela ir.


Deixe ela ir, pra você ir também...


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