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Todos são normais

A cada dia que passo dentro da sala de aula do meu curso, eu sinto minha saúde mental sendo testada mais e mais a ponto de imaginar o inimaginável: eu sou normal? Justo agora que eu passei a considerar que talvez eu não tivesse tanto contato com a realidade como eu acho que tenho, no fim do dia descubro que minhas irracionalidades, minhas neuroses, meus dramas mexicanos e minhas crises existenciais são meras irritabilidades cotidianas que apenas fortalecem meu eu: esta bagunça ambulante que desistiu de tentar encontrar coerência em suas ações, e agora só procura coerência dentro de sua própria incoerência, para evitar confundir-se mais do que o de costume.

Mas conseguir dar um passo para trás e analisar tudo isto faz de mim algo além do excepcional com o qual já havia aprendido a conviver. Quando havia encontrado uma zona de conforto meio a tantas variáveis, eis que me surge a verdade inconveniente: sou normal, e não há nada de neurótico em minhas neuroses. Sempre evitei misturar-me com o bege do mundo por ser a favor do que o coletivo é contra, e por ainda estar convicto com minhas crenças impossíveis e minhas deliciosas ilusões que vão além daqueles que possuem os dois pés no chão. Isto sim é motivo para pânico; é normal ser normal sem querer? E se somos todos normais, o que estimula nossas paranóias?

Existe uma linha tênue entre a lucidez e as pessoas que falam sozinhas em público, e aqui estamos brincando de manter o equilíbrio com um pé à frente e um atrás. Afinal de contas, loucura é como a gravidade; só é preciso um empurrãozinho.


Ao som de: Guido’s Song – Daniel Day-Lewis.

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