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Mostrando postagens de 2013

Desafio completo

Eu preciso de um ano novo. Não me leve a mal; 2013 conseguiu ser ainda mais do que eu esperava quando desejei esperançosamente durante o réveillon passado que este fosse o melhor ano das nossas vidas, e de certo modo foi. Claro, erros foram cometidos, calamidades aconteceram, pessoas se afastaram e, por mais que pareça que nada mudou, tudo está diferente. Eu estou diferente. Eu cresci, amadureci, sorri (inclusive em fotos), chorei, ri, gritei, andei, corri, me acidentei e voltei a andar. E cá estou, tentando ser assíduo com a minha escrita que, por algum motivo, não parece mais fluir tão naturalmente quanto antes. Talvez seja por cansaço, talvez seja pela fadiga emocional que eu ando arrastando dentro de mim. Eu não sei. Ultimamente tem sido difícil discernir algumas coisas, como quem é amigo e quem não é, aonde eu quero ir e aonde eu não quero, e quantas pedras de gelo eu quero no meu copo de uísque. Mencionei que já posso beber de novo? Pois é. Seis meses depois e cá estamos, já

Uma comodidade preciosa

             Uma semana antes de me mudar para Cascavel, eu me lembro de estar conversando com um dos meus melhores amigos na sacada da casa dele. E durante uma das nossas últimas madrugadas de tereré, arguile e filosofia enquanto eu ainda morava lá, eu tive um pensamento ridículo: - Eles vão me odiar lá. - Por que acha isso? - Porque sim. Não sei se vou conseguir fazer amizades por lá. Eu sou difícil... - Sim, você é. Mas você vai fazer novos amigos sim. Só não se esqueça dos antigos...             E por um tempo eu acreditei nele, especialmente durante os primeiros meses de adaptação em uma nova cidade que decididamente não parecia se importar muito com o quanto era difícil para mim me acostumar com todos aqueles novos rostos, ruas e compromissos. Talvez eu fosse mesmo difícil demais para cativar outras pessoas fora do meu habitat natural.  Ou talvez eu estivesse com medo demais. Medo de abrir a porta para que alguém pudesse entrar e se sentir a vontade com a minha

Armas de auto-destruição

“ Minha dor é silenciosa. Sinceramente, acho que nem minha dor sente que dói. Ou então se sente, acho que não liga mais. Minhas lágrimas, quando existem, são secas. Evaporam em questão de segundos, antes mesmo que alguém seja capaz de perceber que havia sofrimento neste olhar, nesta alma amaldiçoada pela comodidade que a melancolia há tempos lhe proporcionava. Meu coração não está partido. Meu coração está quebrado, esmigalhado, estraçalhado e espatifado no chão, refletido somente através de um milhão de cacos impossíveis de se reajuntarem. Mas não é por sua causa. Ah, não. Definitivamente não é por sua causa. É por mim mesmo. Fui eu. Fui eu quem te fez abrir as mãos para segurar a chave da minha casa, o número do meu telefone, o endereço do meu prédio, a contradição da minha alma e toda a esperança que ainda ecoa dentro de mim, rezando solenemente por abrigo na eternidade da minha existência amargurada e inconsistente sem o ardor do seu olhar. Eu amo você, mas eu entendo completam

Tudo pode acontecer

            Tudo está acabando. Eu disso isso há um mês, quando Novembro parecia ser apenas mais um mês e não um prelúdio a propagandas de Natal na televisão, confraternizações de amigo-secreto, e ligações da minha mãe para que eu comece a procurar por um peru desossado para a ceia. Parecia ansiedade de separação demasiada por um ano que ainda tinha muito a oferecer, salvo pelo acidente que, felizmente, em vês de me subtrair uma perna, me trouxe uma vacina anti-tétano e um celular novo. Mas aqui estamos, senhoras e senhores. O fim do ano chegou. Os parentes já estão avisando que virão, as luzes de Natal já estão acesas, as aulas acabaram e o fatídico tédio das férias já tomou conta da minha rotina. 2013, você foi muito bom pra mim, até mesmo enquanto estava me torturando, mas você ainda tem mais 30 dias pela frente para se superar e me surpreender.             Não me entenda errado, 2013. Eu sempre costumo dizer às pessoas que minha vida, além de engraçada, é ridiculamente boa. C

Pequeno Marcio, grande Igor

         Um dia desses eu resolvi criar vergonha na cara e fazer a barba, e tive uma surpresa. Quando o meu desmatamento facial terminou, já não era mais o meu resto que eu via no espelho. Era o seu. Depois de anos deixando a barba crescer pra facilitar o discernimento das pessoas entre eu e você, eu descobri que não adiantava nada. Nós somos iguais. O que não deveria me surpreender tanto, se tudo o que eu realmente precisava fazer não era nem fazer a barba e me rever no espelho, mas só olhar para você entre um sermão e outro, para perceber exatamente quem eu sou. Nós brigamos o tempo todo. É assim que as pessoas nos veem, e às vezes é assim que eu mesmo me sinto quando falam de nós. Somos teimosos, impacientes, grosseiros, passionais, exagerados, sarcásticos e criticamente destrutivos. E não só um com o outro, mas com quem ousar nos desafiar, achando que sabe mais do que nós. Isto também explica porque não existe um consenso entre nós exceto quando cada um sai andando pra um la

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha melancolia existencial.            

Um pouco mais de segurança

             Eu acho engraçado reparar que o quanto mais fantástica é a pessoa que hoje faz parte da minha vida, mais irônica é a história de como isso aconteceu. E você e eu não somos exceção. Pelo contrário. Se eu parar pra pensar nas pessoas que eu jamais esperava conhecer, não por alguma falta de afinidade, mas por desencontros de oportunidade, é provável que a nossa história seja a mais infame. O que automaticamente faria dela a melhor.             E qual é a história, afinal? O ano foi 2012. O lugar foi uma cervejada ensolarada nos arredores de Cascavel. Eu não estava muito acostumado com aglomerações alopradas e alcoolismo liberado em plena luz do dia, acompanhados das trilhas sonoras mais ridiculamente aleatórias possíveis, mas diante das opções disponíveis para aquele fim de semana, era o que restava. Eu estava usando uma camiseta preta com um pequeno símbolo indescritível de uma marca desconhecida, quando eu e meus amigos encontramos nossos outros conhecidos, ao redor

A crise dos quatro anos

            Foi o ano mais ou menos. Não é só disso que eu vou me lembrar, mas acho que aqui e agora, é a melhor definição que eu poderia dar. Diziam que seria o ano mais difícil. O ano em que realmente descobriríamos exatamente o que estamos fazendo aqui, o que queremos disso tudo, e o que vamos fazer com isso. Pois mentiram, porque eu ainda não sei.             Eu sei que estou cansado. Meu Deus, como estou cansado! Cansado de levar bolos de pacientes, de fazer relatórios na clínica, de entregar trabalhos que não substituem provas, de obrigar meu corpo a assistir aulas porque a mente ficou em casa... Cansado de emprestar livros na biblioteca pra usar no relatório, no projeto, no TCC. TCC... TCC é algo que não me assustava tanto assim. Provavelmente porque, assim como o real tamanho da faculdade (que eu ainda não conheço por inteira) e a profundidade da psique humana, eu não tinha muita noção do quanto se tratava de um trabalho tão grande. Horas e horas de escrita, revisão, esc

Relacionamentos imaginários III

            Eu desisto . Como se as pessoas já não fossem difíceis o bastante de se entender em seu habitat natural, com suas coisas, suas neuroses, seus problemas, seus parentes e suas contas pra pagar, conceber a união entre dois seres igualmente disfuncionais e provavelmente semelhantes em seus desajustes e incoerências é demais pra mim. Talvez esteja cedo demais na minha vida para decretar uma opinião concreta sobre isto, muito menos duradoura ou perpétua, mas eu cansei. E não é porque eu não tenho nada de mais acontecendo na minha vida ultimamente a não ser pelas provas do último bimestre, os currículos que estou entregando por aí pra tentar colocar toda a psicologia que eu aprendi nos últimos quatro anos em prática, e a perna machucada que está começando a querer me motivar a andar sozinho de novo, porque tudo isso não deixa de ser importante e consumidor também. Mas eu desisto. Eu cansei. Existem vezes em que eu ainda consigo quase assimilar o sentido que algumas pessoas atr

O dia seguinte

              A verdade é que nós morremos um pouco todos os dias, de um jeito ou de outro. Nos só não pensamos muito nisso porque, bem, não dá tempo. Entre tentar lembrar de tudo que você precisa comprar no mercado quando sair do trabalho e passar por lá pra ir pra casa, pra depois sentar em frente ao computador e tentar se concentrar para fazer um trabalho ou terminar aquele relatório de estágio, e ainda retornar a ligação da sua mãe que você não ouviu porque o trânsito estava muito barulhento, sem esquecer de avisar os seus amigos de que você já chegou em casa e dali meia hora eles já podem passar pra te buscar para vocês saírem... É, não dá tempo. E mesmo que dê tempo, ninguém realmente considera isto como algo tão sólido quanto a louça suja ou a roupa pra passar. Nós sabemos que vai acabar, uma hora ou outra, mas não temos muita noção quanto a fato de que pode ser amanhã, ou de que poderia ter sido Segunda-Feira.             Mas nós ficamos doentes e elaboramos lutos todos