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Porque eu sei que é amor

Eu cansei de falar de amor. Sério mesmo. Depois de anos escrevendo sobre esperança, sonhos, desilusões, paixão, desencontros, relacionamentos imaginários e centenas de lágrimas, sinceramente eu cansei. Acho que essa parte de mim – o cara que costumava acreditar que a hora certa chegaria, que o amor vem quando a hora e a pessoa forem certas para chegar... Ter esperança é ótimo, de verdade, mas ninguém comenta sobre o quanto é cansativo. Nem sobre o quanto é desgastante, esperar por tudo e acabar muitas vezes sem nada. E o pior é que eu nem deveria estar reclamando; depois de cinco meses dentro de 2013, eu deveria estar mais agradecido por todas as experiências que já tive até agora, do que os fracassos cujos quais protagonizei e fui autor solo e, definitivamente, frustrado e insensato, sempre esperando por mais até quando não havia motivos para questionar a felicidade que habitava em mim. Isto é, até ela partir, e levar consigo o “pouco” que eu considerava pouco para longe, e me deixar com a infame satisfação de reclamar do nada que restou. Por nada.
Às vezes eu penso que não sirvo para estar com alguém, ou com quaisquer outras pessoas por sinal. Porque ficar sozinho é mais fácil; sem ter que se preocupar em lidar com os problemas, as opiniões, os sentimentos, os maus-entendimentos de outra pessoa. Sem o caos que surge através das relações com outras pessoas, a vida parece mais fácil. Quer dizer, se não fosse pela solidão que toma conta. Ficar sozinho parece mesmo mais simples; não que isto acabe com todas as neuroses e os fantasmas que me assombram, mas pelo menos eu não estaria misturando-os com os de outra pessoa, e nem incomodando alguém com a existência deles.
É, ficar sozinho é bem mais fácil mesmo. Só não é tão bom assim, nem tão recomendável, porque uma hora ou outra você vai precisar de alguém por perto para te mandar calar a boca, parar de chorar, crescer e amadurecer, e sair para enfrentar o mundo de novo. Porque ele não vai parar de girar só porque você cansou, ou porque você pensa que não faz mais parte dele. Outras pessoas ainda precisam de você, mesmo que você imagine o contrário. Outras pessoas sentem a sua falta, mais cedo ou mais tarde, mesmo quando algum convite para sair não chega aos seus ouvidos, ou o barulho de novas mensagens do seu celular se cala, e a simples solidão pela qual você tanto esperava de repente se torna pesada demais para você carregar sozinho.
Assim como eu penso que ficar sozinho seria o melhor a ser feito para todos nós, às vezes eu sinto falta de alguém. Alguém para assistir filmes junto. Para dar as mãos, e realizar favores, e para comprar flores, e para trocar beijos sem motivo algum a não ser pelo fato de que ela está ali comigo. Para ter um destinatário para mandar mensagens infames, só porque eu achei algo engraçado e precisava compartilhar com alguém. Para receber um “bom dia” e um “boa noite” quando o mundo esfria demais e falha em trazer o carinho e o afeto que nós precisamos tanto para continuar sobrevivendo. Para continuar lutando, trabalhando, estudando, caminhando... Para dormir bem, no fim das contas, e ter algo para rever quando acordamos. Eu cansei de falar de amor. De verdade. Mas, ah... Como é bom.
E aí você cai nessas de ficar em casa um, dois, três dias, até duas semanas se passarem e você perceber que não sabe mais o que está acontecendo com os seus amigos. Até perceber que não sabe como é mais receber a luz do sol nos olhos, ou escutar a risada de alguém do seu lado.Ou como é fazer rir, e sorrir por isso também... Acho que são momentos auto-destrutivos pelos quais todos nós passamos. Ou, pelos quais só os melhores de nós passamos. Pelo menos, é nisso que eu preciso acreditar se eu quiser acordar amanhã um pouco mais esperançoso de novo. Um pouco mais sorridente de novo, a ponto de acreditar que tudo isso é besteira. Que não tem essa de não achar ninguém, ou de que é melhor ficar sozinho para evitar toda a trabalheira e o cansaço que, bom, a vida em si exige de nós.
E então eu decidi recomeçar pelas pequenas coisas; pelos deveres atrasados que eu precisava dar atenção, pelos relatórios que eu precisava escrever, as listas de compras de mercado que eu precisava honrar, a poeira dos móveis que eu precisava tirar, e o amor em mim que eu precisava reencontrar. Senão por alguém ou alguma coisa, pelo menos por mim mesmo. Sabe, porque o amor é assim mesmo; começa com a gente e só com a gente, e depois cresce a ponto de cativar outra pessoa, que cativa outra pessoa em outro lugar, até alcançar outro lugar mais longe ainda... Até tudo isso criar vida própria e te salva de desistir de si, enquanto tantas outras pessoas ainda contam com você para continuar rindo.
Eu tenho momentos de fraqueza. De solidão e auto-destruição, onde as neuroses tomam conta e é preciso fechar todas as cortinas, portas e redes sociais, para tentar reencontrar meu caminho de volta à esta vida. Talvez eu ainda siga tropeçando um pouco, mas é preciso começar de algum jeito e se eu errar ou disser algo sem pensar, me desculpe. Não estou mais acostumado com pessoas ou lugares, ou qualquer coisa que me faz feliz. Mas eu vou chegar lá de novo; eu sempre chego. Por mais que eu canse do amor às vezes, eu nunca realmente desisto. Senão não haveriam mais palavras nem pessoas ao meu redor para contemplar a minha vida. Nem que seja só por um Domingo de cada vez.

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