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Dois anos depois


730 dias, aproximadamente 2000 músicas, e inúmeros dramas é o que resumem minha estadia em Cascavel desde o dia em que decidi iniciar uma nova fase em minha vida, um novo começo em uma nova cidade, sem saber exatamente o que esperar mas com certos planos traçados e uma única meta: me apaixonar. Claro, nenhum dos planos deu certo, não haviam expectativas e cada dia trazia consigo uma nova leva de surpresas cujas quais querendo ou não era preciso encarar, como o primeiro emprego, ou o primeiro dia de aula da faculdade, ou a saudade intensa de Londrina e tudo que deixei para trás com esperança de que aqui encontrasse tudo que estava procurando e mais, inclusive ser feliz.

Como eu já disse aqui, é preciso anos para transformar uma simples casa em um lar; é preciso que cada canto possua lembranças, que cada detalhe ao redor das paredes tenha uma história para contar, mas principalmente que haja vida ali, e de preferência alguém para nos desejar “boa noite”. Eu me lembro da primeira noite em que passei em meu apartamento; 17 anos e morando sozinho, cometi todos os erros clássicos, alguns dos quais ainda tento corrigir até hoje, como não saber bem limpar a casa, ou priorizar certos itens em uma lista de compras, ou não ter nada para oferecer à visitas que não tenha pelo menos 10% de álcool em seu conteúdo. Mas a primeira noite foi uma das piores; o apartamento estava praticamente vazio, não havia moveis e nem ao mesmo muitos vizinhos por perto. É um sobrado de dois andares com quatro apartamentos em cada, e nem sabia quem poderia estar morando acima ou ao lado. Mas a vida sempre dá um jeito de nos mostrar que tudo acontece por um motivo, mesmo que na hora não saibamos ao certo qual é.

E assim como levou anos para transformar minha casa em um lar, também demorou anos para que eu aprendesse a distinguir morar sozinho de viver sozinho; esta pessoa corajosa e incansavelmente esperançosa é chamada de “solteiro”, uma espécie em extinção ultimamente uma vez que solteiros sentem aflição ao admitirem que não moram ou vivem com alguém, tampouco se sentem bem apenas consigo mesmos. Mas também leva anos para que encontremos alguém com quem tenhamos vontade de dividir não somente um teto, mas uma vida.

O tempo também nos ensina que é preciso saber distinguir com quem podemos dividir nossas alegrias ou tristezas, lágrimas ou agonias, e com quem não devemos. E esta pessoa, bem, é chamada de “amor”, por mais que não a tenhamos encontrado ainda. Viver aqui hoje é bem diferente do que eu costumava pensar que seria; estou feliz, apesar dos apesares, e até mesmo feliz por estar feliz. Muita coisa aconteceu por aqui; algumas lembranças boas, outras nem tanto, mas todas inesquecíveis. O sonho de desesperadamente voltar para Londrina parece distante, mas ainda é uma promessa que pretendo cumprir assim que sentir que está na hora de deixar Cascavel para trás e tudo que esta cidade tem para me oferecer. Enquanto isso, vou aproveitar a jornada com todos os nasceres e pores do sol, e todos os dias frios de céu azul que estão por vir; temos tão pouco deles para deixar passarem em branco.

Estranho, mas quando chego em casa, mesmo dois anos depois, é sempre como se fosse a primeira vez. Só que dessa vez não há mais medo ou culpa, ansiedade ou expectativas; não importa o que aconteça, você vai adorar o amanhã.

Meu nome é Igor Costa Moresca, e eu vivo em Cascavel.

Ao som de: Home – Kristin Chenoweth.

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